BRASÍLIA - A três meses da eleição do novo presidente da Câmara, o líder do PMDB, deputado Eduardo Cunha (RJ), fez uma ofensiva durante a semana para aparar arestas dentro de seu próprio partido em relação à sua candidatura ao comando da Casa. Cunha teve conversas francas com o atual presidente, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e com o vice-presidente da República, Michel Temer. Os problemas de Temer com Cunha são da época da campanha eleitoral, sequelas de declarações que o deputado deu sobre o partido e a atuação de Temer, além de resquícios da falta de apoio público à chapa de Dilma Rousseff.

Na última terça-feira, o próprio líder admitiu que havia um problema na relação e foi conversar com Temer. A ala mais ligada ao vice-presidente fica incomodada com a postura de Cunha, que é visto como um candidato de oposição, o que enfraquece a influência de Temer junto ao Planalto. O líder do PMDB, por sua vez, afirma que sempre foi amigo do vice e que não sairá brigado com ele do processo - e assegura que conta com o apoio de Henrique Alves.

— Minha ligação com o Temer é de muitos anos para a gente brigar. A chance é quase zero de eu sair brigado desse processo com o Michel. Apostar nisso é apostar no imponderável — disse Eduardo Cunha.

Apesar do discurso, o líder do PMDB está preocupado com as constantes informações de insatisfação do vice-presidente. O temor é que boatos e informações sobre descontentamentos se tornem irreversíveis. Segundo interlocutores, Eduardo Cunha classificou o encontro desta semana como uma “verdadeira DR”.

A conversa franca entre Cunha e Temer ocorreu um dia depois de o líder do PMDB ter reunido os cinco partidos do chamado blocão para discutir a estratégia para o lançamento de sua candidatura. As legendas - PR, PTB, PSC e Solidariedade, além do próprio PMDB - manifestaram "simpatia" pela candidatura e devem formalizar o apoio nos próximos meses.

A estratégia é construir uma candidatura que tenha lastro extenso entre a maioria das bancadas da Câmara, de modo a tornar impossível para o Palácio do Planalto evitá-la. O líder do PMDB quer, com o apoio dos deputados, evitar que o governo consiga derrubá-lo. Para alguns de seus aliados, no entanto, Eduardo Cunha deveria ter esperado mais para se lançar, para evitar tornar-se alvo durante os próximos três meses. Mas ele tem afirmado que é preciso construir seu nome dentro da Casa, distante do PT.

— Não existe a vontade de ter uma hegemonia do mesmo partido, o PT, no Poder Executivo e no Poder Legislativo — afirmou Eduardo Cunha.

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Vicentinho lembra acordo de rodízio entre partidos

O PT tem reclamado abertamente das movimentações de Eduardo Cunha. O líder do partido na Câmara, Vicentinho (PT-SP), tem afirmado que o correto seria respeitar o acordo de rodízio entre PT e PMDB na presidência da Casa — como ocorre há oito anos. Os peemedebistas, no entanto, já anunciaram que o acordo termina neste ano.

Além disso, há avaliações diferentes. Parte do comando nacional petista está preocupada e não quer o desgaste de apresentar um candidato à presidência da Câmara e vê-lo sair derrotado. Muitos lembram a “síndrome de Severino Cavalcanti”. Em 2005, uma divisão interna do PT levou à apresentação de dois candidatos do partido ao comando da Casa. Com isso, Severino Cavalcanti (PP) correu por fora e acabou derrotando ambos.

Outros acreditam que ainda há três meses para trabalhar e para desgastar a candidatura de Eduardo Cunha. Um deles é o deputado Marco Maia (PT-RS), que foi presidente da Câmara.

— Ainda tem muita água para rolar — afirmou Marco Maia, que quer ser candidato novamente.

 

O PT, no entanto, terá de enfrentar a rejeição de boa parte dos deputados do PMDB, que não querem um presidente da Câmara do mesmo partido do Palácio do Planalto. Em meio a esse racha na base, os partidos de oposição deverão apresentar um candidato alternativo à presidência da Casa. Na semana passada, DEM, PSDB e PSB já discutiram o assunto.

Por enquanto, os nomes mais cotados para serem apoiados pela oposição são os do deputado Júlio Delgado (PSB-MG), que já concorreu em 2013 e teve um bom desempenho; e o do deputado Miro Teixeira (PROS-RJ).

O líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), disse que o PSB vai trabalhar para lançar Júlio Delgado e ainda tentar negociar a formação de um bloco parlamentar na Câmara ao lado do PPS e do PV, que reforçaria a bandeira dessa “terceira via”.