Título: Economia mundial em perigo
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 18/06/2011, Economia, p. 19

FMI reduz a estimativa de expansão para o planeta neste ano a 4,3%, diante dos fracos sinais da atividade nos Estados Unidos e da grave crise europeia. A instituição pede que os governos mantenham o ajuste fiscal

São Paulo ¿ Os riscos de calote em países europeus, a lenta recuperação dos Estados Unidos e os sinais de superaquecimento em nações emergentes são grandes entraves à reativação da economia mundial. A advertência foi feita ontem por Olivier Blanchard, diretor do Departamento de Pesquisas do Fundo Monetário Internacional (FMI). "Há riscos muito claros", disse. Não à toa, o organismo reduziu as previsões de crescimento para o mundo neste ano, de 4,4% para 4,3%. Em 2012, a expansão deverá ficar em 4,5%, puxada, sobretudo, pelos emergentes.

Na avaliação de Blanchard, felizmente a perda de ritmo da economia mundial parece ser temporária. Segundo ele, o enfraquecimento maior do que o previsto da atividade nos EUA e uma renovada instabilidade financeira por causa dos desequilíbrios fiscais na periferia da Zona do Euro estão minando a confiança quanto a uma recuperação mais consistente da atividade. O economista não escondeu a sua particular preocupação com a Grécia, que caminha na corda bamba de um calote, que, se confirmado, afetará as outras economias do bloco.

Risco de caos "Os problemas na Grécia e as dificuldades de outras nações da Zona do Euro são uma ameaça que pode atrapalhar a retomada econômica da Europa e, talvez, do mundo", afirmou Blanchard. A seu ver, "o que está em jogo é muito importante", no momento em que a região tenta deixar a instabilidade. "A Zona do Euro tem pela frente um longo e doloroso processo para recuperar sua saúde fiscal", disse. No seu entender, o fracasso dos governos em corrigir os desequilíbrios da região certamente levará ao caos.

Pelas contas do FMI, a Zona do Euro deverá crescer 2% neste ano ante previsão anterior de 1,6%. Em 2012, a estimativa recuou de 1,8% para 1,7%. Para os Estados Unidos, o Fundo diminuiu de 2,8% para 2,5% a projeção de alta do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano e de 2,9% para 2,7% em 2012. Segundo o organismos, o enfraquecimento da atividade maior do que o previsto nos EUA é, em parte, reflexo de fatores passageiros, entre eles o aumento dos preços das commodities (produtos primários com cotação internacional), o mau tempo e as perturbações da cadeia de produção na indústria provocadas pelo terremoto no Japão.

O FMI chamou ainda a atenção para a necessidade de o Congresso norte-americano respeitar imediatamente o teto legal da dívida pública do governo, que é hoje refém de divergências entre parlamentares republicanos e democratas. Se não conseguir aprovar o aumento dos débitos, que totalizam US$ 14 trilhões, os EUA poderão decretar um "calote temporário", como já admitiu o presidente do país, Barack Obama.

Decepção Blanchard não escondeu a decepção com o elevado endividamento dos países ricos. No caso dos EUA, os débitos deverão passar de 98,3 para 102,3% do PIB, mesmo com o recuo do rombo no caixa to Tesouro norte-americano, de 9,9% para 7,8% do PIB. A situação mais preocupante, porém, é a do Japão, cuja economia deverá encolher 0,7% em 2011 diante de um terremoto devastador seguido de tsunami e avançar apenas 2,9% no ano que vem. A dívida pública japonesa saltará, no fim de 2012, para 236,7% do PIB.

Segundo o FMI, chegou a hora de todos os países adotarem posturas mais rígidas no controle das contas públicas, de forma que, ao longo do tempo, os ajustes evitem surpresas desagradáveis, como a que se viu na Grécia. Ao longo de muito tempo aquele país maquiou as finanças e escondeu um rombo superior a 13% do PIB. Felizmente, na avaliação do organismo, os governos europeus, sobretudo, têm mostrado empenho e resolver os desequilíbrios fiscais. Mas Blanchard fez um alerta: "Os políticos devem agir agora para tornar mais robusto o sistema financeiro".

Outra preocupação do economista é com os riscos de "superaquecimento" de algumas economias emergentes. "A inflação está crescendo além do que pode ser explicado pelos preços das matérias primas e dos alimentos", ressaltou, lembrando que a China continuará sendo a campeã do crescimento em 2011: 9,6%.