A disputa eleitoral pela Prefeitura de São Paulo em 2016 começa a pautar as conversas nos partidos protagonistas da recém-encerrada campanha presidencial, a mais acirrada em 20 anos de enfrentamentos entre PT e PSDB. Dentro das duas legendas já circulam listas de nomes interessados nas indicações das siglas, enquanto pré-candidatos de outras legendas tentam, a exemplo do que ocorreu na corrida pelo Planalto, ser uma alternativa a essa polarização.

A capital paulista foi palco de fenômenos importantes para PT e PSDB na campanha encerrada no mês passado. Os tucanos avançaram sobre redutos que até eleições passadas eram predominantemente petistas nas periferias das zonas sul, como Capela do Socorro, e leste, como Itaquera. O resultado fez acender a luz de alerta no PT, partido que em 2012 obteve a terceira vitória na disputa municipal, mas a primeira superando um adversário do PSDB.

Poucos dias depois do 2.º turno da eleição presidencial, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, procurou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para dizer que está disposta a enfrentar o prefeito Fernando Haddad em prévias no PT. Lula não se posicionou contra nem assumiu qualquer compromisso com a ex-prefeita, que administrou a cidade de 2001 a 2004.

Entretanto, o ex-presidente lembrou que é natural os gestores buscarem a reeleição e citou a escolha de Dilma Rousseff como candidata neste ano - Marta foi entusiasta do Volta, Lula, o que a desgastou no Planalto.

No PT, o aviso é visto com desconfiança. Parte dos petistas crê que Marta está mesmo disposta a sair candidata, diante da baixa aprovação da gestão Haddad. A ministra - que já anunciou sua saída da pasta - pretende explorar o receio dos vereadores de verem a bancada ficar menor caso o desempenho do partido na disputa pela Prefeitura seja ruim.

Outra parte do PT acredita que Marta tenta se cacifar. Embora tenha sido bem avaliada no MinC, o desgaste com Dilma e com dirigentes do partido durante a campanha isolou a ex-prefeita. Ela poderia repetir a tática de 2012, quando levou a decisão de disputar prévias contra Haddad até a garantia de que seria nomeada ministra.

Seja quem for o candidato, o PT sabe que a disputa será difícil. "O PT está diante de uma esfinge e, se não souber responder suas perguntas, pode ser devorado", diz o presidente municipal do partido, vereador Paulo Fiorilo.

A pergunta é: por que o PT perdeu os votos da periferia que sempre o apoiou? Para a direção partidária, responder a essa questão é a principal tarefa para os próximos meses, antes de abrir o processo de escolha do candidato. Uma das respostas é melhorar a imagem da gestão Haddad, operação já em curso.

A avaliação do prefeito desabou após os protestos de 2013, mas se recuperou e teve 22% de ótimo e bom em setembro, segundo o Datafolha. É pouco, porém, para um candidato à reeleição.

Esses índices, associados ao desgaste do governo federal, ajudam a entender a ampliação da vantagem do PSDB sobre o PT no eleitorado paulistano. Em comparação com 2010, Dilma perdeu 14 pontos porcentuais entre os votos válidos no 1.º turno: foi de 38% há quatro anos para 24% em 5 de outubro. No 2.º turno, perdeu para Aécio Neves (PSDB) por 64% a 36%.

Na disputa estadual, Alexandre Padilha (PT) ganhou em 4 das 58 zonas eleitorais da cidade, abaixo das 21 vencidas pelo correligionário Aloizio Mercadante contra Geraldo Alckmin em 2010.

Prévias. Na seara tucana, o senador eleito José Serra avisou a aliados que não pretende disputar o cargo novamente. Com isso, os pré-candidatos que em 2012 abriram mão das prévias e o deputado José Aníbal - de quem agora é 1.º suplente, mas há dois anos foi o único a enfrentar Serra na votação interna - são novamente citados para a disputa interna.

"A ideia é que o partido realize prévias se mais de um nome se apresentar", disse o presidente do PSDB municipal, Milton Flávio. Ele avalia que a disputa por sua sucessão no diretório, em abril, vai iniciar esse processo. Por ora, os tucanos preferem a discrição e dizem que ainda é cedo para esse debate.

Em 2012, colocaram-se para a disputa interna, mas abriram mão em favor de Serra, o vereador Andrea Matarazzo e os deputados Bruno Covas e Ricardo Tripoli. O primeiro é ligado a Serra e o segundo, a Alckmin, que terá papel crucial nessa definição. Parte dos tucanos defende que o pré-candidato seja escolhido o quanto antes e nomeado secretário estadual, para ganhar visibilidade.

Tripoli, por sua vez, aposta em atrair o apoio de Aécio. Seus "trunfos" são justamente não ser ligado nem a Serra nem a Alckmin - ele era próximo de Mário Covas - e ter sido o deputado federal mais bem votado na capital. Para Aécio, ter um nome de confiança na principal disputa de 2016 será importante para o papel de líder da oposição ao PT.

 

Um microcosmo eleitoral no Rio Pequeno

As eleições de 2014 comprovaram um fenômeno descoberto pelo Estadão Dados em 2012 e que se repete há 12 anos: existe um pedaço da cidade de São Paulo que se comporta como um microcosmo eleitoral, ao distribuir seus votos entre os candidatos da mesma maneira que a capital como um todo.

Trata-se da zona eleitoral 374, no Rio Pequeno, zona oeste, com 227 mil votantes, 2,6% do total do município. O "mix" populacional espelha com fidelidade características etárias, sociais e raciais de São Paulo.

No 1.º turno, nas eleições para governador, o tucano Geraldo Alckmin teve 51,9% dos votos na cidade e 52% no Rio Pequeno. O placar quase igual também apareceu nos resultados do peemedebista Paulo Skaf (21,4% e 21,5%) e do petista Alexandre Padilha (22,2% e 21,4%).

Na disputa presidencial, Aécio Neves (PSDB) ficou com 44% na cidade e 45% no Rio Pequeno; Marina Silva, 26% e 24%; e Dilma Rousseff, 24% e 24%. No 2.º turno, a história se repetiu e foi a 18.ª votação seguida em que o Rio Pequeno foi a pequena São Paulo.