Um dia após o pedido de licença por 31 dias do presidente da Transpetro, Sérgio Machado, o governo já trabalha para encontrar um substituto. A volta ao cargo do afilhado político do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), é dada como impossível. Ontem, reservadamente, alguns peemedebistas informaram que não tinha outra saída a não ser a demissão após o período de licença. O partido, inclusive, já trabalha nos bastidores para indicar outro para comandar a subsidiária da Petrobras. Parlamentares do PT foram mais cautelosos e avaliaram que era preciso esperar a conclusão das investigações. Até lá, o diretor de Gás Natural, Claudio Ribeiro Teixeira Campos, responderá interinamente pela subsidiária. 

“A situação dele é bastante delicada. Muito difícil permanecer na presidência. Na verdade, pelo que soube, o governo pensou em demissão. No entanto, agiu com mais cautela. Há o temor de que ele possa fazer um estrago se resolver falar agora”, explicou um senador do PMDB. O afastamento de Machado atende ao pedido da consultoria PriceWaterhouseCoopers (PwC), de que só continuaria a auditoria na estatal após a demissão do presidente.

Nomeado em junho de 2003, durante a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-senador e ex-deputado filiado ao PMDB do Ceará foi citado nos inquéritos que investigam o esquema de corrupção desvendado pela Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Em depoimento ao Ministério Público Federal, o ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou ter recebido R$ 500 mil das mãos de Machado entre 2009 e 2010 para a contratação de “alguns navios”, negócio que passou pela Diretoria de Abastecimento. “Foi entregue diretamente por ele”, confirmou Paulo Roberto. 

A presença de Sérgio Machado à frente da Transpetro era vista pela PwC como empecilho para a realização da auditoria na estatal. Em carta, o gestor afirmou que não tem nenhuma ligação com as irregularidades denunciadas. “Nada devo nem temo em relação à minha trajetória na Transpetro”, disse.

Desmembramento
Em parecer encaminhado na semana passada ao ministro do Superior Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, defendeu o desmembramento das investigações decorrentes das delações premiadas da Operação Lava-Jato entre o STF e a primeira instância. A informação foi publicada na edição de ontem do jornal Valor Econômico.

Janot, de acordo com o jornal, defende investigar apenas deputados federais e senadores citados pelo delator Paulo Roberto Costa. Novos inquéritos sobre pessoas e empresas sem prerrogativa de foro ficariam sob o cuidado do juiz Sérgio Moro, que conduz as ações criminais decorrentes da Lava-Jato na 13ª Vara Federal de Curitiba.