O PT bateu o pé e lutará para manter o rodízio na Presidência da Câmara, acordado em 2010 com o PMDB. Com o fim do mandato do peemedebista Henrique Eduardo Alves (RN), o próximo presidente deveria ser petista. Mas o deputado Eduardo Cunha (PMDB) já avisou que a alternância não é “estatutária” e se antecipou ao lançar o próprio nome à Presidência. Enquanto Cunha conversa com líderes de outros partidos para angariar apoio, o presidente do PMDB e vice-presidente da República, Michel Temer, tenta apaziguar os ânimos e unificar o partido.

Ontem, em Brasília, a Executiva Nacional do PT analisou a disputa. “Nós sabemos das movimentações do PMDB. Nós respeitamos a pretensão de qualquer pessoa. Qualquer deputado tem direito a ser candidato a presidente”, desconversou o líder do PT na Câmara, Vicentinho (SP). Ele defendeu o rodízio, no entanto, e anunciou que o tema será debatido novamente hoje. “O que nós queremos é que se mantenha a tradição de um acordo que ocorre entre os maiores partidos. A penúltima foi do PT, a última do PMDB. Então, se mantiver o acordo, a próxima será do PT”, explicou.

Também esteve na reunião o vice-líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE), que tem pretensões de se lançar candidato à Presidência, embora os nomes mais cotados sejam de Arlindo Chinaglia (SP) e Marco Maia (RS). O deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) defendeu a “legitimidade” da candidatura petista e disse que as únicas discordâncias no partido são quanto ao momento do lançamento de um nome. “Nós ainda estamos em novembro e essa discussão é para o ano que vem. Qualquer decisão antes do tempo pode ser precipitada”, ponderou Vicentinho. “Como manda a rotina do Parlamento, a maior bancada tem o direito de indicar o presidente”, ressaltou o presidente do partido, Rui Falcão. Ele lembrou ainda que Cunha “precisa fazer maioria para ser presidente”.

PMDB
Em busca da maioria citada por Falcão, Eduardo Cunha se reúne hoje com integrantes de legendas que ajudaram a formar o “blocão”. Cunha foi o principal articulador do grupo de parlamentares da base governista que aterroriza a vida do Executivo desde março, dificultando a tramitação de pautas de interesse do Planalto. Graças aos deputados revoltados que a CPMI da Petrobras consegui as assinaturas necessárias para ser criada.

Enquanto Cunha tenta prolongar a rebelião da base, Michel Temer promove um jantar de boas-vindas aos parlamentares eleitos, no qual tentará reafirmar a unidade da legenda. O deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) — que defende a candidatura de Cunha — diz que a disputa na Câmara não é a pauta do jantar com Temer, mas que o tema deve sim ser discutido. “Será um ambiente fértil para a articulação”, resume o parlamentar. 
O líder do PTB, Jovair Arantes (GO), diz que a movimentação é natural. “Ele (Cunha) pretende ser candidato e está se movimentando. Isso faz parte, não tem nenhuma rebeldia”, ressalta o antigo porta-voz informal do blocão.

Suspensa ação contra Demóstenes 
O ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Sebastião Reis Júnior determinou ontem a paralisação do processo contra o senador cassado Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) que tramita no Tribunal de Justiça de Goiás. A suspensão vale até que seja julgado pedido da defesa do x-parlamentar. Os advogados alegam que as escutas telefônicas usadas para incriminar Demóstenes foram obtidas ilegalmente, sem respaldo judicial. O ex-senador é acusado de corrupção passiva e advocacia administrativa em favor do bicheiro Carlinhos Cachoeira. O episódio levou o Senado a cassar o mandato de Demóstenes em 2012.

 

Combate à corrupção

 

 

A Executiva Nacional do PT defendeu ontem, em resolução divulgada ao término da primeira reunião após as eleições presidenciais, um enfrentamento mais duro da corrupção. Além disso, os petistas, que estão no centro do escândalo de corrupção da Petrobras, querem dividir com os demais partidos aliados o ônus dos desvios éticos.

A defesa da tese e a elaboração da resolução aconteceram com a presença do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, apontado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa como um dos beneficiários dos desvios de recursos da estatal. Na semana passada, Vaccari pediu para deixar o Conselho da Itaipu Binacional.

Além disso, o PT quer que a presidente Dilma Rousseff se alinhe mais aos partidos de esquerda durante o segundo mandato, o que coloca em risco a estabilidade política decorrente da aliança com o PMDB. Para os petistas, esta parceria está fadada ao fim.