“A Idade da Pedra não acabou por causa da falta de pedras”. Esta frase, de autoria controversa, reflete o início de um processo que se torna cada vez mais agudo no setor de petróleo.

O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da ONU) acaba de divulgar um relatório, no qual alerta de forma contundente sobre os riscos decorrentes do aquecimento global. E estabelece metas para a redução progressiva de CO2, onde a principal medida é a eliminação do consumo de combustíveis fósseis até 2100.

Equivocadamente, pode passar pela cabeça do leitor que o ano de 2100 está muito longe. No setor de energia este horizonte é relativamente curto. Uma criança que nasça hoje terá enormes chances de estar viva e ativa em 2100. Neste contexto, o mundo passa por uma enorme transformação quanto à maneira de produzir e consumir energia, numa busca frenética para desenvolver de forma econômica fontes de energias renováveis e de baixa emissão de carbono.

Isto significa dizer que o petróleo pode estar com os dias (ou anos) contados? A resposta é sim. O mundo vê o petróleo hoje como uma fatalidade, um mal necessário, do qual, o quanto antes, deveremos nos desfazer.

Este preâmbulo é para justificar que, ao contrário do que apregoam alguns, o petróleo não é o nosso “passaporte para o futuro". No Brasil, estamos apostando o futuro, no século XXI, na energia do século XX. E investindo muito aquém do que deveríamos para tornar nossa matriz energética mais eficiente e menos dependente de hidrocarbonetos.

Para piorar, graças à ideologia estatista, que garante que a molécula de petróleo estatal é a única que presta, nosso país jogou fora anos preciosos e uma das maiores janelas de oportunidade que o Brasil já vislumbrou.

Antes da crise de 2007/2008, o Brasil era visto como um oásis de segurança, previsibilidade e estabilidade no setor de petróleo. Vinha de uma sucessão de leilões bem sucedidos, através de um modelo testado e aprovado. O mundo vislumbrava um horizonte de crescimento acelerado, o que atraía empresas e capitais abundantes do Brasil e do exterior.

O caldo começou a entornar quando o governo decidiu, em 2007, retirar, na última hora, 41 áreas que seriam licitadas. Naquele momento, havia a possibilidade de iniciarmos uma dinâmica de exploração petrolífera que hoje já estaria dando frutos, produzindo petróleo, com a geração de empregos, impostos, divisas e enormes ganhos financeiros para o país, através de royalties e demais participações governamentais. Ato contínuo, decidiu-se que o modelo que estava em vigor não era bom. Como consequência, o setor ficou paralisado por cinco anos sem leilões de novas áreas. E, depois de um processo a toque de caixa, engendrou-se um novo “modelo”, que na prática restabeleceu o antigo monopólio estatal para as áreas do pré-sal, e condiciona o desenvolvimento do setor à capacidade financeira e operacional da Petrobras, doravante operadora única e detentora de no mínimo 30% dos campos a serem licitados. Isto criou uma armadilha para a empresa, que é compelida a participar de certames, mesmo que isto não seja de seu interesse. 

Junte-se a isto que a autossuficiência americana, o desenvolvimento do shale gas, as novas áreas exploratórias no mundo e o avanço das formas alternativas de energia, levarão a uma queda inexorável do preço do barril de petróleo, reduzindo os ganhos auferidos pela sociedade brasileira. As perdas do passado são irreversíveis e irrecuperáveis. Os ganhos futuros ficarão aquém daqueles que eram imaginados.

Em resumo, para azar nosso, todos os fatos levam-nos a acreditar que, para o Brasil, a era do petróleo não irá terminar por causa do fim do petróleo.