Título: Prisões expõem CIA
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 16/06/2011, Mundo, p. 28

Paquistão detém informantes que ajudaram a agência de inteligência dos EUA a rastrear Bin Laden

Se um filme da história do Polo de Cinema de Sobradinho fosse produzido, certamente a película seguiria o gênero drama e apresentaria uma série de imperfeições e ranhuras na imagem. Em 2011, o polo completa 18 anos de inauguração ainda sem fôlego. A situação de sucateamento das instalações em Sobradinho mantém-se crítica. Entre vários problemas, a estrutura do telhado do único estúdio está apodrecida e pode desabar ameaçando equipamentos e parte de um pequeno acervo armazenado no local. Os vazamentos no telhado já destruíram cenários de duas produções brasilienses. A deterioração da estrutura física do Polo de Sobradinho é apenas a parte visível do estado em que se encontra a política cultural no Distrito Federal.

Enquanto isso, em Paulínia, cidade do interior de São Paulo, o esquema produtivo criado pelo governo desperta interesse entre a comunidade cinematográfica nacional. A cidade tem população próxima dos 85 mil habitantes e exibe uma das melhores infraestuturas para produções cinematográficas do país, com quatro estúdios montados e apoio incondicional, dinheiro vindo em grande parte dos royalties do petróleo recebidos pela prefeitura.

O contraste, cada vez maior entre os dois, pode suscitar comparações entre as gestões dos polos de cinema no país, o daqui e o de lá. "Quem tem um polo de verdade é Paulínia. Nós temos um projeto de polo que, na minha avaliação, nunca saiu do papel", avalia José Delvinei Santos, subsecretário de patrimônio histórico, artístico e cultural, área que engloba a diretoria de cinema e audiovisual da Secretaria de Cultura do Distrito Federal.

A criação do Polo de Cinema de Paulínia, em 2006, foi motivada por um fator econômico. A economia da cidade é praticamente dependente da existência de um riquíssimo polo petroquímico na região. O governo municipal precisava encontrar alternativas para geração de postos de trabalho em atividades diferentes. Uma das alternativas foi o investimento maciço de capital advindo do petróleo na indústria do entretenimento. "A cidade tem problemas graves para dispor de economia sustentável. Não existiam alternativas para que fossem instalados outros segmentos econômicos além do petroquímico e acreditávamos que um arranjo produtivo para o audiovisual poderia suprir essa falta", explica o secretário de Cultura do município de Paulínia, Emerson Alvez.

Incentivo As facilidades oferecidas na cidade paulista tem atraído realizadores veteranos e estreantes. A diretora Lúcia Murat (Brava gente brasileira) está rodando o longa Sala de espera, com participação no elenco do ator italiano Franco Nero. O ator Selton Melo rodou o segundo longa como diretor, O palhaço, em Paulínia. Ambos conseguiram patrocínio de um programa de incentivo à produção de longas e curtas-metragens nacionais do Polo de Paulínia que distribui R$ 9 milhões, anualmente, por meio de edital. No DF, o FAC distribui R$ 34 milhões para ser dividido com todas as expressões artísticas.

Em 2009, foram feitas modificações no concurso para proteger o mercado cinematográfico da região. Por exemplo, os contemplados no edital paulista devem prever parte das filmagens em Paulínia e cidades próximas, metade do valor recebido do governo municipal deve ser gasto com mão de obra e serviços oferecidos no município e profissionais da região têm de ser contratados pelas produções. Outra das exigências vincula produção com exibição. Os filmes contemplados pelo edital têm de ter estreia necessariamente feita nas instalações do Theatro Municipal de Paulínia.De preferência, durante o festival da cidade. Este ano, das sete produções selecionadas para a edição que acontecerá entre 7 e 14 de julho, cinco foram rodadas lá.

