Título: A base para a inovação
Autor: Ruiz, Antonio Ibañez
Fonte: Correio Braziliense, 18/06/2011, Opinião, p. 27

Professor da UnB, assessor do Ministério de Ciência e Tecnologia, foi reitor da UnB, secretário de Educação do DF, secretário nacional de Educação Profissional e Tecnológica, do Ministério da Educação, e conselheiro do Conselho Nacional de Educação

É cada vez maior a participação da ciência e da tecnologia no universo da economia e no desenvolvimento sustentável das nações. Isso se deve ao fato de que o crescimento econômico dos países está cada vez mais dependente da competitividade das empresas que têm por base o desenvolvimento científico e tecnológico e como objetivo a inovação.

Todos os países estão voltados para investir cada vez mais em inovação, especificamente na tecnológica. Essa é a razão para uma maior preocupação com a educação. Em países com maior tradição de investimento no setor, os estudos se multiplicam e se aprofundam com um único objetivo: melhorar a qualidade da educação em ciências e matemáticas, desde os primeiros anos de escola.

Em 2010, The Royal Society divulgou amplo estudo de como o Reino Unido deve agir para garantir um futuro de prosperidade neste século, predominantemente científico e tecnológico. O trabalho faz parte do documento O estado da nação, voltado para ciência e matemática, na educação básica e na universidade.

Outro documento recente e que mostra o grau de preocupação dos países com a educação, na nova geografia mundial da inovação, é o relatório do grupo Goldman Sachs. O estudo mostra a necessidade de investimentos em educação, especificamente em ciência, tecnologia, engenharia e matemática para garantir a competitividade dos países do G7.

Portanto, o Brasil, optando por um modelo de desenvolvimento sustentável, tendo por base a inovação, pressupõe investimento em recursos humanos, especialmente nas áreas citadas, muito além do que tem sido feito até agora e que não foi pouca coisa.

É justamente nessas áreas que o país enfrenta as maiores dificuldades. Alguns dos problemas: 1. faltam professores com graduação em física, química, matemática e biologia para alunos do ensino fundamental e do médio (consequência dos baixos salários e das condições de trabalho, entre as quais, carreira docente, dedicação exclusiva e carga horária em sala de aula); 2. há elevada taxa de repetência e evasão (mais de 30%), diminuindo drasticamente o número de alunos que se formam no ensino médio; 3. somente 15% dos alunos de 18 a 24 anos optam por um curso de educação superior; 4. pouco mais de 4% dos alunos graduados em cursos de educação superior são formados em engenharia; 5. o número de profissionais atuando nas empresas, teoricamente preparados para desenvolvimento tecnológico e inovação, é pouco significativo.

Alguns desses problemas estão sendo amenizados mediante tratamento pontual, utilizando diversos tipos de bolsas, por exemplo, a título de incentivo e/ou motivação. Acontece que o modelo de desenvolvimento econômico, com prioridade para a inovação, deve ser sustentável e sustentado. Significa que as questões pontuais poderão resolver problemas a curto e médio prazo, mas não sustentadamente, a longo prazo, como pressupõe o novo modelo.

Nunca os ministérios de Ciência e Tecnologia e da Educação tiveram tamanha oportunidade de, juntos, elaborar um plano para incentivar o ensino e o aprendizado de ciências e matemática, que sensibilize desde a criança do ensino fundamental, passando pelos estudantes do ensino médio e universitário e atingindo a pós-graduação.

Um plano que, acoplado com as soluções pontuais, permita ao Brasil almejar modelo de desenvolvimento econômico embasado num conhecimento científico e tecnológico, com prioridade na inovação, mas que possa ser pensado de forma sustentada para os próximos 20 ou 30 anos.