O senador Aécio Neves (PSDB-MG) — que tivera uma recepção de popstar na terça-feira, ao chegar ao Congresso Nacional — assumiu ontem de vez o papel de líder da oposição ao governo Dilma Rousseff (PT). Durante evento com os partidos que lhe deram apoio no segundo turno das eleições presidenciais, Aécio anunciou a criação de uma comissão técnica, que será dividida em até 10 áreas temáticas, para fiscalizar mensalmente as metas prometidas e as ações do governo. À tarde, no primeiro discurso na tribunal do Senado, condicionou o diálogo com o Palácio do Planalto às “investigações profundas do escândalo do petrolão”, em referência à corrupção na Petrobras.

A comissão de acompanhamento funcionará em parceria com o Instituto Teotônio Vilela (ITV) e vai verificar de perto as ações nos setores de infraestrutura, área social e economia, entre outros. “Serão técnicos gabaritados, a exemplo do que já fazia o DEM e que começamos a fazer durante a nossa campanha eleitoral, que colherá dados e números para municiar nossa bancada de oposição na Câmara e no Senado”, explicou Aécio. Ele adiantou que a parte econômica será conduzida pelo ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.

À tarde, em seu primeiro discurso no plenário do Senado, diante de uma assistência composta, na maioria, por parlamentares da oposição, Aécio Neves criticou duramente o governo federal e a proposta de diálogo feita pela presidente Dilma Rousseff na semana passada. “Os que foram intolerantes por 12 anos agora falam em diálogo. Mas qualquer diálogo será condicionado especialmente ao aprofundamento das investigações e exemplares punições daqueles que protagonizaram o maior escândalo de corrupção do país, conhecido como petrolão”, disse.

O tucano respondeu às declarações de Dilma de que é o momento de “desmontar os palanques” e que é preciso “saber ganhar e saber perder” (leia mais na página 6). “Não estou questionando a vitória de Dilma, mas também é hora de ela voltar a governar o Brasil depois de três meses de ausência para a campanha, porque a situação não está nada boa.”

Inflação
Aécio lembrou que, ao longo da campanha, por diversas vezes, foi cobrado pela presidente Dilma sobre as possíveis medidas amargas que tomaria caso fosse eleito presidente da República. “As medidas amargas estão aí, tomadas pelo próprio governo. A máscara começa a cair. Três dias depois das eleições, o Banco Central aumentou a taxa de juros. E já discute o aumento do preço dos combustíveis e da energia elétrica, que estavam represados”, provocou o senador mineiro, lembrando que o aumento na taxa Selic foi tomada para combater uma inflação “negada pela presidente durante a campanha eleitoral”. 

“Na campanha, eles diziam que elevar os juros era tirar comida do prato dos pobres, pois bem, foi o que ela fez logo que se elegeu. O governo escondeu o rombo das contas públicas o quanto pôde. Escondeu, reiteradamente, que havia necessidade de ajustes e agora antecipa que eles serão duríssimos no ano que vem, em um país que já não cresce.” E acrescentou: “Quem falou a verdade foi taxado de pessimista, de ser contra o Brasil. Mas a história rapidamente mostrou o contrário”, reforçou.

Para Aécio, essa situação, mais uma vez, comprova o apetite dos petistas em se manter no poder. “Toda a vez que é necessária a escolha entre o PT e o governo, eles escolhem o PT, e o Brasil sai perdendo”, criticou o senador mineiro. “Cumpriram com as palavras ditas pela presidente de que eles fariam o diabo para ganhar as eleições. Garanto que o próprio diabo se envergonharia de algumas ações tomadas por eles”, ironizou, reforçando ser contra a regulação da mídia e o decreto que cria os Conselhos Populares, já rejeitado na Câmara e que, segundo ele, terá o mesmo destino no Senado.

"As medidas amargas estão aí, tomadas pelo próprio governo. A máscara começa a cair. Três dias depois das eleições, o Banco Central aumentou a taxa de juros. E já discute o aumento do preço dos combustíveis e da energia elétrica, que estavam represados”
Aécio Neves, senador do PSDB-MG

 

Oposição reforça unidade

 

No evento dos partidos que apoiaram o senador Aécio Neves (PSDB-MG) no segundo turno das eleições presidenciais, o ex-senador e prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB), foi um dos mais aplaudidos ao comparar o parlamentar tucano e a presidente Dilma Rousseff. "Enquanto o suposto derrotado é celebrado todo dia, a suposta vitoriosa se enclausura no mausoléu", disse ele, que elegeu o filho para deputado federal e foi fundamental na reeleição de José Melo (Pros) para o governo do Amazonas.
Virgílio, que a exemplo de Aécio também chamou de "bolivariano" o decreto presidencial que dá autonomia aos Conselhos Populares para interferir nas ações do governo, disse que a situação do país está tão grave que, enquanto ele e os demais integrantes da oposição podem viver os meses de novembro e dezembro, a presidente Dilma tem de estar com a cabeça em janeiro de 2015. "Ela está tão desconectada da realidade que levará para a reunião do G20 um ministro da Fazenda demissionário, demitido por ela própria", disse o prefeito manauara.

Reeleito governador do Pará, o tucano Simão Jatene disse que o momento é tão importante que não se devia perder tempo "falando deles (governo), e sim, de nós (oposição)". Jatene destacou o esforço de Aécio para se manter vivo na disputa eleitoral. "Aécio, obrigado por ter tido garra, paciência e fibra para permitir que o povo possa voltar a sonhar de novo", disse.

O presidente nacional do PPS e deputado federal, Roberto Freire, mais uma vez criticou o PT e o que chamou de métodos autoritários dos petistas para se manter no poder. Ele elegeu Aécio como a principal voz das oposições e acrescentou que a tendência é de a oposição ganhar ainda mais força. "Nós somos numerosos na sociedade. No Congresso, ainda não, mas podemos ser. E derrotaremos o PT na luta democrática", convocou Freire.

Um dos poucos governistas a apartear o senador Aécio Neves durante o discurso do tucano no plenário do Senado, o líder do PT na Casa, Humberto Costa (PE), lembrou que a presidente Dilma Rousseff foi vitoriosa. E defendeu a tese do diálogo proclamada pela presidente ao longo da semana passada. "O senhor mesmo afirmou que a presidente deve trabalhar para unir o país. E a união só se constrói com o diálogo", justificou. (PTL)

"Nós somos numerosos na sociedade. No Congresso, ainda não, mas podemos ser. E derrotaremos o PT na luta democrática"

Roberto Freire, presidente do PPS e deputado federal