LAUSANNE, Suíça - "Várias pastas cheias" de extratos bancários. É isso que três procuradores brasileiros estavam levando para o Brasil ontem à noite, após quatro dias na Suíça analisando documentos de contas bancárias do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. O ex-diretor depositou pelo menos US$ 26 milhões (cerca de R$ 65 milhões) no país europeu, dinheiro obtido no esquema de corrupção na estatal.

- Esses documentos vão nos permitir chegar a vários outros envolvidos no esquema - disse um dos procuradores, Deltan Dallagnol.

Os procuradores deixam a Suíça com a certeza de que o esquema de corrupção na Petrobras tema dimensão bem maior. Segundo Dallagnol, a cooperação com os suíços foi intensificada, a ponto de investigadores suíços terem sido convidados a vir ao Brasil para ver documentos que estão surgindo na Operação Lava-Jato:

- A viagem cumpriu o seu objetivo. Nós saímos satisfeitos. A cooperação foi intensificada.



Nova viagem à Suíça em janeiro

Os procuradores brasileiros deverão voltar à Suíça em janeiro. Segundo Dallagnol, quatro dias não foram suficientes para analisar todos os documentos da investigação naquele país:

- Não houve tempo de analisar tudo. A investigação deles é grande. Estão aprofundando bastante a investigação. Provavelmente, eles vão ao Brasil também para tomar conhecimento maior daquilo que a gente já tem lá.

Os investigadores brasileiros manterão o sigilo sobre o que viram nesses extratos. Dallagnol confirmou que as novas descobertas não chegarão a tempo para serem usadas nas denúncias que serão entregues em dezembro à Justiça. As contas de Costa foram descobertas pela Suíça como parte de uma investigação de lavagem de dinheiro sujo naquele país. E são apenas a ponta do iceberg, explicaram os procuradores.

Por exigência dos suíços, os brasileiros deixaram no Ministério Público de Lausanne todas as anotações que fizeram sobre a investigação mais amplas da Suíça, e que vão muito além de Costa. Alegando sigilo total do caso, eles não quiseram dizer se o que os suíços descobriram aponta para o envolvimento de mais brasileiros ou de estrangeiros no esquema da Petrobras.

Dar acesso à investigação e liberar todos os documentos das contas que Costa mantinha na Suíça em diversos bancos foi um gesto extraordinário do Ministério Público suíço, disseram os procuradores.

-Na verdade, a investigação é muito mais ampla do que Paulo Roberto - disse Dallagnol.



Cruzamento de dados das duas investigações

Segundo os procuradores, ao investigarem toda a cadeia de pagamentos , os suíços tentam identificar todos os envolvidos, brasileiros ou estrangeiros.

- Eles (os suíços) podem alcançar pessoas que a gente nem imaginava que existissem e que estão aqui também. A ideia é sobrepor o que as duas investigações (na Suíça e no Brasil) têm - explicou Deltan Dallagnol.

A investigação na Suíça corre em paralelo à investigação brasileira. E a ideia é cruzar os dados dos dois lados.

- As investigações deles são muito boas, avançaram bastante, e a cooperação é ampla. Não estão medindo esforços para investigar esse caso e adotar todas as providências cabíveis - afirmou o procurador Eduardo Pelella, chefe de gabinete do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Pelella já marcou sua volta à Suíça para janeiro. Os três procuradores (ele, Dallagnol e Orlando Martello) insistem que o sigilo precisa ser mantido, para que não seja prejudicada a colaboração com os suíços.

Perguntado sobre o que falta para o dinheiro de Costa voltar ao Brasil, Pelella explicou que agora é uma questão de procedimento da Suíça, "que diz respeito ao Ministério Publico suíço".

Foi o próprio Costa quem pediu oficialmente a transferência para uma conta do governo brasileiro dos milhões escondidos na Suíça. Isso explica por que o Brasil deverá obter a repatriação da fortuna roubada em tempo recorde, semanas ou poucos meses, segundo uma fonte.