O doleiro Alberto Youssef, acusado de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras, passou mal ontem à tarde na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, onde está preso, e foi levado ao Hospital Santa Cruz. Boletim médico divulgado no fim da tarde informou que ele está consciente e apresenta bom estado geral, mas que não há previsão de alta.

O doleiro reclamou de dores abdominais e febre, e foi removido para o hospital por volta de 14h45m. De acordo com o boletim, Youssef ainda realizava ontem à tarde "exames complementares para elucidação diagnóstica". O advogado dele, Antônio Figueiredo Basto, disse que o doleiro chegou a desmaiar na carceragem, e lembrou que Youssef sofre de problemas cardíacos graves.

No fim do mês de outubro, o doleiro já tinha sido internado no mesmo hospital depois de ter sentido tontura ao descer do beliche onde estava deitado e desmaiar. A internação deu origem a uma onda de boatos nas redes sociais e por mensagens no WhatsApp, já que aconteceu na véspera de votação do segundo turno da eleição presidencial. Mensagens diziam que ele havia sido envenenado e morto como "queima de arquivo" pelo PT, pois poderia apresentar provas de quem recebeu dinheiro da Petrobras.

Na primeira internação, Youssef se queixou de dor torácica e, segundo o boletim do hospital, o quadro era de angina instável. De acordo com a PF, ele já havia passado mal e levado ao hospital outras três vezes desde março. O doleiro faz uso de medicamento controlado para tratar os problemas no coração.

A expectativa é que ele possa voltar à superintendência da PF hoje mesmo, depois de ser submetido aos exames. No hospital, ontem, ele já não apresentava dores abdominais, e disse aos médicos que estava precisando dormir.

Na última quinta-feira, Youssef prestou o último depoimento do acordo de delação premiada firmado com o Ministério Público Federal. O depoimento teve quase seis horas de duração e foi, segundo a PF, a última etapa antes de a Justiça decidir se homologa, ou não, o acordo. A Operação Lava-Jato investiga um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado bilhões, incluindo recursos desviados da Petrobras. Em seus depoimentos, o doleiro contou que os contratos de empreiteiras com a Petrobras eram superfaturados para abastecer PP, PT e PMDB.

envelopes lacrados

Adarico Negromonte, irmão do ex-ministro Mário Negromonte (Cidades), disse à PF que foi apresentado ao doleiro Youssef pelo ex-deputado José Janene (PP-PR) e que ganhava R$ 1.500 por semana para "entregar envelopes lacrados" para o doleiro. Ele afirmou que prestava os serviços desde 2011 e não sabe o que tinha dentro dos envelopes. Adarico foi solto sexta-feira, depois de passar cinco dias preso por ordem do juiz Sérgio Moro, que conduz as ações da Operação Lava-Jato.

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Crise acelera disputa pelo Conselho de Ética

A expectativa de que o ano de 2015 comece com uma crise na Câmara devido ao possível envolvimento de dezenas de deputados no escândalo da Petrobras acelerou a disputa, nos bastidores, pelo comando do Conselho de Ética. Ali são julgados os deputados acusados de quebra de decoro parlamentar. A decisão final é do plenário, mas, como essa votação agora é aberta, o peso de um parecer do conselho pela cassação deve ser cada vez maior para direcionar o futuro dos investigados. Uma amostra será dada na votação desta semana em plenário sobre o caso de André Vargas (sem partido-PR), que mantinha uma ligação próxima com o doleiro Alberto Youssef, segundo a Polícia Federal.

O atual presidente do colegiado, Ricardo Izar Filho (PSD-SP), já anuncia sua candidatura à reeleição. Está ciente, no entanto, das dificuldades que terá pelo caminho. Seu partido é da base do governo, ocupa ministério e deve continuar na Esplanada. Em 2013, sua legenda se recusou a indicá-lo. Izar Filho só chegou ao colegiado graças ao PSDB, que o indicou. Ele afirma que não aceitará continuar no cargo se a missão for de engavetar processos.

- Pretendo disputar a reeleição. Mas não de um Conselho de Ética que seja um engavetador-geral de todas as denúncias e processos que chegarem lá. Aí, prefiro nem estar ali - disse Izar Filho.

PT não mostra interesse

A tensão na Câmara é grande por não se saber ainda quais deputados foram citados nas delações premiadas do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef, e se tornarão alvo de pedidos de inquérito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Por isso, os partidos deverão ter atenção redobrada nas indicações que farão para o Conselho.

No discurso, deputados do PT admitem que não há muito interesse na bancada para as indicações. A ida para o colegiado, pelo desgaste que traz, é vista como missão. O deputado Sibá Machado (PT-AP), que é do atual conselho, diz que só continuará se for a pedido do partido.

- Ninguém quer fazer de lá um lugar de crescimento. É um lugar chato. Os petistas têm outras agendas. Mas seja quem for o escolhido, terá que ter seriedade na condução. O conselho terá que analisar caso a caso e não fazer das denúncias que vierem contra políticos uma roleta- russa - disse Sibá.

O PT atacou a forma como Izar conduziu o processo contra Vargas e sinaliza resistência à sua permanência. Existe a mesma crítica em relação a Júlio Delgado (PSB-MG), que relatou o caso de Vargas e o do ex-ministro José Dirceu. Delgado é citado por alguns parlamentares como possível candidato ao conselho, mas seu plano é disputar a presidência da Câmara.

Outro nome que aparece no páreo é o do deputado Marcos Rogério (PDT-RO). Derrotado em 2013 por apenas um voto na disputa pelo comando do conselho, Rogério foi relator do processo de Luiz Argôlo (PSD-BA), que teve o pedido de sua cassação aprovado. Rogério é próximo do líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), favorito à presidência da Câmara. No ano passado, o peemedebista foi pessoalmente ao conselho e ameaçou paralisar os trabalhos da Câmara se o pedetista não fosse eleito.

Cunha, porém, evita comprometer-se novamente com o aliado e diz que tudo dependerá da composição decorrente da eleição para o comando da Casa:

- Defendi o Marcos Rogério porque defendo o cumprimento de acordos políticos. Tudo terá que ser tratado com tranquilidade no Conselho de Ética.

Ex-presidente do colegiado por 4 anos, José Carlos Araújo (PSD-BA) é outro nome lembrado. Ele nega que seja candidato, mas diz que não recusaria a indicação. Defende que o conselho passe a ter mais poderes e funcione com prerrogativas como as de uma CP I, principalmente para poder convocar pessoas que possam ajudar na investigação.