De um lado, a preocupação sobre um possível rombo nas contas públicas do Governo do Distrito Federal na ordem de R$ 2,1 bilhões. Do outro, a garantia de que a situação não é essa, e que a casa está em ordem. As finanças do GDF deram a tônica do primeiro encontro entre o governador eleito, Rodrigo Rollemberg (PSB), e o atual, Agnelo Queiroz (PT), ontem pela manhã, no Palácio do Buriti, para tratar dos passos iniciais oficiais da transição entre os dois grupos. A certeza sobre a real situação financeira, no entanto, o grupo da futura administração só obterá quando tiver acesso aos relatórios técnicos e contábeis de contratos em andamento, pagamentos a serem feitos, folha de servidores e reajustes concedidos e futuros para o funcionalismo, entre outros. "Há sempre uma preocupação financeira", admitiu o socialista.
O novo governador tem dito, desde a vitória nas urnas, que a situação das finanças deve ser uma das principais dificuldades do início de gestão. Segundo Rollemberg, o deficit teria sido reconhecido e até publicado pelo Diário Oficial do DF (DODF). "Nós precisamos ter as informações necessárias. A questão é saber qual é a real capacidade financeira do Distrito Federal para que possamos dar continuidade aos serviços públicos e iniciar o cumprimento dos nossos compromissos de campanha", afirmou, ontem, em entrevista coletiva, ao lado do petista.

Mesmo que não tenha negado com veemência, o atual governador deu a entender que as especulações não correspondem à realidade. "É preciso ter as informações oficiais. Precisamos ter responsabilidade", salientou, acrescentando que a equipe dele vai dar todos os dados solicitados e disponibilizar a estrutura necessária para o trabalho do grupo de transição do futuro governo (veja composição em quadro). Agnelo afirma que deixará o DF com todos os serviços públicos funcionando e em um estado muito melhor do que ele recebeu em janeiro de 2011 das mãos de Rogério Rosso, hoje deputado eleito pelo PSD e aliado de Rollemberg. "Vou passar, aproximadamente, R$ 25 bilhões em obras contratadas e em curso. Isso é quatro vezes o investimento de um governo de quatro anos. Vou entregar um grande superavit para o próximo governo", garantiu.

Mas Rollemberg está longe de se sentir tranquilo. Boa parte dos assessores técnicos mais próximos, que acompanhavam as contas da atual gestão desde o ano passado, só acreditarão que a situação está razoável quando tiverem acesso a todos os dados. O governador eleito explicou que é elaborado um conjunto de perguntas sobre questões financeiras. Um dos pontos que ele quer saber passa pelos contratos que terminam em 31 de dezembro e que deverão ser prorrogados. "Precisamos tomar medidas antes do fim da gestão para que não ocorra a descontinuidade de serviços públicos fundamentais", avaliou. O grupo de transição do novo governo vai se articular com uma equipe da atual administração coordenada pela Casa Civil e pela Secretaria de Planejamento - também estão representadas as áreas de comunicação/publicidade, governo, administração e casa militar.

Momentos distintos

A reunião de ontem entre Agnelo e Rollemberg foi completamente diferente dos momentos vividos pelos dois em campanhas eleitorais passadas e, principalmente, há quatro anos. Em 2010, os dois caminharam juntos e, no fim, também comemoraram lado a lado. O petista foi alçado, então, à condição de ocupante principal do Palácio do Buriti, enquanto o companheiro chegava ao Senado Federal. Não havia motivos para crises, afinal, o grupo deles - formado por PT, PSB, PDT e outros tantos partidos - tinha aplicado uma derrota significativa ao tradicional clã Roriz. Mas bastou que o governo iniciasse de fato, em 1º de janeiro de 2011, para que os problemas no casamento começassem a nascer.

