Agência de classificação de risco Standard & Poor"s (S&P) poderá, a qualquer momento, rebaixar a nota de crédito do Brasil se constatar uma deterioração ainda maior na situação econômica do país. O alertafoifeitoontempeladiretora da agência de ratings soberanos para a América Latina, Lisa Schi-neller. Em março passado, devido ao aumento dos gastos públicos e ao baixo crescimento,a S&P reduziu a classificação brasileira de BBB para BBB-, último nível considerado como grau de investimento, uma espécie de atestado de que um país é um destino seguro para capitais internacionais.

"Podemos rever o rating a qualquer tempo. Não existe uma data para isso", disse Schineller, em teleconferência com investidores. Um novo corte na classificação brasileira colocaria os títulos emitidos pelo país na categoria dos "especulativos". Em termos práticos, isso significaria que o governo e empresas nacionais passariam a pagar mais caro para se financiar no mercado, o que reduziria o potencial de desenvolvimento da economia.

No fim de outubro, Schineller havia sinalizado que uma nova avaliação da nota brasileira seria feita apenas no início de 2015 levando em conta as políticas que fossem anunciadas para o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Ontem, ela reforçou que o governo precisa definir medidas para fortalecer as contas públicas, com metas claras e maior transparência, além de promover reformas para recuperar a confiança dos empresários e melhorar a perspectiva de crescimento econômico.

A economista considera que Dilma tem uma tarefa complicada pela frente, pois enfrentará um Congresso mais fragmentado e com a oposição fortalecida. No entanto, avaliou que o país tem instituições políticas fortes, um fator que deverá contribuir para limitar a deterioração das contas fiscais. Outras agências manifestaram preocupação com o aumento do deficit público do Brasil, que, em setembro, alcançou R$ 25,5 bilhões, o pior da série histórica. A Moody"s, recentemente, mudou a perspectiva do país para"negativa".

Limites

Para a diretora da S&P, Dilma pode ser forçada a controlar os gastos do governo no segundo mandato por pressões da oposição e da comunidade de negócios. "Há limites para deslizes fiscais", observou. Um dos fatores que serão levados em conta pela agência ao avaliar a economia brasileira é a possibilidade de cortes de energia nos próximos meses, caso as chuvas não sejam suficientes para recompor os reservatórios das hidrelétricas. "Interrupções no fornecimento aumentam o risco de recessão no país. Além disso, a ajuda que o governo deu ao setor prejudica o quadro fiscal", destacou Schineller.

A diretora comentou ainda o fato de Dilma não ter escolhido o novo comandante da equipe econômica, depois de ter anunciado que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não permanecerá no cargo. A indefinição tem provocado instabilidade no mercado financeiro."Mais que um nome, é preciso saber quais políticas serão adotadas por ele e pela sua equipe para restaurar a confiança do setor privado", disse.

Dólar sobe para R$ 2,51

 

 

A indefinição sobre o aumento dos combustíveis e o resultado trimestral do Banco do Brasil (BB) fizeram a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa)caminhar ontem na direção contrária dos mercados internacionais e fechar em baixa de 1,26%, aos 53.698 pontos. Já o dólar seguiu a tendência do exterior e teve a quarta sessão consecutiva de alta: a moeda subiu 0,46% e terminou o dia cotada a R$ 2,508 para venda.

Na Bovespa, as perdas foram lideradas pelas ações do BB, que tiveramqueda de 7,9%, depois de terem subido 5% no dia anterior. “O mercado havia comprado uma expectativa que não se traduziu nos números”, disse o analista da Guide Investimentos Luis Gustavo Pereira. Excluindo efeitos não recorrentes, o lucro do Banco do Brasil foi de 2,885 bilhões de reais, abaixo da previsão de analistas.

Moedas
As ações preferenciais e as ordinárias da Petrobras recuaram quase 3%, depois que a estatal frustrou investidores ao não anunciar o aguardado reajuste nos preços da gasolina e do diesel, embora já tenha recebido o aval do governo para a medida.

No mercado de câmbio, o avanço do dólar veio na sequência do bom desempenho dos republicanos nas eleições parlamentares nos Estados Unidos, que estimulou a compra de ativos norte-americanos em todo o mundo. “Os republicanos têm uma visão pró-mercado e isso faz os investidores precificarem políticas mais favoráveis”, disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.

 

Pressão do BNDES

 

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pode reduzir os financiamentos nos próximos meses se o governo não injetar até R$ 30 bilhões na instituição ainda neste ano. Embora possa elevar a capacidade do banco de emprestar ao setor privado, o movimento prejudicaria ainda mais as finanças públicas em um momento que a presidente Dilma Rousseff está sob pressão para cortar gastos e recuperar a confiança de investidores.

Sem a injeção de capital, o BNDES poderia ser forçado a “reter uma quantidade significativa de desembolsos a curto prazo”, disse à Reuters uma fonte com conhecimento do assunto. “O número de R$ 30 bilhões está sob consideração, mas não há certeza se o montante será liberado.”

O governo reconhece o problema nas contas públicas, mas a presidente quer evitar que uma redução do papel do banco prejudique ainda mais o crescimento da economia, que entrou em recessão técnica no primeiro semestre. No governo Dilma, o BNDES emprestou mais de R$ 570 bilhões a taxas subsidiadas, financiados principalmente pela venda de títulos do Tesouro, o que causou um salto na dívida pública.

As agências de risco podem rebaixar o Brasil devido à piora fiscal. A diferença entre a taxa que o Tesouro paga para financiar o BNDES com títulos públicos (Selic) e os juros cobrados nos financiamentos do banco (TJLP) chegou a 6,25%, custando R$ 35 bilhões por ano aos contribuintes.