As indefinições da reforma ministerial, as pressões do PT e dos partidos de esquerda para dar um tom mais progressista ao segundo mandato, e as movimentações do PMDB — e de outras legendas — para recriar o blocão anti-Planalto na Câmara levaram a presidente reeleita Dilma Rousseff (PT) a pedir ajuda ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os dois se reuniram na noite de ontem, na Granja do Torto, para tentar amenizar as turbulências que se avolumam diante do palácio.

A presidente recebeu, na manhã de ontem, o governador do Ceará, Cid Gomes (Pros) — cotado para ser o próximo ministro da Educação, embora mantenha o desejo de se tornar consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) — e o governador eleito do estado, Camilo Santana (PT). Ele articula a criação de uma frente alinhada com os partidos mais voltados à esquerda na expectativa de atenuar a pressão que o governo vem sofrendo, especialmente do PMDB da Câmara. Após encontro com Dilma, Cid disse que é fundamental que a petista possa ter, além do PT, dois partidos ou frentes fortes que possam ajudá-la na governabilidade. “Penso que esse movimento, de ter uma frente ou um partido de centro para além do PMDB e um partido ou frente à esquerda, ajuda na governabilidade e reduz o espaço da pressão que muitas vezes beira até a chantagem”, explicou.

A sugestão do governador é seguir a ideia do presidente PSD, Gilberto Kassab, que tem conduzido a criação do Partido Liberal, composto de um grupo mais alinhado com a direita para integrar a base do governo. No caso de Cid, a proposta inclui atrair governadores de partidos como PDT, PCdoB e insatisfeitos de legendas como PSB e até PSol. “A criação de uma frente na Câmara tem que ser discutida para que a gente aprimore e veja a melhor estratégia. O melhor, para mim, seria, inicialmente, compor a frente e que ela possa evoluir, na sequência, a um partido novo, que resulte da fusão de algumas legendas”, disse o governador do Ceará. Para ter peso político, o ideal, segundo o governador, é que a frente tenha pelo menos 10% dos deputados da Câmara e conte com atuação no Senado.

Rebeldes
Na Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) deu sequência ontem às articulações em torno do apoio ao seu nome na disputa pela presidência da Casa. O parlamentar reuniu líderes dos partidos do chamado blocão para um almoço no apartamento funcional dele em Brasília. “Eu comuniquei a eles que a minha bancada havia me autorizado a dar início a essas conversas”, explicou Cunha, dizendo ainda que “foi boa a receptividade” entre os líderes.

Ao longo do dia, parlamentares petistas mandaram recados a Cunha. “Do mesmo jeito que há conversas do lado de lá, há do lado de cá também”, disse o deputado José Guimarães (PT-CE), após reunião da bancada. “Tem muita gente também que está conversando conosco... Inclusive do PMDB... Inclusive o Henrique”, disse ele, referindo-se ao atual presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). O mesmo tom foi adotado momentos antes pelo líder do governo, Henrique Fontana (PT-RS). “Tem muitas reuniões que não estão divulgadas na mídia, tem candidaturas que divulgam, outras que trabalham de forma mais reservada. Tem muita água para passar debaixo da ponte.”

PSB na disputa
O PSB estuda lançar candidatura própria para disputar a presidência da Câmara contra candidatos do PT e do PMDB. O partido analisa a indicação do deputado mineiro Júlio Delgado para uma nova tentativa de comandar a Casa, a exemplo de 2012. Líder do PSB na Câmara, o deputado Beto Albuquerque (RS), que concorreu à Vice-Presidência na chapa com Marina, reforçou a intenção do partido de buscar novo protagonismo na Casa. “O Júlio Delgado já foi candidato, teve uma grande votação na última eleição e pode vir a ser o candidato do PSB” No Senado, o PSB deve seguir independente do governo, mas como uma oposição “saudável”. Uma reunião da Executiva da sigla no fim do mês cravará a posição oficial, assim como o posicionamento da bancada na disputa pela presidência do Senado.

Diretor é condenado

 

 

A Justiça Eleitoral condenou o diretor regional dos Correios em Mato Grosso, Nilton do Nascimento, pelo uso indevido do cadastro de funcionários da empresa em cartas com pedidos de voto à reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). As correspondências foram encaminhadas aos 1.700 funcionários da empresa no estado. Nelas, Nascimento dizia que o Brasil precisava “avançar mais” e que somente a vitória da petista poderia “ampliar os programas sociais e econômicos”. “Pedi o seu voto em 2010 e conquistamos muito. Isso só foi possível graças ao seu voto para o governo do PT”, disse o diretor, em um dos trechos. 

Em representação protocolada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), o sindicato dos servidores dos Correios denunciou Nascimento por suposto uso irregular do banco de dados funcional da entidade. Em nota divulgada na ocasião, o diretor disse que enviou as correspondências “na condição de cidadão”, sem uso da estrutura da estatal e com recursos próprios. 

À Justiça Eleitoral, Nascimento afirmou que as cartas foram endereçadas aos locais de trabalho dos servidores na capital e no interior do estado e que essas informações estão disponíveis no site dos Correios. O juiz Alberto Pampado Neto, porém, não aceitou a justificativa e o condenou a pagar multa de R$ 5 mil. Cabe recurso.