Título: Entrevista - Erasmo Rojas
Autor: Vicentin, Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 17/06/2011, Tecnologia, p. 18

Líder da entidade que representa empresas do setor de comunicações acredita que a infraestrutura tecnológica no país para a Copa de 2014 estará em boas condições e prevê que o acesso 4G chegue sem problemas pelo menos às 12 cidades-sedes

A Copa do Mundo de 2014 tem tudo para ser um sucesso, pelo menos, no que diz respeito à infraestrutura de comunicações. É o que afirma Erasmo Rojas, diretor da 4G Americas para a América Latina e o Caribe. A entidade representa empresas e prestadores de serviço do setor, um dos mais estratégicos para o mais importante torneio de futebol do planeta. Eles ¿ e milhares de turistas que chegarão ao Brasil ¿ esperam ver e transmitir imagens em alta definição para todo o planeta. Para que isso dê certo, o país precisa garantir que a tecnologia de conexão móvel de internet esteja implementada, no mínimo, nas 12 cidades-sedes do campeonato.

A tarefa, a menos de três anos do evento, está apenas começando. "O mais importante para o Brasil é garantir que o leilão da banda de transmissão não atrase", diz Rojas, que trabalha com telecomunicações há 35 anos. Segundo o especialista, o leilão precisa ser realizado até julho do ano que vem. As operadoras levam de 12 a 18 meses para colocar as redes em funcionamento. "O problema é que há uma série de processos a serem cumpridos: consulta pública, elaboração de documentos, edital, até a chegada do leilão", alerta. "A bola está com o governo."

Há cerca de dois meses, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) expediu uma nota interna auxiliar às futuras regras do leilão. Uma das exigências é que as prestadoras de serviço disponibilizem a cobertura 4G nas cidades-sedes. A notícia é boa para quem pretende passar por esses locais durante e depois da Copa. A tecnologia, no entanto, não deve atingir todo o território brasileiro. "Ela não é necessária em todas as partes. Vai chegar para atender certas aplicações de dados de alta velocidade", justifica o diretor.

Leia, abaixo, os principais trechos da conversa:

Otimismo, mas com cautela

Qual a diferença entre a conexão 3G e a 4G? A internet 3G está no Brasil desde o fim de 2007. Também chamada de HSPA, ela permite uma navegação de cerca de 1 megabit por segundo. Com ela, é possível comunicar-se através de internet e utilizar serviços como correio eletrônico e download de vídeos e músicas a partir de aparelhos móveis. A 4G trabalha em uma velocidade cerca de 10 vezes mais rápida. A resposta da rede também é melhor. Hoje, com a 3G, ainda é muito difícil baixar um filme inteiro, por exemplo. A nova tecnologia permitirá o uso de jogos interativos e as comunicações de máquina para máquina. Entre as tecnologias 4G, há a LTE, que está sendo adotada em muitos países (há 22 redes em 16 nações).

Muitos usuários de portáteis no Brasil se queixam da qualidade da internet 3G. A nova tecnologia vai resolver isso? A conexão 3G deixará de existir? Não, a HSPA continuará existindo, assim como a conexão 2G e a chamada HSPA plus. No Brasil, esse formato foi lançado com velocidade de 7 megabits por segundo. No Chile, a mesma conexão tem velocidade de 42 megabits por segundo. Se você tem mais velocidade, os aplicativos funcionam de forma mais satisfatória. Acontece que, aqui, as redes ainda são lentas, porque as operadoras precisam atualizá-las. Elas estão trabalhando nisso. Atualmente, elas usam cabos normais para fazer a conexão, e é preciso substituí-los por cabos de fibra ótica, ethernet ou micro-ondas.

Mas a internet 4G estará disponível na Copa de 2014? O mais importante para o Brasil é garantir que o leilão da banda de transmissão não atrase. Ainda há três anos para isso. O tempo entre a realização do leilão e o início do serviço varia entre 12 e 18 meses. Para garantir que tudo esteja pronto para a Copa, as redes têm que estar instaladas, pelo menos, um ano antes, ou seja, o leilão tem que ser feito até a metade de 2012. A Anatel editou uma publicação preliminar interna para definir algumas regras do leilão. Nesse documento, há algumas condições de cobertura, como a exigência de disponibilidade de 4G nas 12 cidades-sedes. O problema é que há uma série de processos a serem cumpridos: consulta pública, elaboração de documentos, edital, até a chegada do leilão. Agora, a bola está com o governo.

Isso significa que a 4G não chegará tão cedo a todo o país... Vai chegar, mas ela não é necessária em todas as partes. Ela vai chegar para atender certas aplicações de dados de alta velocidade. A Copa é um espetáculo no qual o que importa são as imagens. E a transmissão deve ser feita em tempo real. As pessoas que estiverem no estádio vão querer mandar o espetáculo para os amigos. Jornalistas de todo o mundo estarão aqui, imagina a quantidade de material para ser enviado. Isso hoje não é possível na rede de terceira geração. Além disso, com o 4G, as operadoras podem vender aplicativos de jogos interativos para as pessoas que estiverem esperando o começo de uma partida, por exemplo. A nova tecnologia também pode melhorar a eficiência de câmeras de vídeo que controlam o fluxo de pessoas, porque a comunicação de incidentes será feita máquina a máquina.

Esses serviços serão caros? Faço aqui uma comparação com os Estados Unidos, o primeiro país que lançou uma aplicação comercial para o 4G. Eles perguntaram ao usuário que tipo de conexão ele queria: 3G ou 4G. Os preços são os mesmos. Se o seu pacote de transmissão é tal em 3G, vai pagar o mesmo em 4G. Para cativar o cliente, a operadora vai dizer que ele poderia fazer determinada tarefa de forma mais rápida. Na verdade, você vai pagar pela quantidade de informação que processa. Nos EUA, há uma faixa no trânsito para pessoas que andam mais rápido. Pois bem, essas pessoas pagam mais por isso. O mesmo acontece com a internet. Se precisar fazer um download em velocidade alta, o preço será maior. A ideia de planos ilimitados de dados está desaparecendo.

Por que na Europa os serviços de internet móvel são mais baratos? Na Europa, eles não tiveram uma experiência muito boa com a tecnologia analógica (2G), porque havia muitos padrões diferentes. Aí, quando surgiu a era digital, eles decidiram adotar o padrão GSM para todos os países. Só que isso não é bom, porque você precisa dar liberdade para a adoção de novas tecnologias. O lado positivo para os europeus é que, lá, a oferta de serviços cresceu muito rápido. Mas aqui nós temos de tudo: CDMA, analógica, TDMA, a tecnologia do Nextel. A Europa adotou a tecnologia LTE para 4G em novembro de 2009, mas a região que está puxando essa tendência é os EUA. Não à toa, de 1 milhão de assinaturas que existem, 700 mil estão lá.