Com as mudanças climáticas, o Brasil já não pode ter sua matriz elétrica inteiramente apoiada em usinas hidrelétricas, como era no passado. Além de o regime de chuvas se mostrar irregular, o país já não constrói hidrelétricas com reservatórios que acumulem água para uso em anos seguintes. Ou seja, as novas usinas funcionam a fio d’água, utilizando a vazão natural dos rios.
Reservatórios que acumulam água são rejeitados pelas autoridades do licenciamento ambiental porque, dependendo da topografia da região, formam-se lagos em grande extensões de terra. No caso da Amazônia, a argumentação é que os lagos seriam enormes.
Descartados os reservatórios de acumulação de água, outras fontes de geração de energia elétrica se tornam necessárias. O Brasil tem estimulado, corretamente, investimentos nas chamadas fontes renováveis, com aproveitamento de biomassa, dos ventos e agora também a de origem solar. No entanto, todas essas fontes são intermitentes, funcionando algumas horas por dia ou em certas épocas do ano. São complementares às hidrelétricas, e não substitutas.
Para substituir eventualmente o que deixa de ser gerado nas hidrelétricas o país precisa de um relevante parque termelétrico. Mantê-lo, mesmo que seja apenas como reserva, não custa pouco. É preciso então avaliar o custo-benefício das opções térmicas. Assentar esse parque no gás ou em óleos derivados de petróleo é um risco, pois são combustíveis que o Brasil ainda importa muito e não tem qualquer controle sobre os preços.
O carvão aparece como alternativa, em face das jazidas existentes no Sul do país, mas tendo como lado negativo o impacto ambiental e um custo mais elevado. O óleo e o gás também poluem.
Desprezada, por uma equivocada pressão de ambientalistas no passado (e que tende a se atenuar diante da falta de melhor opção), a energia nuclear é de fato a que proporciona melhor custo-benefício para o parque térmico. Por isso, o próprio Japão, onde o último terremoto seguido de tsunami levou ao desligamento de reatores, já começa a recolocar alguns em funcionamento.
O Brasil tem a matéria-prima em abundância (urânio) e o domínio de todo o ciclo tecnológico de produção dos elementos combustíveis dos reatores. Constrói sua terceira usina em Angra dos Reis, provavelmente a última no bojo do acordo com a Alemanha. Novas tecnologias, mais econômicas e mais seguras, estão disponíveis em consequência da retomada de investimentos em usinas nucleares por parte dos Estados Unidos e da Inglaterra, entre outros.
Constava do planejamento do setor energético a construção de um conjunto de quatro usinas, com capacidade de geração de 4 mil megawatts, em uma área na região Nordeste. Por questão política, e não econômica, tais usinas deixaram de constar do planejamento. Está mais do que na hora de reincluí-las no futuro da matriz elétrica.