O SUS tem sido alvo de críticas. Pesquisas de opinião vêm constatando que, na percepção da sociedade brasileira, a saúde aparece como prioridade a ser enfrentada em caráter emergencial.

Um aspecto importante, porém pouco valorizado, é a importância crucial, para o SUS, das tecnologias preventivas e terapêuticas de alto impacto e baixo custo, como vacinas, kits para diagnóstico e monitoramento e biofármacos.

O cenário global no desenvolvimento dessas tecnologias vem se transformando rapidamente. Países desenvolvidos, e mesmo alguns em desenvolvimento, investem fortemente, há décadas, em pesquisa básica, desenvolvimento tecnológico e inovação. Nesses países, além dos expressivos investimentos governamentais, grupos privados vêm aumentando exponencialmente os seus investimentos, sobretudo nas “start-ups” e em empresas de biotecnologia.

O Brasil deve rever urgentemente a sua política, fortalecendo a articulação entre ciências básicas e desenvolvimento de produtos, transcendendo o espaço estritamente acadêmico. É necessária uma verdadeira revolução tecnológica nesse setor, semelhante à adotada com sucesso por países como Japão, Coréia do Sul, Índia e China, adaptando-a à nossa realidade, identificando nossos potenciais e as nossas vantagens comparativas. Somente desta forma, conseguiremos agregar valor aos produtos nacionais e reduzir o quadro de dependência e defasagem tecnológica que afeta gravemente o SUS.

Esta política deve assegurar infraestrutura, formação especializada e salários compatíveis com alta qualificação, atraindo profissionais de excelência do país e no exterior. Deve privilegiar a propriedade intelectual, como patentes, em vez de somente trabalhos publicados.

Infelizmente, há grupos que defendem que o governo deve comprar no mercado internacional as vacinas e outros insumos estratégicos necessários para o SUS, pois existe oferta global a baixo custo; e, por consequência, não há por que investir tanto esforço no fortalecimento da capacidade tecnológica nacional. Esta visão é de curtíssimo prazo, descomprometida com o país e uma armadilha, pois, além de promover a dependência, subjuga o SUS aos fornecedores multinacionais que buscam o lucro, em detrimento do acesso; esses fornecedores, no momento em que cancelarem suas linhas de produção devido a razões econômicas, provocarão o desabastecimento, com prejuízos incalculáveis para a saúde pública. Esta experiência foi vivenciada por nós várias vezes.

São urgentes, portanto, um esforço concentrado e uma mudança de paradigma no país, implementando uma política de Estado de longo prazo, voltada para o fortalecimento da capacidade tecnológica nacional para desenvolvimento das novas tecnologias preventivas e terapêuticas, o que assegurará a inovação, a produção autóctone de produtos estratégicos para a saúde da população.