Os Estados Unidos insistem na solidez da aliança com o Paquistão. No entanto, um novo incidente ligado à operação que matou o terrorista Osama bin Laden, em 2 de maio passado, lançou mais desconfiança sobre uma relação já conturbada. Uma autoridade paquistanesa ligada ao setor de segurança declarou ao jornal The Washington Post que "entre 35 e 40 pessoas foram presas em todo o país", sob a suspeita de terem trabalhado como informantes para a CIA ¿ a principal agência de inteligência dos EUA. Entre os detidos pelo serviço secreto ISI, estão um major do Exército paquistanês que teria anotado as placas dos carros que estiveram no casarão usado como o refúgio de Bin Laden, em Abbottabad, a 60km de Islamabad. Quatro moradores também foram capturados pelo ISI, por terem emprestado sua casa à CIA, perto do esconderijo do líder da rede Al-Qaeda. Dali, os agentes monitoraram o extremista. Em nota oficial, o principal serviço secreto do Paquistão repudiou a denúncia. "A história é falsa e sem fundamento", afirmou o ISI.

De acordo com o The New York Times, o paradeiro dos informantes presos é desconhecido. O jornal revela que o diretor da CIA, Leon E. Panetta, tratou desse tema com autoridades militares e do setor de inteligência. Ele, inclusive, teria dado uma nota 3, num total de 10, à cooperação do Paquistão com os EUA no combate ao terrorismo. Moradores de Abbottabad consultados pelo Correio desconhecem as detenções e até duvidam que Bin Laden tenha sido morto na cidade pelos Seals, os integrantes das forças especiais Seals (leia os depoimentos). O paquistanês Ahmed Tamjid Aijazi, jornalista do Hurriyat News (em Karachi), não acredita em mudanças drásticas no tratamento dispensado por Washington a Islamabad. "A relação entre os dois governos tem se baseado sempre na desconfiança", comenta. "Nós e os norte-americanos claramente temos interesses distintos. Enquanto os EUA buscam se proteger do terrorismo, o Paquistão tenta preservar a integridade nacional e os cidadãos, tanto dos terroristas como de ações criminosas dos Estados Unidos", acrescenta, por e-mail.

Para Ahmed Aijazi, um paquistanês que trabalhe para a CIA ou para qualquer agência de segurança estrangeira é passível de punição, por violar os interesses de seu país. "Os EUA não permitem que qualquer agente da CIA seja contratado por uma agência russa. O mesmo vale nesse caso", comenta. O francês Jean-Charles Brisard, advogado de familiares das vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001, tem opinião diferente e alerta que Islamabad só tem "muito a perder" com tal "atitude ilógica". "As prisões são uma tentativa do governo do Paquistão de mostrar que investiga denúncias sobre uma suposta proteção recebida por Bin Laden. "Se ficar confirmado que o Paquistão deteve fontes da CIA, a já complicada relação com os EUA vai tensionar ainda mais", aposta, em entrevista pela internet. "Trata-se de outro exemplo de contradição do Paquistão em relação ao islã radical."

"Nós temos uma relação forte com nossos homólogos paquistaneses, e trabalhamos nas dificuldades quando elas se apresentam", garante Mark Toner, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano. Husain Haqqani, embaixador do Paquistão nos EUA, disse ao New York Times que a CIA e a ISI "trabalham em conjunto na luta contra a ameaça do terrorismo".

Bombardeios Dois bombardeios de aviões teleguiados dos EUA mataram oito pessoas em áreas tribais do noroeste do Paquistã. O primeiro ataque ocorreu no Waziristão do Sul, na fronteira com o Afeganistão. Dois mísseis atingiram um carro perto da cidade de Wana, matando os quatro ocupantes. O segundo bombardeio destruiu outro automóvel, no Waziristão do Norte. Quatro supostos islamitas foram mortos.

Mergulhador vai buscar corpo Ele pagará o equivalente a R$ 633 mil para encontrar o corpo de Osama bin Laden e obter a primeira evidência fotográfica de que o líder da rede Al-Qaeda está morto. O norte-americano Bill Warren, de 59 anos, alugará um navio na Índia e um submarino operado remotamente. "Estou fazendo isso porque sou um patriota, que deseja saber a verdade", afirmou ao jornal The New York Post. "Eu faço isso pelo mundo." Dono de uma empresa de mergulho especializada em salvamentos, na Califórnia, Warren espera começar a missão no próximo mês. Ele admite que sua tarefa será "como procurar uma agulha em um palheiro". O corpo de Bin Laden teria sido lançado ao Mar da Arábia, depois de um ritual fúnebre a bordo de um porta-aviões dos Estados Unidos, em 2 de maio.