A produção da indústria caiu 0,2% em setembro na comparação com agosto, revelou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado frustrou analistas de mercado, que esperavam ligeira alta, de 0,2%. Os produtos alimentícios lideraram a queda, com 4,1% — a principal influência foi do setor de açúcar, fortemente influenciado pela seca em São Paulo. Em seguida, petróleo e biocombustíveis, com variação negativa de 1,3%. 

A redução veio depois de duas altas seguidas, em julho e agosto. Mas o economista André Macedo, gerente da pesquisa, afirma que esses aumentos são insuficientes para salvar o ano. “Houve crescimento sobre algo que já havia caído bastante”, explicou. A indústria teve queda de produção em março, abril, junho e agosto. O resultado acumulado está negativo desde o início do ano, em 2,9% e, nos 12 meses terminados em setembro, em 2,2%.

Analistas de mercado compartilham a avaliação pessimista do resultado. “A melhora observada nos meses de julho e agosto foram pontuais e não mostraram tendência”, escreveu a economista do Banco ABC Brasil Mariana Hauer, em documento enviado a clientes. Rodrigo Miyamoto, do Itaú, destacou em seu relatório que, com a queda de setembro, a produção brasileira voltou aos níveis anteriores à Copa do Mundo.

O economista Rogério Cézar de Sousa, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) projeta queda de 2% para a indústria no ano, o que deverá ter impacto de 0,5 ponto percentual negativo na variação do Produto Interno Bruto (PIB). Sousa explica que as pequenas variações positivas ou negativas medidas pelo IBGE nos últimos meses não alteram o quadro: a indústria enfrenta problemas estruturais. “A partir da crise de 2008 e 2009, o Brasil passou a ser visto como a tábua de salvação de todos os países do mundo, que querem vender seus produtos aqui. Por outro lado, vender para outros países ficou muito mais difícil”, explicou.

Minério
A balança comercial da indústria de transformação (o que exclui commodities minerais) ficou negativa em US$ 60 bilhões, resultado que deve se repetir neste ano. Em 2013, o resultado total da balança foi positivo, graças às exportações de minérios e produtos agrícolas. Com os preços deprimidos, porém, é grande a chance de esses itens serem insuficientes para impedir um resultado negativo no comércio exterior do país.

Para o Iedi, é necessário melhorar a infraestrutura brasileira, o que permitirá reduzir os custos em termos de logística, e conseguir com que os bancos privados se disponham a oferecer financiamento de longo prazo para investimentos. 

Na pesquisa do IBGE, entre os grandes grupos, o de bens intermediários, que responde por cerca de metade da produção industrial do país, foi o que apresentou a maior queda, de 1,6%. Houve alta nos outros dois: bens de capital (1,9%) e bens de consumo (1%). O último item foi puxado pelo setor automotivo, com alta de 10,1% em agosto. Mas isso é insuficiente para otimismo, segundo Sousa, do Iedi. “Trata-se de ajuste de estoque”, explicou. Macedo, do IBGE, destacou que houve aumento em 15 dos 24 setores pesquisados, assim como em agosto. “Esse é um aspecto positivo, dentro do resultado predominantemente negativo”, comentou.


Em defesa do dólar a R$ 3

A valorização do dólar, que desde segunda-feira está cotado a R$ 2,50, ainda é considerada insuficiente como estímulo à exportação para os representantes da indústria siderúrgica brasileira. O valor considerado ideal para as empresas fazerem frente ao mercado internacional seria R$ 3, avaliou o presidente do Instituto Aço Brasil (IABr), Marco Pollo de Mello Lopes.

 

Conta de luz puxa carestia

Com o aumento da Ligth aprovado ontem pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), restam quatro companhias anunciarem os reajustes tarifários de 2014. Em meio à crise do setor energético no país, são os consumidores, na hora de pagar a conta, que arcam com a falta de chuva e de planejamento. O peso dessa escalada de altas na inflação geral é certo: para cada ponto percentual de aumento da energia, há um impacto de 0,03 ponto percentual na carestia, nada desprezível.

O reajuste médio da Light para clientes residenciais será de 17,75%, em vigor a partir desta sexta-feira. Os novos valores serão aplicados para 3,7 milhões de unidades consumidoras (residências, escritórios e indústrias, por exemplo) espalhadas por 31 municípios do Rio de Janeiro, de acordo com a Aneel. 

Até setembro, o IPC-RJ, índice de inflação medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), acumulava — em 12 meses — aumento de 8,4%, contra 6,97% para a média nacional. A alta de energia confirmada ontem deve levar o indicador local para perto de 9%. “Esse é um dos efeitos que contribui para a inflação mais alta no Rio este ano”, comentou o economista da FGV André Braz.