Título: Homofobia na mira
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 18/06/2011, Mundo, p. 28

No Brasil, que ostenta os números mais elevados do mundo para crimes (oficialmente registrados) contra gays, lésbicas, bissexuais e travestis, segundo estudo feito pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), os defensores dos direitos dos homossexuais receberam a resolução das Nações Unidas na expectativa de que ela reforce o combate à homofobia no país. Representantes de ONGs ouvidos pelo Correio concordaram em que o texto pode ter grande impacto na luta contra o preconceito, mas observaram que o exercício pleno da liberdade de orientação sexual depende da adoção de medidas efetivas.

O presidente do Grupo Arco-Íris, do Rio de Janeiro, Julio Moreira, saudou como histórica a decisão, principalmente num momento em que a aceitação do homossexualismo está no centro do debate no país. "Hoje, vivemos um quadro de exclusão muito grande, e a aprovação de uma resolução com esse alcance significa um avanço enorme no reconhecimento dos direitos iguais", avalia.

Segundo Moreira, o estudo mundial sobre práticas discriminatórias, encomendado pela resolução ao Alto Comissariado para Direitos Humanos, permitirá também que se entendam mais a fundo os casos de homofobia e que se consiga, efetivamente, mudar as situações de exclusão e violência contra gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros. "É a partir de dados que se podem fazer políticas públicas. Hoje, por exemplo, o Rio de Janeiro é o único estado brasileiro que alega, em registros de boletins policiais, a homofobia como causa. É importante ter informação para efetivar ações contra essas práticas", argumenta.

Para o presidente da ONG brasiliense Estruturação, Michel Platini, apesar de uma resolução das Nações Unidas ter grande envergadura, o reconhecimento não significa automaticamente mudanças concretas. "A resolução acaba não sendo "resolutiva", porque não determina ações", critica. Platini destaca, porém, que "um organismo como a ONU, com respaldo internacional, referenda toda a luta homossexual e dá uma resposta para a sociedade: mostra que a questão precisa ser tratada com mais respeito e mais dignidade".