CURITIBA, SÃO PAULO, RIO e BRASÍLIA

Em nova fase da Operação Lava-Jato, a Polícia Federal prendeu ontem 18 pessoas acusadas de participar de esquema de desvio de dinheiro de obras da Petrobras para pagamento de propina a três partidos (PT, PMDB e PP). Entre os presos está o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, indicado ao cargo pelo ex-ministro José Dirceu. Pela primeira vez no país, uma investigação de corrupção de agentes públicos também levou à prisão presidentes e executivos das maiores empreiteiras nacionais. Entre esses estão José Adelmário Pinheiro Filho, presidente da construtora OAS, Ildefonso Colares Filho, da Queiroz Galvão, e Ricardo Pessoa, da UTC. No início da noite de ontem, nove pessoas ainda eram procuradas, como Dalton dos Santos Avancini, presidente da Camargo Corrêa, e Valdir Carreiro, da Iesa. Foi decretado ainda o bloqueio de bens de 16 pessoas e três empresas ligadas a Duque e Fernando Soares, o Baiano, apontado como operador do PMDB no esquema.

Deflagrada pela PF e pelo Ministério Público Federal em março último, a Operação Lava-Jato havia revelado operações de lavagem de dinheiro e evasão de divisas comandadas por quatro dos maiores doleiros do país. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou movimentações financeiras suspeitas superiores a R$ 10 bilhões. Agora, a Lava-Jato - que ontem utilizou 300policais federais e 50 agentes da Receita - alcançou as empresas, que teriam pagado em propina 3% dos valores dos contratos que obtinham.

Segundo o delegado da Polícia Federal Igor de Paula, já foram identificadas pelo menos 15 empresas participantes do esquema. Juntas, elas fecharam R$ 59 bilhões em contratos com a Petrobras entre 2009 e 2013, período em que foram decididas as mais importantes obras da estatal para expansão da capacidade de refino de petróleo e derivados, como a Refinaria Abreu e Lima (PE), o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e a modernização da Refinaria Presidente Vargas, no Paraná. Documentos e computadores foram apreendidos na Camargo Corrêa, em São Paulo, e na Odebrecht, no Rio.

- É o dia do juízo final - comentou um policial federal, ao avaliar os possíveis efeitos da nova fase da operação.

A operação de ontem, explicou o delegado, envolveu executivos dos grupos empresariais detentores da maioria desses contratos. Entre eles, Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa, Mendes Junior, Queiroz Galvão, Iesa, Engevix, UTC e Construtora Galvão. Em alguns casos, foram incluídas empresas coligadas, como Galvão Engenharia, da Construtora Galvão, Iesa Óleo e Gás, da Iesa, e Constran, do Grupo UTC.

Ao todo foram expedidos 85 mandados, sendo 49 de busca e apreensão. Nem todos os 21 pedidos de prisão temporária e seis de preventiva foram cumpridos, mas o delegado da PF explicou que não havia expectativa de cumprir 100% deles, pois muitos executivos passaram a dormir fora de casa, em hotéis, ou viajaram para outras cidades depois que passaram a ser investigados. Os que não foram localizados e não se apresentarem à PF passam a ser considerados foragidos. Nos aeroportos haverá controle de passaportes, para evitar que deixem o país. Um dos considerados foragidos é Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB no esquema. Nessa condição, também está Eduardo Leite, vice-presidente da Camargo Corrêa. Também teve pedido de prisão decretado Adarico Negromonte Filho, irmão do ex-ministro Mario Negromonte. É acusado de participar da distribuição de propinas.

- Os grupos empresariais alvo desta operação são aqueles dos quais temos maior número de provas, e mais robustas - afirmou o delegado.

O procurador explicou que Duque foi preso porque participou, ao lado de Paulo Roberto Costa, das licitações para as obras das refinarias. Segundo ele, as obras passavam pelas diretorias de Abastecimento e de Serviços. Em depoimento à Justiça Federal, Costa, que assinou acordo de delação premiada e cumpre prisão domiciliar no Rio, afirmou que parte da propina da diretoria de Abastecimento era dividida com o PT e que Duque operava sozinho os contratos da Diretoria de Serviços. Nos dois casos, o percentual era de 3% sobre o valor dos contratos. Entre as pessoas que tiveram mandado de condução coercitiva ontem está Marice Corrêa Lima, cunhada do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, apontado como operador do partido pelo doleiro Alberto Youssef, que dividia com Costa a operação do PP.

- Hoje é um dia republicano. Não há rosto nem bolso. Todos somos iguais, e quem comete algum tipo de ilícito deve ser punido igualmente - disse so procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, referindo-se à prisão de ocupantes de cargos de direção de empreiteiras envolvidos em corrupção na Petrobras. Os presos serão acusados de formação de cartel, fraude em licitações e lavagem de dinheiro.

O delegado Igor de Paula afirma que as empreiteiras envolvidas na operação de ontem fazem parte de um grupo de empresas que prestam serviços ao governo federal, além da Petrobras. Por isso, acredita que a Lava-Jato poderá se estender a outras áreas do governo.

Foram identificados na primeira fase da Lava-Jato depósitos de R$ 18,6 milhões feitos em contas controladas pelo doleiro Alberto Youssef, feitos por Consórcio Mendes Junior MPE, Mendes Jr Trading e Engenharia, Investminas Participações, Consórcio Rnest OC Edificações, liderado pela Engevix, Galvão Engenharia, OAS e Jaraguá Empreendimentos Industriais. Outros R$ 29,2 milhões foram repassados ao esquema por duas empresas do grupo Sanko, que afirmou à Justiça ter feito o repasse a pedido da Camargo Corrêa. No caso da UTC, os pagamentos eram feitos ao doleiro, segundo a PF, em dinheiro vivo.