Três pastas, quatro legendas interessadas no comando delas e um orçamento total de R$ 133 bilhões para 2015 - dos quais R$ 23 bilhões serão destinados exclusivamente para investimentos - estão em jogo na reforma ministerial que a presidente Dilma Rousseff desenha durante as miniférias na base naval de Aratu, na Bahia. PT, Pros, PSD e PP disputam as pastas da Educação, da Integração Nacional e das Cidades, todas essenciais para o futuro governo.
Hoje, os petistas têm 16 das 39 pastas, mas não admitem abrir mão do bilionário Ministério da Educação (veja quadro). O Pros comanda a Integração Nacional, mas quer um quadro político em vez do atual ministro, Francisco Teixeira, considerado de perfil técnico - e também mira a Educação. O PP luta para manter Cidades, e o PSD, que atualmente tem apenas a pasta da Micro e Pequena Empresa, sonha com ao menos uma mais expressiva.

Nessa equação, os representantes do Pros e do PSD cotados para integrar o primeiro escalão governamental - Cid Gomes e Gilberto Kassab - cacifaram-se mais pelas credenciais pessoais do que pelas bancadas que possuem na Câmara (11 e 37 deputados, respectivamente). A nomeação deles para a Esplanada seria uma retribuição pelo esforço de ambos em apoiar Dilma ao longo dos últimos dois anos e durante a corrida eleitoral.

Kassab vai se reunir com a presidente na quarta-feira, em Brasília. Não estará só. Levará os deputados federais e estaduais eleitos, além dos dois governadores do partido vitoriosos nas urnas - Raimundo Colombo, reeleito em Santa Catarina, e Robinson Faria, que venceu a disputa no Rio Grande do Norte. No discurso, o compromisso de que o PSD, neste segundo mandato, estará na base do governo. Outro fator pesa nesse apoio: a bancada pessedista poderá aumentar ainda mais, já que Kassab empenha-se na ressurreição do Partido Liberal (PL) para que, posteriormente, funda-se com o PSD.

Dentro do governo, a aposta é de que Kassab, ex-prefeito de São Paulo, será indicado para o Ministério das Cidades, pasta que, desde a saída do petista Olívio Dutra, no início do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, é ocupada pelo PP. Responsável por agilizar um dos programas mais caros à presidente Dilma, o Minha Casa, Minha Vida, esse ministério ainda cuida dos investimentos nas áreas de saneamento básico e mobilidade urbana - essa última, um gargalo que levou milhares de pessoas, especialmente jovens, às ruas em junho de 2013.

O PP, contudo, confia que a situação não vai se alterar. "A presidente não nos chamou ainda para qualquer conversa, mas não vemos razão para que saiamos do Ministério das Cidades. O partido sempre foi muito correto ao longo desse tempo", disse ao Correio o presidente nacional da legenda, senador Ciro Nogueira (PI). No reequilíbrio de forças políticas, se Kassab assumir de fato a pasta das Cidades, os pepistas poderiam ser deslocados para a Integração Nacional, que, atualmente, está sob a tutela de Francisco Teixeira, filiado ao Pros e ligado politicamente aos irmãos Cid e Ciro Gomes.

Nordeste

Quando Fernando Bezerra Coelho deixou a Integração Nacional, após a debandada do PSB do governo em 2013 - um movimento para justificar a candidatura presidencial de Eduardo Campos -, o PP chegou a se alvoroçar com a possibilidade de ampliar seus domínios na Esplanada. Acabou desistindo, mas poderá fazer esse movimento agora. É consenso que a pasta terá de ser ocupada por um representante do Nordeste. Entre os pepistas, o expoente é o próprio Ciro Nogueira.

Nogueira já tinha sido cotado para o ministério no início do ano, mas apoiou a indicação de Gilberto Occhi para o Ministério das Cidades. De lá para cá, contudo, a situação mudou. O senador foi um dos citados pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa como beneficiário do esquema investigado na Operação Lava-Jato, o que deve levar Dilma a não correr o risco de indicar alguém sobre quem pesam suspeições. Entretanto, a possibilidade não está descartada. "Ele foi bastante enfático na própria defesa ao dizer que renunciaria ao mandato se fosse comprovado envolvimento com o doleiro Alberto Youssef", contemporizou um interlocutor palaciano.

Já o Pros poderá desalojar o PT do Ministério da Educação pela primeira vez desde 2003. O responsável por essa façanha, caso ocorra, será o governador do Ceará, Cid Gomes, cujo governo promoveu mudanças no setor que agradaram a Dilma. Cid, contudo, tem repetido que seu projeto pessoal é se tornar consultor especial do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em Washington, nos Estados Unidos.

O que está em jogo

Confira o orçamento dos ministérios cobiçados por PSD, Pros, PP e PT

Educação

Orçamento*: R$ 12,29 bilhões de investimentos, dentro de um orçamento total de R$ 101,2 bilhões

Situação: Atualmente, sob comando de Henrique Paim (PT)

Integração Nacional

Orçamento*: R$ 4,18 bilhões de investimentos, dentro de um orçamento total de R$ 5,95 bilhões

Situação: Comandado por Francisco Teixeira (Pros)

Cidades

Orçamento*: R$ 7,08 bilhões de investimentos, dentro de um orçamento total de R$ 27,8 bilhões

Situação: Comandado por Gilberto Occhi (PP)


*Previsão para 2015

 

 

 

Articulação petista em busca de paz

 

 

Enquanto a presidente Dilma Rousseff quebra a cabeça para formar a nova equipe ministerial, os articuladores políticos do Planalto sofrem para tentar convencer o PMDB da Câmara a desistir de aprovar projetos que vão deteriorar ainda mais as contas públicas. As matérias, se aprovadas, causariam um rombo de R$ 67 bilhões no Orçamento. 

Um dia depois de ser chamado para uma conversa com o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-AL), reuniu-se com Ricardo Berzoini, ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI). Berzoini tenta aproveitar-se do bom relacionamento que tem com o PMDB, sobretudo com o vice-presidente Michel Temer, para tentar pacificar a situação. Quando assumiu a pasta, em fevereiro deste ano, Berzoini convidou o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ) - que comandou um bloco rebelde na Casa - para uma conversa no Planalto. 

O clima entre o PMDB da Câmara e o Planalto desanuviou um pouco, mas a encrenca voltou redobrada durante as eleições. Cunha apoiou abertamente o tucano Aécio Neves e ajudou a financiar a campanha de peemedebistas em todo o Brasil para se cacifar à eleição para a presidência da Casa, em fevereiro do ano que vem. Já Henrique Eduardo Alves, que volta à Câmara derrotado na disputa pelo governo potiguar, queixa-se que perdeu porque o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez campanha para o vencedor, Robinson Faria (PSD).