Após registrar quatro trimestres consecutivos de retração, a indústria voltou a crescer, com expansão de 1,7% de julho a setembro, o melhor resultado entre os setores produtivos na comparação com o período imediatamente anterior. Em relação ao terceiro trimestre do ano passado, contudo, o setor ainda amarga queda, de 1,5%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pequena melhora também não conseguiu evitar o colapso da produção no ano. Nos sete meses de 2014, a indústria encolheu 1,4%, na comparação com o mesmo período do ano passado. 

As sucessivas quedas de produção fizeram a indústria perder participação no Produto Interno Bruto (PIB). No terceiro trimestre, o setor representou apenas 21,9% da economia. E o número tende a diminuir nos próximos trimestres, uma vez que o principal motor de sustentação do segmento, nos últimos anos, eram as reduções do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que serão revogadas em 2015. 

Efeito Copa 

Para o professor da Universidade de Brasília (UnB) Newton Marques, especialista em macroeconomia, ainda é prematuro falar em retomada do crescimento industrial. "É uma coisa pontual. É normal neste período do ano que os setor ganhe certo fôlego", afirmou. Além disso, o índice parece maior do que realmente é por conta da base de comparação, muito deprimida. A expansão também reflete o fim do efeito Copa do Mundo, que, no trimestre anterior, aumentou o número de feriados. 

Na comparação com o terceiro trimestre de 2013, apenas os segmentos extrativo mineral e de produção de eletricidade, gás e água registraram elevação - de 8,2% e de 0,6%, respectivamente. A construção civil caiu 5,3% e a indústria de transformação recuou 3,6% -com destaques negativos, segundo o IBGE, para indústria automotiva, produtos de metal, máquinas e equipamentos, metalurgia e mobiliário. 

Perdas 

Em relação ao segundo trimestre do ano, a indústria extrativa mineral expandiu 2,2%, seguida pelos segmentos de construção civil (1,3%), transformação (0,7%) e eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (0,1%). Para o analista da Tendências Consultoria Rafael Bacciotti, o setor que mais ganhou fôlego foi o de extração mineral, sobretudo, gás, petróleo e minério de ferro. "A alta da indústria de transformação foi menos expressiva e ainda não é possível falar em retomada do crescimento. O ano de 2015 tende a ser um pouco melhor, mas sem recuperação das perdas", analisou. 

Bacciotti destacou que a menor pressão de salários deve dar um gás na competitividade da indústria, mesmo que o setor não cresça muito em 2015. "No ano que vem, os salários serão reajustados em índices inferiores aos deste ano porque as demissões já começaram e há estagnação na geração de emprego", assinalou. 

Para o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, a interrupção da queda da atividade industrial não significa retomada da expansão. "O Brasil precisa tomar medidas que tragam competitividade para sua economia para retomarmos uma trajetória de crescimento sustentado. Não se pode falar em aumento de impostos com esse PIB", afirmou Skaf, criticando o fim das desonerações. 

Cai preço da energia 

Insumo estratégico para a indústria, o valor da eletricidade para a próxima semana, dado pelo Preço de Energia de Curto prazo (PLD), caiu cerca de um terço em todas as regiões, depois de permanecer mais de um mês no máximo permitido. Segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), o PLD das cargas pesada e média caiu para R$ 549,18 por megawatt-hora, enquanto na carga leve o valor baixou para R$ 547,99. Nos dois casos, as quedas foram de cerca de 33% ante o teto de R$ 822,83. O recuo decorre da perspectiva mais favorável de chuvas sobre as represas de hidrelétricas do Sudeste e do Centro-Oeste, onde estão as principais usinas do país.