As expectativas em relação ao desempenho da Eletrobras se deterioraram na segunda-feira, 17. Após a divulgação de um resultado abaixo do esperado na última sexta-feira, 14, analistas de bancos e corretoras que acompanham a estatal sinalizam que ela caminha para o terceiro ano no vermelho e que, pela primeira vez na história, pode não distribuir dividendos.

As ações da Eletrobras abriram com forte queda, mantiveram a retração ao longo do dia e fecharam como as maiores baixas da bolsa. Eletrobras PNB liderou a lista, com perdas de 9,09%, seguida por Eletrobras ON, com perdas de 7,79%. A queda ocorreu após a estatal anunciar, na sexta-feira, um prejuízo líquido de R$ 2,7 bilhões no terceiro trimestre de 2014, um alta de 199% ante o resultado negativo de R$ 915 milhões no mesmo período do ano passado. "Se a Eletrobras não fosse uma estatal, que pode ser socorrida pelo Tesouro Nacional, estaria hoje em altíssimo risco financeiro", diz Alexandre Furtado Montes, analista de energia da corretora Lopes Filho.

O mau desempenho também levou o Bank Of America Merrill Lynch a rebaixar a recomendação das ações PNB da estatal de neutro para underperform (desempenho abaixo da média do mercado). Em relatório, os analistas da instituição, Felipe Leal, Luiz Antonio Leite e Diego Moreno, destacaram que após o prejuízo é possível que a estatal não pague o dividendo mínimo pela primeira vez na história. "Isso se deve à perda de R$ 1,819 bilhão acumuladaa até o terceiro trimestre, o que quase acaba com a reserva de lucros de R$ 2,102 bilhões", destacam os profissionais. Eles lembram que o saldo líquido da reserva é de R$ 283 milhões, o que é insuficiente para distribuir o dividendo mínimo de R$ 369 milhões.

Também contribuiu para piorar o cenário da Eletrobras a crescente preocupação dos investidores com as denúncias de corrupção sobre a Petrobras, que podem contaminar a estatal de energia. Reportagem do jornal O Globo informou ontem que equipes de investigação da Polícia Federal vão apurar se o esquema operado pelo doleiro Alberto Youssef vai além da Petrobrás e envolve empresas do setor elétrico.

Outro ano perdido
Segundo o analista Alexandre Furtado, uma série de fatores levaram à Eletrobras ao atual quadro, como falhas na gestão e a insistência em não privatizar distribuidoras deficitárias que administra. Mas o grande problema da empresa no momento é a seca. A redução no volume de água nos rios e nas barragens levou à queda na produção de energia das hidrelétricas. Isto obriga as geradoras, como as empresas do sistema Eletrobras, a comprar energia cara no mercado à vista para garantir o abastecimento das distribuidoras.

Há cinco semanas, o preço da energia à vista está no teto. O gasto com a compra de energia no terceiro trimestre foi de R$ 3,1 bilhões, quase o triplo do R$ 1,3 bilhão gasto no mesmo período de 2013. A receita, ao contrário, cresceu apenas 8%. "Não me arrisco a falar em valores, mas a tendência, por causa da seca, é que a empresa continue a perder dinheiro ", diz Furtado. Se isso ocorrer, a Eletrobras tende a fechar em 2014 três anos consecutivos no vermelho. Em 2012 e 2013, o prejuízo somou R$ 13 bilhões. Mantida a tendência, pode acumular uma perda entre R$ 15 bilhões e R$ 18 bilhões ao final deste ano.


Na avaliação de João Carlos Mello, presidente da consultoria Thymos Energia, como as condições climáticas não dão sinais de melhora no curto prazo, a complicada situação da Eletrobrás pode se prolongar. "As empresas de geração ainda têm dois anos ruins pela frente."