DOHA - A presidente Dilma Rousseff procurou minimizar nesta quarta-feira, 12, o mal-estar no governo pela maneira com que a ex-ministra da Cultura, Marta Suplicy, deixou o cargo. Ao desembarcar em Doha, no Catar, a presidente disse que já sabia do conteúdo da carta de demissão de Marta, na qual ela cobra para o novo mandato de Dilma uma equipe econômica "independente", que "resgate a confiança e credibilidade" do governo.

As críticas da ex-ministra foram recebidas com surpresa no Palácio do Planalto e Dilma foi informada em pleno voo entre Brasilia e a capital do Catar sobre o conteúdo do texto.

"Eu sabia do conteúdo da carta. Nós acertamos isso antes", afirmou Dilma, para quem a demissão de Marta foi acordada há um mês. "Ela não fez nada de errado. Não teve atitude incorreta. Apenas externou uma opinião dela."

Apesar da tentativa da presidente de minimizar o constrangimento com a atitude de Marta, fontes do governo manifestaram surpresa com o tom do documento e com o fato de ele ter sido entregue à Casa Civil quando Dilma já estava fora do Brasil. A saída da petista de fato já era prevista, mas as críticas à condução do governo, em especial na economia, foram interpretadas como uma sinalização de que a ex-ministra, magoada com o PT, quis demarcar espaço.

Outra interpretação é que Marta, com o gesto, explicitou o desejo de entrar na disputa pela Prefeitura de São Paulo em 2016 - o que contraria a cúpula do PT, que prefere apostar na reeleição de Fernando Haddad -, nem que para isso tenha de deixar a sigla.

Nesta quarta, em Brasília, o vice-presidente Michel Temer chegou a ser questionado sobre a possibilidade de a ex-ministra ingressar no PMDB. O marido de Marta, o empresário Márcio Toledo, é amigo de Temer. "Não sei ainda", se limitou a dizer o vice-presidente.

Também na capital federal, o senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG), ironizou as afirmações da ex-ministra e do chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho - que em entrevista à BBC esta semana disse que a presidente dialogou pouco com a sociedade e se afastou dos "principais atores na economia e na política" nos últimos quatro anos. "Concordo com a Marta, com o Gilberto Carvalho. Estou concordando em tudo com os ministros da Dilma", afirmou o tucano, que foi derrotado por Dilma no 2.º turno da eleição presidencial.

Dilma, em viagem para a reunião do G-20, na Austrália, desembarcou nesta quarta em Doha para uma parada técnica, seguida de encontro oficial com o emir do Catar, xeque Tamim bin Hamad Al Thani e com a xeica Moza bint Nasser, além de uma visita à Fundação Catar.

Reforma ministerial. A presidente evitou falar em datas para reforma ministerial prevista para o segundo mandato. "Não vou fazer a reforma imediatamente", afirmou. "Vou fazer por partes." Questionada sobre a possibilidade de começar as mudanças quando retornar do encontro do G-20, na terça-feira, ela foi categorica: "Nem pensar. Não tem reforma na terça. Não dá tempo."

Dilma ainda ironizou especulações noticiadas com base no Palácio do Planalto. "Palácio não fala. É integrado por paredes mudas. Só quem fala sobre reforma é esta modesta pessoa que vos fala." 

PDT condiciona permanência no Trabalho ao aumento de verbas

BRASÍLIA - O presidente nacional do PDT, ex-ministro Carlos Lupi, cobrou ontem do governo Dilma Rousseff o "fortalecimento" do Ministério do Trabalho, pasta que seu partido ocupa desde o governo Luiz Inácio Lula da Silva. O atual titular, Manoel Dias, entregará o cargo na terça-feira, conforme orientação da Casa Civil do Palácio do Planalto. Poderá, porém, ser reconduzido ao cargo. Entretanto, Lupi condiciona a volta ao reforço de programas ligados ao Trabalho. Na prática, quer mais verbas.

"Para continuar no ministério, ele precisa ter suas políticas fortalecidas para chegar na ponta da sociedade", afirmou.

A reestruturação reivindicada pelo PDT já foi apresentada a Dilma. "Eu pessoalmente já falei para ela que o ministério precisa ser fortalecido", disse o presidente do partido. "Do jeito que está (o ministério), nem ele vai querer ficar", disse Lupi, referindo-se ao atual titular do Ministério do Trabalho.

O presidente do PDT afirmou que não pretende voltar para o cargo em 2015, caso o ministério permaneça sob comando da legenda. Lupi foi afastado da pasta em 2011, depois que a Comissão de Ética Pública da Presidência da República recomendou sua exoneração por envolvimento em um esquema de propina para a liberação de recursos do ministério para ONGs. "Sou carta fora do baralho", afirmou. "Já fui lírio do campo e hoje sou tiririca do brejo."

Bloquinho. A Executiva Nacional do PDT, deputados, senadores e governadores eleitos pela legenda aprovaram ontem a formação de um bloco parlamentar ao lado do PROS e do PC do B na Câmara dos Deputados.

Lupi não descarta a possibilidade de o bloco gerar uma fusão entre os partidos no futuro. O deputado Paulo Rubens (PE) calcula que o bloco pode ter de 40 a 50 deputados a partir de 2015. Os três partidos terão, somados, 40 deputados. Mas Rubens afirma que já há conversa com setores do PTB.