Por julgar que colaborou de forma fundamental para a Operação Lava-Jato, inclusive em ação que prendeu executivos de empreiteiras, o doleiro Alberto Youssef pediu à Justiça que sejam suspensos os processos a que responde por lavagem de dinheiro. A ideia com isso é ganhar tempo para que seja homologada sua delação premiada, o que poderá reduzir a pena nos julgamentos. 

O primeiro pedido foi feito na ação em que é acusado de remeter recursos ilegalmente para o exterior pelo laboratório Labogen. Um de seus advogados, Tracy Reinald, disse ao Correio que logo serão feitos pedidos de suspensão em outros processos, como o que responde por ter operado desvios de dinheiro da Petrobras por meio da fornecedora de tubos Sanko Sider e da construtora Camargo Corrêa. 

O advogado mencionou à Justiça decisão do próprio juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal, que suspendeu o andamento de processos do doleiro referentes ao caso Banestado, do início da década passada. Os processos haviam sido reabertos depois que foi constatado que Youssef descumpriu acordo de delação premiada de dez anos atrás ao voltar a operar no mercado ilegal de câmbio. Com a nova delação premiada, Moro suspendeu o processo mais uma vez. 

Além disso, no início da semana, Tracy e a equipe de advogados do doleiro argumentaram a importância da ajuda do doleiro na Operação Juízo Final, que prendeu executivos de empreiteiras e o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, ligado ao PT. "Essa sétima fase não seria possível sem a colaboração do Alberto Youssef", argumentou Tracy. 

Oitiva 

Na tarde de ontem, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa depôs por cerca de duas horas e meia em sua residência, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, perante a promotora do Ministério Público estadual Gláucia Santana. Ela queria ouvi-lo para instruir duas investigações. 

Numa, a promotora apura se o presidente licenciado da Transpetro, o ex-senador Sérgio Machado, do PMDB, teve evolução patrimonial incompatível com sua renda. Paulo Roberto disse ter recebido dele R$ 500 mil em propinas para ajudá-lo na contratação de "alguns navios". Noutra investigação, Gláucia apura se houve superfaturamento na ampliação do Cenpes, um centro de pesquisas da Petrobras. A obra foi feita por várias empreiteiras, entre elas a Andrade Gutierrez, considerada por Paulo Roberto como integrante do cartel de construtoras que superfaturava preços e combinava resultados em licitações. 

O Ministério Público do Rio não esclareceu o resultado da oitiva, alegando sigilo. E, segundo o defensor do ex-diretor, Paulo Roberto não prestou nenhum esclarecimento relevante para a investigação. O advogado João Mestieri disse que seu cliente não comentou nada sobre Sérgio Machado ou detalhou qual seria o negócio de navios que ele relatou à 13ª Vara. Afirmou ainda que Paulo Roberto disse não ter dados sobre o Cenpes porque essa não era sua área. Nas mais de duas horas de oitiva, assegurou Mestieri, o ex-diretor apenas detalhou como funciona a Petrobras e seus sistemas de compra. "Foi uma aula", disse. 

Na semana que vem, a força-tarefa de procuradores da Operação Lava-Jato deve começar a analisar informações obtidas na Suíça. Os principais objetivos da missão eram acelerar a repatriação de US$ 26 milhões de Paulo Roberto, cuja maior parte ele diz ter recebido da Odebrecht sob forma de propinas, e checar a existência de outras contas secretas no país, como do ex-diretor de Serviços Renato Duque e do lobista Fernando Baiano. 

Assessores do Ministério Público não esclareceram se os procuradores Deltan Dallgnol e Orlando Martello vão trazer documentos obtidos na Suíça ou apenas a informação da existência deles. Nesse segundo caso, o papel dos investigadores é esperar a liberação oficial dos papéis e usar esse conhecimento para orientar diligências e saber quando testemunhas mentem.