Passadas e conferidas as eleições, um tema é naturalmente discutido nas casas do Congresso: como serão as relações entre as bancadas do governo e da oposição. Fala-se muito em diálogo, e o maior interessado, obviamente, é quem está no poder, desejoso de muita conversa e pouca briga. O seu telhado é, como não poderia deixar de ser, transparente e de frágil vidro.

Este ano, o primeiro a tocar no assunto foi o senador Aécio Neves, herdeiro do sobrenome ilustre de Tancredo. O tema de seu monólogo foi o diálogo, mas a essência do discurso, para surpresa de ninguém, foi pau no governo. Ele começou citando algumas posições óbvias de quem não está no governo: defesa das liberdades políticas, com destaque (obrigado, obrigado) da de imprensa, transferência na administração pública e a mais óbvia de todas, da democracia.

Ele cobrou, especificamente, uma rigorosa apuração do escândalo de corrupção na Petrobras, que definiu como “o maior do país”. Tancredo, lá de cima, certamente bateu palmas para o herdeiro de seu manto político.

Foi, em suma, um discurso de briga, não de aceitação do diálogo bem educado talvez ingenuamente sonhado pelo Palácio do Planalto. Não poderia ser outra a atitude da oposição que, em qualquer país de estrutura democrática para valer, saberia como agir. Num segundo discurso, Aécio acusou o comportamento do governo na campanha eleitoral de ações condenáveis numa eleição democrática, citando o que chamou de terrorismo na busca de votos e “uso irresponsável de empresas públicas”. Seria, por exemplo, o caso dos Correios.

Observadores talvez ingênuos podem não ter notado o tal terrorismo, que incluiria, segundo Aécio, acusações de machismo, racismo e até “nostalgia da ditadura militar”. Mas é uma tradição nas democracias, aqui e além-mar: quem perde, chia. E o candidato derrotado do PSDB e outros representantes da oposição (que só na Inglaterra é chamada de “leal”) têm certamente o direito de chiar à vontade.