A Polícia Federal descobriu novos indícios de que o esquema de propinas na Petrobras serviu para alimentar o caixa do PT. Relatório da PF, ao qual O GLOBO teve acesso, aponta que uma das pessoas utilizadas para receber os recursos em nome do partido era Marice Correa Lima, cunhada do tesoureiro da legenda, João Vaccari. Ela é suspeita de ter recebido pelo menos R$ 110 mil do doleiro Alberto Youssef. O recurso teria sido proveniente da Construtora OAS e teria sido entregue na casa dela em 3 de dezembro do ano passado. 

O nome de Marice não é desconhecido das investigações da PF. Ele apareceu durante o escândalo do mensalão. Diz o trecho do relatório da PF: "Marice Correa Lima é figura conhecida na época do mensalão, coordenadora administrativa do PT, que, na época, teria efetuado um pagamento de um milhão, em espécie, à Coteminas. Interessante ainda destacar aqui que Marice de Lima é cunhada do atual tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Observa-se portanto que a mesma continua atuando na movimentação de valores, ao que tudo indica para o Partido dos Trabalhadores, ao qual aparece vinculada", diz um trecho do relatório da PF. Procurados, Vaccari e o PT não quiseram se manifestar. 

Procuradores da força-tarefa da Operação Lava-Jato chegaram a pedir a prisão temporária de Marice, mas o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, considerou a medida desnecessária. Ele expediu mandado de condução coercitiva. Ela foi levada para a sede da superintendência da PF em São Paulo na manhã de ontem para prestar depoimento. Os policiais federais chegaram ao apartamento dela por volta das 5h e levaram seu computador e alguns pen drives. 

No relatório, a Polícia Federal também identificou funcionários da OAS que atuavam em conjunto com o doleiro Alberto Youssef para distribuir dinheiro supostamente proveniente de propinas no esquema da Petrobras. Um desses funcionários é José Ricardo Nogueira Breghirolli. 

"Em um desses contatos, José Ricardo teria solicitado, segundo a representação, uma entrega, em 03/12/2013, aparentemente de R$ 110.000,00, à pessoa de nome Marice", escreveu o juiz Sérgio Moro na ordem de condução coercitiva de Marice. O dinheiro deveria ser entregue num apartamento da rua Doutor Penaforte Mendes, em São Paulo. 

De acordo com o documentos da PF, Breghirolli, que usava uma linha telefônica em nome da Coesa Engenharia, sócia da OAS, trocou diversas mensagens com Youssef e esteve no escritório dele pelo menos em 26 ocasiões entre agosto de 2013 e março de 2014. 

Numa das trocas de mensagens, em 26 de fevereiro deste ano, os dois combinam a entrega de R$ 66 mil em um endereço em Porto Alegre. Já no dia 6 de março, o valor a ser entregue é mais alto: R$ 500 mil, em outro endereço na mesma cidade. O relatório lembra que a OAS foi responsável pela construção da Arena do Grêmio. O documento da PF afirma: "interessante ainda apontar que o endereço de entrega é a residência de Eduardo Antonini, que atuou na construção do Estádio do Grêmio. Assim, há fortes indícios de que a entrega fora destinado ao mesmo". Antonini foi membro do Conselho Deliberativo do clube. 

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Executivo confessa ter pago propina de us$ 8 milhões à estatal

Brasilia

O executivo da Toyo Setal Júlio Camargo, que decidiu fazer acordo de delação premiada, confessou o pagamento de US$ 8 milhões, aproximadamente R$ 20 milhões, para obter contratos de fornecimento de sondas de perfuração para a Petrobras. O suborno teria sido pago para um representante da Diretoria Internacional da Petrobras. De 2004 a 2012, período sob investigação, a Diretoria Internacional foi ocupada por Nestor Cerveró e Jorge Zelada, os dois indicados por políticos da cúpula do PMDB. A propina teria sido paga por intermédio do lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, que está foragido.

O suborno teria passado pelas contas Techinis Engenharia e Consultoria S/C Ltda. e Hawk Eyes Administração de Bens Ltda,empresas de Fernando Baiano. "Júlio Camargo ainda relata, em detalhes, episódio de pagamento de propinas por intermédio de Fernando Soares à Diretoria Internacional da Petrobras, na aquisição de sondas de perfuração pela Petrobras", diz relatório da investigação obtido pelo GLOBO. Os nomes de Cerveró e Zelada têm sido citado desde o início das investigações da Operação Lava-Jato.

Em depoimentos ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef confessaram a existência de um esquema de desvio de dinheiro na área de Abastecimento, controlada pelo PP, do ex-deputado José Janene, já falecido, e disseram que a estrutura de corrupção era replicada também na área Internacional, entre outros setores da estatal. Costa chegou a dizer que até 3% dos valores de alguns contratos da Diretoria Internacional eram desviados e, parte deles, apropriados por Cerveró.

"Mas e o senhor sabe se, por exemplo, o senhor Nestor Cerveró e o senhor Renato Duque eles pessoalmente também recebiam valores?", perguntou Sérgio Moro. "Bom, era conversado dentro da companhia e isso era claro que sim. Sim, a resposta é sim", respondeu Costa. Perguntado sobre o assunto, Youssef disse que o percentual de propina na Diretoria Internacional girava em torno de 1% dos valores de cada contrato fraudado. As informações foram confirmadas e ampliadas pelos executivos da Toyo Setal Júlio Camargo e Augusto Ribeiro.

Camargo confessou o pagamento de US$ 8 milhões e indicou as contas usadas para a transferência do dinheiro. Segundo ele, algumas negociatas teriam sido intermediadas por Fernando Baiano, dada a proximidade dele com Cerveró. "De outro modo, não se obteria a contratação", disse o executivo. Na mesma linha do colega de corporação, Ribeiro disse que já era sabido de antemão que diretores da Petrobras tinham a expectativa de receber 1% do valor de cada contrato. Em vários depoimentos no Congresso Nacional, Cerveró negou que tenha cometido qualquer irregularidade na Petrobras.