Rio e são paulo

A inflação desacelerou mais que o esperado em outubro, com perda de fôlego dos preços de alimentos. E, também, com a demanda interna mais fraca. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,42%, abaixo das expectativas. Em setembro, o índice que baliza as metas de inflação do governo ficou em 0,57%. Nos últimos 12 meses, a inflação de outubro foi de 6,59%, acima do teto da meta.

E, apesar da desaceleração do IPCA em outubro, muitos analistas revisaram para cima as projeções para este ano. A maior parte espera inflação dentro do teto da meta, de 6,5%, mas vê riscos de não cumprimento, na esteira das pressões da gasolina, tarifa elétrica no Rio e passagens aéreas, que devem pesar em dezembro.

Em outubro, a alimentação dentro e fora do domicílio perdeu fôlego. A refeição fora de casa passou de 1,02% para 0,15%. Mesmo desacelerando de 0,78% para 0,46%, o grupo alimentação foi que teve maior peso na inflação do mês: 0,11 ponto percentual.

- Há demanda menor na Europa em função da crise, e isso também pode ter relação com a redução na demanda interna - afirma Eulina Nunes dos Santos, da Coordenação de Índices de Preços do IBGE.

famílias reduzem gastos

No grupo transportes, a maior desaceleração ficou com as passagens aéreas: tiveram alta de 1,94%, após subir 17,85% em setembro. O economista Fábio Romão, da LCA, foi um dos que revisaram a projeção de inflação. Agora prevê 6,55%, ante 6,38%.

- Com a alta importante de passagens aéreas em dezembro que nossas coletas captaram, há chances de a inflação não cumprir o teto da meta.

A demanda interna mais fraca foi responsável pela alta pouco expressiva de itens de vestuário, que subiram menos que o habitual para esta época do ano: o grupo passou de 0,57% para 0,62%. Em outubro de 2013, subiu 1,13%. Os serviços também desaceleraram: de 0,77% em setembro para 0,43%. Em 12 meses, ainda sobem 8,48%.

- As famílias reduziram os gastos, estão mais conservadoras com o cenário mais nebuloso. No vestuário, eram esperadas taxas mais elevadas com a mudança de coleção, mas desta vez foi bem modesto. As família estão honrando seus compromissos - disse Romão, da LCA.

É o caso do executivo comercial Ricardo Franco, que trocou marcas de produtos de consumo diário, como sucos, refrigerantes, produtos de limpeza.

- Minha esposa eu sempre trocamos ideias sobre o que é possível mudar no consumo sem que a família sinta tanto.

Mas há outros riscos. O professor da PUC-Rio Luiz Roberto Cunha frisa o clima. A estiagem pode afetar preços de alimentos In natura , que se beneficiaram em outubro da queda nas cotações internacionais de Commodities .

- Caso chova um dilúvio, isso também pode interferir. O risco grande é o clima. Mesmo que o IPCA feche em 6,4%, no ano que vem tem a questão do uso das termelétricas, mais aumento da gasolina, mais administrados, mais alimentação - avalia Cunha, que estima uma inflação em 6,4% neste ano.

O câmbio é outro fator de pressão. Para Adriana Molinari, da Tendências Consultoria, deve haver aceleração em bens duráveis, linha branca e vestuário.

- Isso pode ser mitigado por demanda mais fraca, com o mercado de trabalho crescendo menos - diz Adriana, que aposta que o IPCA fecha em 6,5%.

'inflação benigna'

Por sua vez, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, disse ontem que o recuo do IPCA em outubro caracterizou uma inflação mais "benigna".

- Observamos que os produtos agrícolas em geral, que são muito importantes na formação da cesta de bens da família brasileira, vêm tendo um comportamento muito benigno.

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Gasolina e luz vão pressionar

 

Gasolina mais cara em todo país e tarifa de luz maior para os cariocas pesarão na inflação oficial do país no mês que vem, avalia a coordenadora de Índice de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos. Segundo Eulina, para cada 1% de reajuste da gasolina na bomba, existe um impacto de 0,04 ponto percentual no IPCA. A Petrobras aumentou os preços em 3% nas refinarias a partir de ontem.

Também ontem a tarifa de energia para os cariocas subiu 17,75% nas residências. Para as indústrias, a alta será ainda maior, de 19,83% a 20,25%.

Segundo projeções do presidente da PSR Consultoria, Mário Veiga, no próximo ano as tarifas residenciais em todo o país deverão atingir o patamar médio de R$ 447 por megawatt/hora (MWh), um aumento da ordem de 27% em relação à média deste ano. Esses valores não incluem ICMS, PIS e Cofins.