Em tempos recentes, a facção criminosa denominada Primeiro Comando da Capital tentou coagir o governo paulista a alterar a política carcerária do estado, para que seus integrantes não perdessem as regalias lhes permitiam fazer crescer seus lucros mesmo na cadeia. Atiravam a esmo em pessoas que caminhavam tranquilamente pelas ruas ou conversavam nos bares. Deu errado porque a reação do governo foi dura.

O fato me vem à memória ao ler que senadores incomodados com a Operação Lava Jato, desencadeada pela Polícia Federal e que avança no sentido de revelar comprovadamente que deputados e senadores recebiam propinas para intermediar negócios na Petrobras e em outras empresas e órgãos públicos, prometem rejeitar o nome do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, caso venha a ser indicado para a vaga de Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal.

Tal indicação obedece aos critérios da Constituição e à vontade da presidente da República, que, aliás, nada deixou transparecer sobre suas preferências, mas o veto pretende submetê-la a situação constrangedora em qualquer hipótese, indicando ou não José Eduardo Cardozo.

Pior é a situação de quem vier a ser escolhido, submetido a suspeita injusta de ser do agrado de uma escória que a população espera ver metida no Presídio da Papuda, assim que o juiz Moro considerar esgotado o período de sigilo dos inquéritos, o que parece destinado a aguardar o recebimento formal da denúncia do Ministério Público Federal e a transformação dos indiciados em réus.

Estamos em meio a uma investigação brilhante que levou à colaboração um diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, que seguramente não agia sozinho na máquina do Poder, como indicam os valores roubados ao povo. É elementar supor que transações daquele vulto seriam rejeitadas se não houvesse enorme rede de proteção a ampará-lo.

Em paralelo, ressurge a figura do doleiro Alberto Youssef, velho conhecido da polícia desde o caso Banestado, encarregado de repassar dinheiro para políticos corruptos.

A partir daí, novos depoimentos robustecem as provas já colecionadas.

Aí está o espanto.

A Polícia Federal, que puxou o fio dessa meada, atuou sem que o ministro da Justiça interferisse em favor de quem quer que seja. Daí ter-se tornado a ameaça do bom exemplo, no dizer de Noam Chomsky, culpa que lhe imputam ao vetá-lo.

José Eduardo Cardozo pode ou não ser indicado para o Supremo, é problema da presidente. Pode ser aprovado ou rejeitado pelo Senado, é problema dos senadores.

O que não pode passar em brancas nuvens é a ousadia cada vez maior de ladrões públicos ampliarem o próprio poder, a garantir impunes a apropriação continuada do dinheiro público retirado dos hospitais, escolas e segurança.

Que exibam o cinismo como virtude e maquinem em favor de suas ilegalidades, não surpreende. São criminosos.

Surpresa é não terem entendido que a paciência do povo se esgotou, que o protesto está nas ruas e que a proteção da censura desapareceu.

Miro Teixeira é deputado federal (PROS-RJ)