As denúncias de corrupção na Petrobras atropelaram a divulgação de seu balanço do terceiro trimestre e, por tabela, o reajuste nos preços da gasolina e do diesel, necessário para recompor o caixa. A situação da estatal, que acumula dívidas de mais de R$ 300 bilhões, é delicada, com as agências de classificação de risco cogitando rebaixar sua nota de crédito e ameaçando ainda mais o desempenho de suas ações no mercado. No pregão de ontem da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), as ações preferenciais (PN) da petroleira despencaram 3,66%, e as ordinárias (ON), 3,82%, após uma semana no terreno positivo, graças à especulação do provável anúncio de aumento dos combustíveis.

Nesta manhã, em Brasília, será retomada a reunião do seu Conselho de Administração, encerrada na última sexta-feira, depois que a PriceWaterhouseCoopers (PwC) ameaçou não assinar o relatório trimestral e exigiu a contratação de outras duas empresas de auditoria, além de pedir a saída do presidente da Transpetro, Sérgio Machado. As exigências atrasaram a divulgação do balanço. Sob forte pressão de auditores e acionistas, a petroleira só deve divulgar os números às vésperas do prazo final, fixado por lei em 45 dias após o fechamento do trimestre, portanto em 15 de novembro.

Em nota, a estatal confirmou a contratação de duas empresas independentes especializadas em investigação: uma brasileira, a Trench, Rossi e Watanabe Advogados, e outra norte-americana, a Gibson, Dunn & Crutcher LLP, “com o objetivo de apurar a natureza, extensão e impacto das ações e alegações feitas pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa” na chamada Operação Lava-Jato. 

Reação 
Na avaliação do economista Jason Vieira, do portal de informações financeiras Moneyou, a PwC reagiu às exigências da Securities and Exchange Commission (SEC), órgão norte-americano equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). “Como a Price é internacional, precisa dar respostas à altura para a SEC. Isso significaria colocar uma rubrica no balanço sobre as denúncias de corrupção”, afirmou. Para Vieira, isso será o estopim para que as agências de risco rebaixem a nota da Petrobras. “Quando houver uma nota no balanço, as agências não vão hesitar”, disse.

Para o analista da Guide Investimentos Luis Gustavo Pereira, a questão da PwC acabou deixando em segundo plano a possibilidade de deliberação sobre reajuste dos combustíveis. “O mercado internacional está ajudando. Por conta da queda no barril de petróleo e do câmbio, não há mais defasagem entre o preço que a Petrobras paga no exterior e o que ela vende no mercado interno. Mas o reajuste seria necessário para recompor seu caixa”, avaliou. 

O diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura, Adriano Pires, teme que os escândalos de corrupção e a falta de transparência estejam destruindo a imagem da Petrobras, que já foi orgulho nacional. “A possibilidade de trocar a presidente Graça Foster por uma indicação política, como o governador baiano Jacques Wagner, é outro sinal ruim para o mercado”, alertou.

 

 

Altice faz oferta pela Oi

 

 

 

 

A esperada consolidação do mercado de telecomunicações no país ganhou novo impulso ontem, após o grupo francês Altice, com presença em vários países, fez uma oferta para comprar os ativos que a tele brasileira Oi tem da Portugal Telecom (PT), por 7 bilhões de euros. Com a venda, a operadora endividada ganharia fôlego para integrar a ação de compra e fatiamento da TIM, em parceria com as concorrentes Vivo e Claro.

A Oi não comenta o assunto, mas suas ações dispararam ontem. Os papéis ordinários (ON) subiram 2,19% e os preferenciais, 0,77%, num dia em que a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) caiu 1,25%. Os títulos da TIM Participações recuaram 0,07%, após acumular valorização de 23% em seis pregões seguidos. 

Para a analista do Itaú BBA Susana Salaru, a oferta da Altice, de comprar os ativos — excluindo as operações da África e a dívida de 900 milhões de euros que a RioForte tem com a PT — é o principal catalisador da concentração da telefonia móvel no país. “O próximo passo é uma proposta conjunta da Claro, Telefônica (Vivo) e Oi para adquirir a TIM Brasil”, afirmou. A Oi já contratou o BTG Pactual para buscar alternativas para efetivar a compra.