Aécio em campanha: votação expressiva nas eleições o credenciaram como o principal líder da oposição no Congresso para a legislatura que se inicia em fevereiro do próximo ano.
Para demonstrar força e se contrapor às negociações conduzidas pela presidente Dilma Rousseff para a formação do novo ministério, a oposição marcou um grande evento para amanhã, no Auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados. Por decisão do ex-candidato do PSDB à Presidência Aécio Neves, a reunião da executiva nacional tucana para celebrar a eleição dos novos deputados e senadores do partido foi transformada em um ato político, com a presença das demais legendas que se alinharam ao PSDB no segundo turno das eleições presidenciais e garantiram 51 milhões de votos ao presidenciável tucano.
Será a primeira aparição pública de Aécio desde que ele concedeu a entrevista coletiva na noite de 26 de outubro, após ser confirmada a reeleição de Dilma para mais quatro anos de mandato. Desde então, Aécio tem se mantido recolhido, com a família, enquanto os opositores começam a ensaiar a postura para os próximos quatro anos. “Estamos fazendo oposição desde as 20h15 da noite de domingo (26 de outubro). A ideia é intensificarmos cada vez mais esse trabalho”, disse o presidente do PSDB paulista, deputado federal Duarte Nogueira.
Desde então, alguns movimentos foram lançados para tentar manter acesa a chama de oposição ao governo. Na semana passada, o PSDB apresentou um requerimento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo uma auditoria especial para apurar supostas falhas no resultado final das eleições presidenciais — ontem, a Procuradoria-Geral da República emitiu parecer contrário ao pedido tucano. Paralelamente a isso, importantes integrantes do partido, como o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), candidato a vice na chapa de Aécio, foram à tribuna do Senado colocar em dúvida a disposição da presidente Dilma Rousseff e do PT de estabelecer um diálogo com a oposição.
No domingo, em coluna publicada nos jornais O Globo e O Estado de S.Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também questionou o discurso ameno dos petistas. “Só se pode confiar em quem demonstrar com fatos os próprios propósitos. Depois de uma campanha de infâmias, é difícil crer que o diálogo proposto não seja manipulação”, criticou Fernando Henrique. Ao longo do fim de semana, manifestantes foram às ruas de cerca de 30 cidades para protestar contra o governo federal e cobrar o impeachment da presidente Dilma.
Governadores
O deputado Duarte Nogueira disse que, no evento de amanhã, estava prevista a presença dos governadores eleitos do PSDB — cinco ao todo. “Mas ficou decidido que eles organizarão, entre si, outro ato específico durante o fim de semana”, ressaltou Nogueira. Nesse grupo, aparecem nomes de peso, como os governadores reeleitos Geraldo Alckmin (SP), Beto Richa (PR), Marconi Perillo (GO) e Simão Jatene (PA), além do estreante Reinaldo Azambuja (MS).
O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), vai reunir hoje a executiva nacional do partido para posicionar a legenda em torno das novas ações daqui para frente. Mas ele adiantou que não vê qualquer restrição à participação dos socialistas no evento de amanhã. “Não há nenhuma razão que impeça a nossa presença em um ato de oposição”, afirmou Freire. “Esse governo não tem autoridade moral para emitir qualquer sinal de diálogo conosco se não fizer uma autocrítica sobre o tom adotado por ela (Dilma) e pelo PT durante a campanha presidencial”, completou.
O PSB, que apoiou Aécio no segundo turno das eleições, também foi convidado para o evento. A legenda deve reunir, hoje à tarde, os deputados e os senadores eleitos para medir o tom oposicionista que adotará ao longo dos próximos quatro anos. O novo presidente do partido, Carlos Siqueira, tem dito que a postura dos socialistas não significa, necessariamente, um alinhamento incondicional aos tucanos, mas uma postura crítica ao PT, sobretudo em matérias que eles considerarem prejudiciais ao país.
O presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia (RN), coordenador-geral da campanha presidencial de Aécio Neves, não estará presente ao evento de amanhã para tratar de questões pessoais, mas conversou com o senador mineiro e deixou alinhavado outros atos políticos com a presença das lideranças oposicionistas. “Será o primeiro de muitos encontros que teremos ao longo dos próximos quatro anos”, previu Agripino. “Precisamos fazer uma oposição enérgica, contundente, que fiscalize as ações do PT e da presidente Dilma”, completou.
O senador disse que sugeriu a Aécio que se formem grupos específicos da oposição para fiscalizar as ações do governo. Por esse formato, seriam escalados responsáveis para cuidar da área de infraestrutura, dos programas sociais, da área econômica e das negociações internacionais. “O pós-eleições é uma marcha que ainda está em curso. Há muito trabalho nos próximos anos”, acrescentou.
Petição anti-Dilma na Casa Branca
Uma petição criada no site da Casa Branca, em uma seção batizada de We the People (nós, o povo) pede que o governo norte-americano se posicione oficialmente contra a expansão do “comunismo bolivariano no Brasil” promovido pela administração Dilma Rousseff. O documento tinha recebido mais de 100 mil adesões até a tarde de ontem, e está entre as 20 petições mais assinadas entre 99 disponíveis no site. Ao atingir 100 mil assinaturas, está apto a receber uma resposta do governo norte-americano. Para criar uma petição, basta ser maior de 13 anos, abrir uma conta e ter o e-mail validado.
À espera do reforço de Marina
Assim como o senador Aécio Neves (PSDB-MG), a presidenciável derrotada no primeiro turno Marina Silva (PSB) se manteve afastada dos holofotes nas últimas semanas. Agora, no entanto, deve ter uma posição mais ativa no cenário político, segundo apostam pessoas ligadas a ela, como a educadora Neca Setúbal. Segundo Neca, este ano, Marina agirá de maneira diferente em relação ao pós-eleições de 2010. A primeira diferença já pôde ser sentida quando ela declarou apoio a Aécio no segundo turno deste ano, ao contrário da neutralidade adotada quatro anos atrás. O PSDB e os demais partidos esperam contar com ela na oposição ao governo Dilma.
Além disso, depois do pleito presidencial de 2010, Marina se afastou dos holofotes, reaparecendo de maneira esporádica no debate sobre o Código Florestal e, depois, quando começou a colher as assinaturas necessárias para a formação da Rede Sustentabilidade. Ela, inclusive, foi bastante criticada por alguns dos aliados pela demora em se movimentar na criação da legenda — que até hoje não foi formalizada.
À época, muitos queixaram-se de que Marina deveria ter adotado a mesma postura do ex-prefeito Gilberto Kassab, que recolheu assinaturas a tempo de o PSD concorrer nas eleições de 2012. Com isso, ganhou musculatura para, dois anos depois, eleger dois governadores — Raimundo Colombo (SC) e Robinson Faria (RN).
Os sonháticos, como passaram a se chamar os apoiadores de Marina, já começaram a recolher as assinaturas para apresentar um novo pedido de formação da Rede no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A ideia é que esse protocolo seja feito até o início do ano que vem, para que os marineiros possam disputar as eleições municipais de 2016.