Após ouvir relatos de que pelo menos três cidades da Paraíba ficaram sem água na última semana, o governador reeleito do estado, Ricardo Coutinho (PSB), desembarcou em Brasília e se reuniu com a presidente Dilma Rousseff para pedir reforço nas obras da Transposição do Rio São Francisco. Uma das preocupações do governador é que as prisões e os relatórios da última etapa da Operação Lava-Jato, que atingiram grandes empreiteiras do país, algumas atuantes no empreendimento, atrasem o prazo para a conclusão da obra. Em entrevista coletiva, o governador disse que discutiu o tema com a presidente. “Chegamos a comentar exatamente isso (a paralisação de obras devido à operação). Eu expressei meu ponto de vista, que também é o dela, que o governo já vem dizendo: não dá para parar o país”, disse. 

O temor do governo é que as obras sejam suspensas. “Todo esse investimento feito em bilhões de reais pode ficar pela metade, e a água não vai chegar à população”, acrescentou Coutinho. Na avaliação do governador, o prejuízo será maior se as obras forem suspensas. “O país está vivendo em torno de uma única agenda, que é uma agenda regressiva. É como se existisse apenas a Petrobras. O escândalo deve ser tratado pela Polícia Federal e, posteriormente, pelo Poder Judiciário e punir quem por ventura precise ser punido, mas tem que observar que o país precisa ter outra agenda”, enfatizou. Coutinho acrescentou que a presidente quer agilidade nas obras. “Em meados de 2016, a presidente quer que a transposição esteja levando água e viabilizando a segurança hídrica de toda população do semiárido”, pontuou Coutinho. 

Um dos pedidos do governador para dar agilidade à obra é que o governo federal acrescente no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 3) a terceira etapa da transposição, que custa cerca de R$ 200 milhões. Além dessa obra, o governador destacou que pediu atenção da presidente ao Porto de Cabedelo e à expansão do Aeroporto Castro Pinto. No entendimento de Coutinho, o governo federal deve se esforçar para manter os investimentos. 

Congresso
A expectativa do governador é de que o Congresso aprove a mudança na Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO) que retira a meta do superavit. Segundo ele, é essencial que o país mantenha o emprego e a renda circulando. Para isso, ele vai defender que integrantes do PSB, que têm se posicionado como oposição, mobilizem-se. “Essa discussão não é tão mecânica como alguns setores querem colocar. Não é uma queda de braço entre situação e oposição”, definiu.

Coutinho aproveitou para fazer um movimento de aproximação com o governo. De acordo com o pessebista, a legenda precisa oferecer um conjunto de propostas. “O partido não pode negar uma história em função de uma eleição. Tivemos participação na inclusão social, no desenvolvimento da ciência e tecnologia, na integração nacional. O PSB é parceiro desse processo, e eu vou defender isso na reunião do diretório nacional”, emendou. 

Apoio no segundo turno
O governador Ricardo Coutinho foi o único integrante do PSB que ofereceu palanque para a presidente Dilma Rousseff no segundo turno da campanha presidencial. Na época, parte do partido declarou neutralidade, e outra parte — incluindo a presidenciável pessebista, Marina Silva, derrotada no primeiro turno — declarou apoio ao tucano Aécio Neves. Parceiro do governo federal desde o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, iniciado em 2003, o PSB teve papel expressivo na base aliada até setembro de 2013, quando o então governador de Pernambuco, Eduardo Campos – morto em agosto, decidiu concorrer à Presidência.

Impacto desconhecido no setor elétrico
O número dois do Ministério de Minas e Energia, o secretário executivo Marcio Zimmermanm, afirmou ontem que não tem conhecimento do impacto que a Operação Lava-Jato poderá ter nas obras do setor elétrico: “É um processo que não consigo entender bem”. Ele disse que o setor tem uma característica “muito clara”. “A expansão é feita por meio de leilões com preços definidos, e a concessionária que faz uma obra sabe que vai ter que entregar a energia com aquele preço. Então, se tem um custo não programado, na verdade, é uma questão de risco para o negócio dele”, afirmou. Quando questionado sobre a Petrobras, Zimmermann se esquivou. Ele considera que o processo está sendo bem conduzido pelo Judiciário, pelo Ministério Público, pelo governo e pela diretoria da estatal. O secretário ainda revelou que deverá deixar o governo. “Estou cedido só até 31 de dezembro. Depois, volto para a minha empresa, a Eletrosul”, disse. (Celia Perrone)

Intervenção no Velho Chico
Confira detalhes da Transposição do Rio São Francisco

» Orçada inicialmente em R$ 4,8 bilhões, a transposição teve o custo alterado para R$ 8,2 bilhões, com quase R$ 1 bilhão para programas básicos ambientais

» A meta é atender 390 municípios, com cerca de 12 milhões de habitantes

» A extensão das obras é de 477km, em dois eixos de transferência de água — Norte e Leste 

» Balanço do último dia 11 do Ministério da Integração Nacional mostra que 67,5% das obras físicas estão em execução. Todas as etapas estão 100% contratadas 

» Lançado em 2007, o empreendimento tinha previsão inicial de conclusão para 2010. O Ministério da Integração Nacional, no entanto, recalculou o prazo e estima a finalização para 2015, mas autoridades ligadas à obra trabalham com o prazo final em 2016