Um dos alvos da Operação Lava-Jato, que investiga desvios bilionários na Petrobras, o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, foi blindado pelo partido e ovacionado pelos integrantes do Diretório Nacional, ontem, durante reunião em Fortaleza. O desagravo e as palmas, puxadas pelo presidente do PT, Rui Falcão, aconteceram no encontro que, mais tarde, teve a participação da presidente Dilma Rousseff.

Ao falar sobre as finanças do PT, em encontro fechado em um hotel de Fortaleza, Vaccari se disse injustiçado e aproveitou para se defender das acusações de que seria um dos beneficiários do esquema de recebimento de propinas da Petrobras e de empreiteiras que mantêm negócios com a estatal.

O tesoureiro afirmou aos integrantes do Diretório Nacional: "Nunca fiz nada de errado". Vaccari disse não ter "nada a temer" e alegou que vem sendo alvo sistemático de "injustiças". Ele explicou aos petistas que seus sigilos bancário, fiscal e telefônico estão abertos desde 2000 e que nunca ninguém encontrou nada que o desabonasse.

Sobre as ligações telefônicas captadas pela Polícia Federal com integrantes da direção da Petrobras, Vaccari justificou que foram para marcar encontros, e que, por conta dessas suspeitas de denúncias, tem passado por constrangimentos familiares. Vaccari garantiu aos petistas que sempre participou de encontros com representantes de empresas para captar de forma legal recursos para o partido.

- Tudo o que foi arrecadado foi contabilizado. Eu sei o que fiz - assegurou aos correligionários.

Após suas declarações, os petistas prestaram total apoio ao tesoureiro, aplaudindo-o por vários minutos, liderados pelo presidente do PT, Rui Falcão, segundo relatos de dirigentes presentes à reunião, fechada à imprensa. Falcão também fez elogios a Vaccari.

O mesmo tipo de reação entre os petistas ocorreu na época do mensalão, que atingiu em cheio o então chefe da Casa Civil do governo Lula, José Dirceu. Após as denúncias e a condenação pelo Supremo Tribunal Federal, Dirceu foi tratado como "preso político" pelo partido, e a cada evento partidário a que comparecia era recepcionado pelos correligionários com gritos de "Dirceu, guerreiro do povo brasileiro".

Avesso a entrevistas e figura que pouco circula perto de jornalistas, Vaccari foi abordado pelo GLOBO ontem, após almoçar no restaurante do hotel onde se realizava o evento. Ao ser questionado sobre a Operação Lava-Jato e se estava confortável na posição de dirigente do partido apesar das suspeitas, respondeu, irritado:

- Não falo nem nas situações boas, nem nas situações ruins. Por que você insiste em fazer perguntas se sabe que eu não vou responder? - disse, enquanto aguardava o elevador para voltar à reunião.

Vaccari afirmou que ao longo de toda sua vida no PT deu apenas duas entrevistas e que não estava disposto, agora, a dar uma terceira.

O tesoureiro decidiu falar na reunião fechada sobre a sua situação quando os petistas definiam o número de participantes de um congresso nacional que ocorrerá no ano que vem. A dúvida é se seriam chamados 800 ou 1.600 petistas. Ele explicou que, por dificuldades financeiras, seria melhor reduzir o tamanho do congresso. Foi então que resolveu se defender das denúncias.

Apesar do apoio a Vaccari, não houve referência à condução da Polícia Federal na Operação Lava-Jato. Mas, nas conversas, haveria a desconfiança de que a PF estaria querendo colocar o PT como alvo das investigações.

- Houve 13 falas, e ninguém explicitou isso. Se há críticas à PF, são clandestinas. Deve ser aprovada uma resolução à parte sobre a Petrobras, mas no sentido de que o PT não concorda com o que fizeram lá, com os desvios, e que tem mesmo que apurar tudo - disse o ex-líder do PT na Câmara José Guimarães (CE).

Além da situação de Vaccari, o PT discutiu ontem documentos que irão definir os rumos de suas ações. O principal ponto é se reaproximar dos movimentos sociais e de tornar o partido mais transparente, além de superar os problemas de corrupção enfrentados nos últimos anos.

No documento base, que será votado na manhã de hoje, os petistas também defendem uma reformulação da estrutura interna de divisão em correntes, o que muitas vezes tem tornado o debate sectário. Petistas dizem que essa estrutura é um resquício dos movimentos sindicais dos anos 1970 e que é hora de superá-la. Deve constar também a defesa do projeto de regulação de mídia, redução de jornada de trabalho para 40 horas e fim do fator previdenciário.



Críticas à "guinada ideológica"

Durante as reuniões que começaram na noite de quinta-feira e se estenderam ontem, petistas criticaram as indicações de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e de Kátia Abreu para a Agricultura, sob o argumento de que mostram uma "guinada ideológica" do governo petista e fazem com que a política econômica flerte com o liberalismo dos tempos do governo de Fernando Henrique Cardoso. As críticas, no entanto, não foram majoritárias e não deverão integrar o documento oficial do partido.