Título: Cobrança de verbas e cargos
Autor: Rothenburg, Denise ; Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 18/06/2011, Política, p. 2

O governo federal tem até o fim do mês para controlar insatisfações da base aliada com a liberação de verbas e cargos. Deputados e senadores cobram até 30 de junho o empenho de quase R$ 3 bilhões em emendas do Orçamento de 2011, e de R$ 1 bilhão, relativos a restos a pagar de anos anteriores. Somente o afago bilionário acalmará a base o suficiente para a votação final do novo regime de licitações da Copa do Mundo e das Olimpíadas de 2016, além da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Os aliados cobram um abrandamento no corte de R$ 50 bilhões anunciado no início do ano, especialmente depois de a economia emitir sinais acima da expectativa. Nos primeiros quatro meses, a arrecadação atingiu o recorde de R$ 380 bilhões e a meta de superavit primário para o semestre já foi alcançada.

De acordo com os dados divulgados na última quinta-feira pelo Tesouro Nacional, a economia realizada de janeiro a abril ficou em R$ 41,479 bilhões, enquanto a meta de superavit do governo central para o ano é de R$ 81,8 bilhões. Com isso, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, prometeu a aliados terminar até o final da semana a segunda etapa de liberação de restos a pagar dos orçamentos passados. No primeiro lote, foram liberados R$ 500 milhões. Agora, a conta deve fechar em R$ 250 milhões até a próxima sexta-feira. Os aliados cobram mais R$ 1 bilhão até o fim do mês, além da promessa de pagamento de 50% das emendas individuais de 2011.

A pressa tem como principal motivo as eleições municipais do ano que vem. Para deputados e senadores apresentarem obras às suas bases, é necessário empenhar os recursos agora. Depois do compromisso de gasto assumido pelo governo, são necessários mais seis meses de trâmites burocráticos até que as máquinas comecem a funcionar.

Segundo parlamentares da base governista, a liberação dos recursos é o primeiro teste de Ideli. "A governabilidade de Ideli e a autoridade política estão atreladas à condição de ela montar condições reais de ser catalisadora das demandas da base. Se não der conta de defender esses problemas, o caldeirão entorna", resume um deputado petista. Ontem, o Palácio do Planalto publicou nomeações para o segundo escalão, algumas emperradas há mais de um mês. O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles foi confirmado representante da União no Conselho da Autoridade Pública Olímpica (APO) e o ex-deputado Flávio Dino (PCdoB-MA) assumirá o comando da Embratur. As nomeações deveriam servir para acalmar a base aliada, mas terminaram por acirrar ainda mais as disputas nos bastidores.

No caso de Henrique Meirelles, ele saiu como representante da União no Conselho Público da Autoridade Pública Olímpica. Os políticos descobriram que foi colocado dessa forma porque, segundo o próprio Meirelles comentou com aliados, ele não é mais o gestor final da APO, ou seja, "o homem da caneta", porque, como a nomeação demorou, acabou assumindo outros compromissos no mercado financeiro. Com isso, reabriu-se a temporada de cotoveladas entre PMDB, PCdoB e PT pelo cargo.

Rivais no turismo A outra área conflagrada é o Turismo. Para emplacar Flávio Dino na Embratur, o vice-presidente da República, Michel Temer, conversou com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), pai da governadora do Maranhão, Roseana Sarney. O senador terminou concordando, mas voltou atrás quando viu publicada nos jornais parte do teor da conversa que tivera com Temer. Roseana também não gostou nada de saber que seu pai havia aceitado que fosse nomeado para a Embratur justamente seu principal adversário na campanha para o governo estadual no ano passado. E entre a filha e a presidente Dilma Rousseff, Sarney ficará com Roseana. Para completar, o Turismo viverá dias difíceis com Flávio Dino na Embratur e o ministro Pedro Novais, do PMDB do Maranhão, aliado de Roseana. Nos bastidores, há quem diga que esse setor é pequeno demais para dois maranhenses adversários. Um dos dois terá vida curta no governo.

Para agradar ao PMDB, o Planalto publicou ainda ontem outras duas nomeações para diretorias da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Ficaram com os postos Oscar Jucá Neto, irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR); e o ex-deputado federal Marcelo Melo (PMDB-GO).