Houve “erro material” na menção ao diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza, como destinatário de propinas pagas pelo esquema revelado pela Operação Lava-Jato, esclareceu ontem a Polícia Federal. Em depoimentos tomados após as prisões dos executivos de empreiteiras na fase “juízo final” da operação, alguns delegados interrogaram os suspeitos questionando se eles sabiam algo além de uma suposta acusação de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef. A notícia serviu para se especular até a demissão do diretor da empresa, a fim de não contaminar a gestão da presidente Dilma Rousseff e da presidente da estatal, Maria das Graças Foster.

Ontem, o delegado Márcio Adriano Anselmo, um dos principais investigadores do caso, informou ao juiz da 13ª Vara Federal, Sérgio Fernando Moro, que houve um mal-entendido. “Não há, até o momento, nos autos, qualquer elemento que evidencie a participação do atual diretor no esquema de distribuição de vantagens ilícitas no âmbito da Petrobras”, esclareceu o policial.

O juiz havia questionado a PF a pedido das defesas dos suspeitos. “Diante de informações constantes nos autos, acerca de indagações aos investigados acerca de supostos pagamentos efetuados a outro dirigente da Petrobras, José Carlos Cozenza, intime-se a autoridade policial para esclarecer se, de fato, há alguma prova concreta nesse sentido”, afirmou o juiz. “Até o momento, este Juízo não foi informado de nada a esse respeito”, completou.

Segundo Anselmo, a menção ao atual diretor apareceu em vários interrogatórios. “Por erro material, constou o nome de Cosenza em relação de eventuais beneficiários de vantagens ilícitas”, explicou o delegado. A confusão também se deu porque ele substituiu Paulo Roberto Costa na Diretoria de Refino e Abastecimento da Petrobras. “Em relação ao outro quesito em que se questiona se os investigados o conhecem, foi formulado apenas em razão de ele ter sucedido a Paulo Roberto Costa, área em que foram identificados os pagamentos, bem como por ter sido seu gerente executivo”, esclareceu o delegado.

Troca
Quando Dilma assumiu o Palácio do Planalto, trocou boa parte da diretoria da Petrobras. Além do presidente, José Sérgio Gabrielli, saíram da equipe Paulo Roberto e Renato Duque, que dirigia o setor de Serviços e Engenharia e na semana passada acabou preso pela Polícia Federal acusado de receber propinas do esquema. Até o momento, todas as suspeitas da Operação Lava-Jato recaem sobre a diretoria indicada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A acusação sobre Cosenza quebraria uma espécie de cordão de isolamento ao redor da gestão de Dilma Rousseff e Graça Foster.

Quando circulou a notícia do suposto envolvimento do atual diretor, ele e a Petrobras reagiram. “O diretor de Abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza, nega, veementemente, as imputações de que tenha recebido ‘comissões’ de empreiteiras contratadas pela Petrobras, ao tempo que reafirma que jamais teve contato com Alberto Youssef”, afirmou a petroleira em nota na segunda-feira.

A menção ganhou ainda mais força devido à presença de Cosenza ao lado de Graça Foster, no anúncio da criação de uma diretoria de governança dentro da empresa.

Acesso negado
Ontem, Sérgio Moro não autorizou o acesso dos investigados aos depoimentos prestados em regime de delação premiada por Paulo Roberto, Youssef, os executivos Júlio Gerín Camargo e Augusto de Mendonça Neto, da Toyo Setal, e o ex-gerente de Serviços Pedro José Barusco Filho. Segundo o juiz, as declarações de Paulo Roberto estão no Supremo Tribunal Federal e devem ser solicitadas ao ministro Teori Zavascki.

 

 

A banalização da propina

 

 

Apontado como o operador do PMDB no esquema de corrupção montado na Petrobras, o lobista Fernando Baiano, que se entregou na terça-feira à Polícia Federal, “faz prospecção de negócios” de acordo com o seu advogado, Mario Oliveira Filho. Em depoimento na Justiça Federal do Paraná, o doleiro Alberto Youssef, um dos líderes da organização criminosa que movimentou R$ 10 bilhões, afirmou que Baiano arrecadava propina para os peemedebistas. 

Oliveira Filho minimizou as denúncias e disse que não há obra pública sem “acerto”. “O empresário, se porventura, faz alguma composição ilícita com político para pagar alguma coisa, se ele não fizer isso, não tem obra”, afirmou Oliveira Filho. De acordo com o advogado, Baiano desenvolve apenas atividade lícitas. “Ele é um empresário, proprietário de duas empresas antigas e faz prospecção de negócios. Descobre onde está o problema de uma infraestrutura e vai atrás de solução”, rebateu o advogado.

Em depoimento prestado em outubro, no processo que apura desvios nas obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa também envolveu Fernando Baiano na engrenagem da corrupção desvendada pela Lava-Jato. “No PMDB, a ligação na Diretoria Internacional, o nome que fazia essa articulação toda se chama Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano”, afirmou.

O lobista deveria ter prestado depoimento ontem, mas a Polícia Federal adiou a ouvida para amanhã. “O depoimento ficou para sexta, não sei a que horas nem sei o motivo”, informou Mario Oliveira Filho. Ele ressaltou que “não existe a menor chance” de o seu cliente fechar acordo de delação premiada com a Justiça Federal no âmbito do processo da Operação Lava-Jato.

O advogado salientou, sem entrar em detalhes, que o cliente fechou negócios lícitos com a estatal petrolífera. A defesa nega que ele tenha ligação com qualquer partido político. “O que percebo é uma ligação equivocada. Alguns dizem que a Diretoria Internacional da Petrobras é do pessoal do PMDB, enquanto outros dizem que é indicação do PT. Como Fernando teve negócios com a área internacional, então ele teria vínculo com o PMDB? Não tem. Se há um operador, não é ele”, assegurou.


O advogado ainda afirmou que Fernando Baiano está disposto a participar de uma acareação com Youssef. “Uma coisa é ele conhecer um ou outro (do PMDB), que até deve conhecer, mas ter negócios, ser operador, isso aí é o Youssef falando o que quer. Tem que provar”, finalizou. Ontem, o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), disse que os depoimentos de Baiano mostrarão que ele não era ligado ao PMDB.