A próxima reunião do Grupo dos 20 (G-20) dará à presidente Dilma Rousseff mais uma oportunidade para falar dos problemas brasileiros, como estagnação, inflação e erosão do comércio exterior, como se fossem apenas consequências da crise internacional. Segundo ela e seus ministros, nenhum desarranjo importante da economia nacional foi produzido, principalmente em Brasília, por erros do governo. Tudo teria sido pior, de acordo com o discurso oficial, sem as ações "anticíclicas" iniciadas no fim de 2008, prolongadas e ainda ampliadas nos anos seguintes. O balanço dessas ações, como sabe qualquer pessoa razoavelmente informada, inclui, entre outros itens, centenas de bilhões de reais desperdiçados com financiamentos a grupos favorecidos e com estímulos fiscais ineficazes. Mas o cenário estará montado nos próximos dias em Brisbane, na Austrália, para ministros e governantes de 20 das maiores economias discutirem medidas para fortalecer a atividade em todo o mundo.

A criação de um esquema internacional de apoio a investimentos em infraestrutura é um dos itens principais da pauta. Instituições multilaterais, incluído o Fundo Monetário Internacional (FMI), têm recomendado esse tipo de investimento a países de todos os grupos, desenvolvidos e em desenvolvimento. Aplicar recursos em infraestrutura, argumentam os defensores da ideia, pode contribuir tanto para o crescimento a médio e a longo prazos quanto para a dinamização imediata das economias.

Essa linha de ação é especialmente importante para países como o Brasil, com deficiências graves nos setores de logística, energia e telecomunicações. A presidente Dilma Rousseff e seus acompanhantes terão certamente algo para dizer sobre o assunto. Mas 2015 será um ano de poucas concessões. Rodovias e ferrovias já selecionadas para ofertas à iniciativa privada ainda estão quase todas em estudo. A Ferrovia de Integração do Centro-Oeste está pronta para ser leiloada, mas, antes disso, como informou o Estado ontem, será preciso resolver com o Tribunal de Contas da União (TCU) uma controvérsia sobre custos.

Além disso, as contas públicas vão mal e o governo terá pouco dinheiro para participar de projetos de investimento. A situação poderá piorar se a nota de crédito soberano for rebaixada nos próximos meses. Esse é um risco nada desprezível, como já indicaram representantes de agências de classificação. Se os sinais forem de manutenção da política dos últimos quatro anos, a redução dificilmente deixará de ocorrer.

A presidente Dilma Rousseff prometeu fazer a lição de casa para arrumar as contas federais e para conter a inflação, mas sem detalhar o assunto. Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, seu sucessor deverá cuidar da transição da "política anticíclica" para uma estratégia de crescimento.

Até a linguagem é preocupante: o ministro continua falando como se tivesse nos últimos quatro anos seguido o caminho certo e seu substituto devesse apenas adaptar a novas condições uma política essencialmente correta. Os números do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff desmentem essa correção. Sem uma virada radical no estilo de política, sabem os analistas mais sérios, o governo apenas enriquecerá sua coleção de fracassos.

Segundo analistas da economia internacional, os grandes emergentes, incluída a China, darão menor contribuição à retomada global. Os ajustes da economia chinesa são defensáveis e até recomendáveis e, além disso, o país ainda manterá um crescimento igual ou superior a 7%. Os analistas têm mostrado maior preocupação com o desempenho da Rússia e do Brasil. Uma reportagem da revista britânica The Economist chamou a atenção para isso. Os autores da reportagem admitem, nos dois casos, a influência de problemas externos, mas acentuam, logo em seguida, o peso da política interna. O texto menciona os estragos causados pela presidente Dilma Rousseff nas finanças públicas. Não há segredo quanto a isso, no Brasil, na Europa ou em Brisbane. A presidente poderá repetir o discurso habitual, mas quem se convencerá?