Apesar de não ter dado nenhuma indicação de quem será o novo ministro da Fazenda, a presidente Dilma Rousseff garantiu que fará ajustes na economia. Frisou, contudo, que "nem todos os ajustes são pelo lado de cortar a demanda".

- Nós vamos fazer ajustes. Eu não acho que você consegue recuperar uma economia sem ter uma política com foco na demanda. Você não pode achar que, com restrição à demanda, você recupera - disse, referindo-se à política de austeridade aplicada em alguns países, sobretudo, na Europa.

Tanto ela quanto o ministro Guido Mantega, da Fazenda, que a acompanhou na reunião de cúpula das 20 economias mais industrializadas do mundo, o G-20, negaram-se a revelar em que áreas serão feitas os cortes. Dilma admitiu que no Brasil há vários gastos e despesas que não resultam nem em mais investimento nem em aumento de consumo.

- Essas despesas que não levam à ampliação de investimento e consumo são aquelas que nós consideramos que podem ser cortadas. Tem outras despesas que temos que olhar porque são excessivas.

E insistiu que o governo não trabalhará com a restrição da demanda:

- Nós vamos fazer um ajuste, mas nós não defendemos que a melhor política seja a restrição da demanda como forma de sair da crise. Não é. Isso está provado na própria União Europeia.

Diante da necessidade de ajuste fiscal, há especulações no mercado de que o governo aumentaria a Cide, tributo que incide sobre a venda de combustíveis - como forma de aumentar a arrecadação. Dilma desmentiu o rumor.

- Não conheço essa possibilidade. Eu não discuti a criação da Cide com ninguém - garantiu Dilma.

______________________________________________________________________________________________________________________________

Mantega: mais crédito para elevar o consumo

Segundo ministro, não haverá mudança radical de rumo da economia.

 

Deborah Berlinck

 

Brisbane, austrália

O ministro da Fazenda, Guido mantega, assegurou que os ajustes ainda não foram totalmente decididos, mas que serão feitos ainda este ano. E um dos objetivos será elevar o crédito para aumentar o consumo.

- Vamos anunciar no seu devido tempo os cortes que serão feitos. Não está pronto ainda. Está em estudo. O Brasil tem que fazer ajustes. Temos que reduzir a pressão inflacionária, e ela está sendo reduzida. Temos que fazer outros ajustes, como o fiscal, o que há muitos meses eu venho dizendo. Estamos preparando esses ajustes, quando estiverem prontos serão anunciados.

O ministro assegurou que não haverá uma mudança radical de rumo na política econômica do governo. Do lado fiscal, segundo ele, os ajustes vão abrir espaço para "uma política monetária mais flexível":

- O objetivo é caminhar para um superávit fiscal maior em 2015, do tamanho que já foi anunciado na proposta orçamentária que está tramitando no Congresso, em torno de 2% (do PIB) de superávit primário.

Dilma cobra reforma do FMI

Quando um jornalista quis saber, então, se ele não se sentia injustiçado por estar sendo afastado do governo, mantega reagiu:

- Desculpe, mas eu não fui afastado. Eu pedi para sair do governo já há algum tempo. Existem problemas familiares. Cheguei no limite.

mantega atribuiu o baixo crescimento do Brasil ao desempenho das economias ricas:

- O comércio internacional era estimulado pelos países avançados. Então, foram eles que desaceleraram o comércio internacional. Portanto, diminuíram as encomendas feitas para a China.

Dilma cobrou a prometida reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI), que daria mais peso a Brasil e outros emergentes. A reestruturação foi bloqueada pelos Estados Unidos.

- Se não houver saída, ou se não for aprovada esta reforma no âmbito de todos os membros, no caso dos Estados Unidos, nós procuraremos, junto aos ministros da Fazenda do G-20, soluções alternativas.

mantega disse que os Brics - grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - decidiram se organizar para que o novo banco do bloco comece a funcionar a partir de julho de 2015. Serão indicados um conselho de administração provisório e alguns membros da diretoria antes mesmo de ter a aprovação do Congresso para o funcionamento do banco.