Em busca de base de apoio, principalmente legislativa, o governo criou uma aliança muito eclética. Logo, aliados começaram a se estranhar. No fim de 2011, o professor Paulo Salles, ligado diretamente a Rollemberg, foi demitido da Fundação de Amparo à Pesquisa (FAP) pelo grupo do então secretário de Ciência e Tecnologia Cristiano Araújo (PTB). Foi um dos primeiros desentendimentos entre o senador e Agnelo. Mas o PSB só saiu do governo um ano depois.

Logo veio a campanha de 2014 e, agora em trincheira inimiga, o socialista não poupou e não foi poupado por Agnelo. Bateu e apanhou do petista no primeiro turno. No segundo, manteve o tom crítico - tanto que Agnelo pregou o voto nulo. Depois de uma ligação formal parabenizando pela vitória, no domingo passado, Rollemberg voltou a apertar a mão de Agnelo Queiroz ontem. Um cumprimento não tão caloroso como outrora. O tom formal e oficial no discurso da dupla, além do constrangimento público sobre assuntos financeiros, demonstraram que os desgastes do governo e da campanha talvez demorem a ser superados. "Foi uma boa reunião", limitou-se a dizer o futuro governador.

A equipe do novo governador

Helio Doyle 

Coordenador-geral 

» Tem funções técnicas e políticas e é porta-voz na transição. Jornalista, mestre em comunicação e doutor em relações internacionais pela UnB, trabalhou em vários veículos. Foi coordenador da campanha de Rollemberg; de Cristovam Buarque, em 1994; de Joaquim Roriz, em 2002; e de Maria de Lourdes Abadia, em 2006. Fundador do PT, filiou-se ao PSD para atrair a sigla à coligação. Após a vitória, se desligou do partido. 

Leany Lemos 

Coordenadora executiva 

» Auxiliará o coordenador-geral. Responsável por cuidar das questões internas, como articulações. É graduada em letras, mestre em ciência política e doutora em estudos comparativos das Américas pela UnB. Servidora de carreira do Senado, possui pós-doutorado em ciência política por Oxford e Princeton. É chefe de gabinete da liderança do PSB no Senado. Participou da elaboração do plano de governo. 

Carlos Henrique Tomé 

Coordenador de área técnica 

» Coordenará e supervisionará os grupos temáticos, além da articulação entre eles. Formado em direito e engenharia civil, tem especialização e mestrado em relações internacionais pela UnB. Servidor do Senado, é consultor legislativo para as áreas de meio ambiente, sustentabilidade e ciência e tecnologia. Atualmente, é subchefe de gabinete da liderança do PSB na Casa. Participou da elaboração do plano de governo. 

Paulo Salles 

Coordenador de modelo de gestão 

» Estuda a nova estrutura administrativa. Ele deve definir as áreas que podem virar secretarias. É biólogo e professor da UnB e PhD em ecologia pela Universidade de Edimburgo (Escócia). Sua demissão da Fundação de Amparo à Pesquisa (FAP) por Agnelo Queiroz seria um dos motivos de desgate entre Rollemberg e o governador. Salles coordenou o plano de governo. Filiado ao PSB, é compadre e amigo do socialista. 

Rômulo Neves 

Coordenador de relação com o governo 

» Atuará como um intermediário entre as equipes do atual e do novo governos. É cientista social formado pela USP, onde também fez mestrado em sociologia. Diplomata formado pelo Instituto Rio Branco, trabalhou nas embaixadas da Venezuela, Suriname e Etiópia. É ministro-conselheiro da Embaixada do Brasil junto à Etiópia e à União Africana. Filiou-se ao PSB e foi candidato a distrital em 2010, mas não se elegeu. 

Marcos Dantas 

Coordenador de relações 

políticas e sociais 

» Tratará de assuntos relacionados com os partidos da base de Rollemberg e dos movimentos sociais. Será o ponto de ligação entre o conselho político (formado pelos partidos) e a equipe de transição. É bacharel em administração, com pós-graduação em administração pública. É servidor do governo federal cedido para o Senado. É o atual presidente local do PSB.