Depois de prender ontem o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, a Polícia Federal iniciou uma caçada ao lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, acusado de recolher e distribuir propina amealhada em contratos de empreiteiras com a Petrobras, principalmente com a Diretoria Internacional, área controlada pelo PMDB. Para a Polícia Federal e o Ministério Publico Federal, Fernando Baiano atuava como "operador" do PMDB em parte da estrutura de corrupção montada para atacar os cofres da Petrobras. Só na intermediação de um contrato de venda de sondas de perfuração para a Petrobras, Fernando Baiano recebeu aproximadamente R$ 20 milhões.

Planilhas apreendidas pela PF na Operação Lava-Jato reforçam os indícios de pagamentos em série de propinas a Fernando Baiano a partir da intermediação de negócios da estatal. Num trecho de uma das planilhas o nome de Fernando Baiano aparece associado a valores como R$ 600 mil, R$ 450 mil, R$ 500 mil,conforme relatório da investigação obtido pelo GLOBO. Fernando Baiano é um dos 27 investigados que tiveram a prisão decretada pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba.

No mês passado, um dos investigadores da Lava-Jato disse ao GLOBO que a descoberta do envolvimento de Fernando Baiano com fraudes na Petrobras poderia ter forte reflexos políticos, inclusive na sucessão da presidência da Câmara.

A assessoria de imprensa do vice-presidente da República, Michel Temer, que também é presidente do PMDB, afirmou ontem que o político e a partido não têm "qualquer relação" com Fernando Soares.

O PMDB reafirmou posição adotada em outubro, quando surgiram denúncias contra o partido: "O PMDB repudia de forma categórica as acusações de envolvimento em supostos desvios de recursos da Petrobras. O partido defende a ampla investigação para esclarecimento de todos os fatos", dizia a nota divulgada em 12 de outubro.

Baiano teria feito movimentações expressivas de valores desviados da Petrobras. Ele seria também operador de uma das grandes empreiteiras investigadas na Lava-Jato. Caberia a ele receber e pagar propina a políticos que ajudavam a sustentar a estrutura de corrupção na Petrobras.

As primeiras referências ao suposto envolvimento de Fernando Baiano com fraudes na Petrobras surgiram em depoimentos prestados pelo ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa e pelo doleiro Alberto Youssef. As informações foram ampliadas pelos executivos Augusto Ribeiro de Mendonça e Júlio Camargo, dirigentes da Toyo Setal. Costa, Youssef, Camargo e Ribeiro estão colaborando com as investigações. Camargo confessou que pagou US$ 8 milhões a Fernando Baiano.

Com base nos documentos apreendidos e nas informações dos executivos e do ex-diretor da Petrobras, o Ministério Público Federal pediu e Sérgio Moro decretou a prisão de Fernando Baiano. Os dois executivos da Toyo Setal teriam também reforçado com dados concretos as suspeitas de pagamento de propina a Renato Duque, ex-diretor de Serviços da estatal. Duque teria sido indicado para o cargo pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. "Reputo presente prova suficiente para, nessa fase, acolher o pedido do MPF quanto à decretação da prisão temporária de Renato de Souza Duque e Fernando Antônio Falcão Soares, vulgo Fernando Baiano", escreveu Moro ao deliberar sobre os pedidos de prisão

Fernando Baiano foi intimado mês passado a prestar depoimento à Polícia Federal. Segundo o advogado Mário Filho, responsável pela defesa dele, o lobista estava no Rio e iria atender prontamente o chamado da polícia e do MP. O advogado negou rumores de que Fernando Baiano teria fugido para a Espanha, onde manteria negócios. Ontem, de posse do mandado de prisão, a PF tentou localizar Fernando Baiano em vários endereços, mas não o encontrou. A partir daí, passou a considerar o lobista como foragido.

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Quem tem medo de Fernando Baiano?

Fernando Soares, conhecido como Baiano, é nome de que todos os peemedebistas querem distância. Nove em cada dez integrantes do partido tergiversam quando interrogados sobre o homem que foi apontado por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, como "operador do PMDB" em esquemas de corrupção na estatal. Deputados, senadores e dirigentes juram nunca terem visto, conversado ou se relacionado minimamente com Baiano. Ou dizem não saber se conhecem. No entanto, assim que foi deflagrada a segunda fase da Operação Lava-Jato, ontem, com pedido temporário de prisão do lobista, o pânico se instalou entre peemedebistas. O temor é que uma possível contaminação possa interferir na participação do PMDB no novo governo, ou na disputa das presidências da Câmara e do Senado.

Segundo um integrante da CPMI da Petrobras, as investigações apontam que Baiano "é o Renato Duque do PMDB". A apuração da comissão mostra que ele opera por meio de consultorias sediadas no Rio, em São Paulo e Brasília como forma de "legitimar" o dinheiro recebido das empresas. Uma das consultorias, segundo investigação da CPMI, é de Baiano, mas em nome de um laranja. Por meio dela, é viabilizada a maior parte dos recursos que abasteceriam o PMDB.

Embora neguem relação pessoal com o suposto operador, parlamentares do PMDB contam que Fernando Baiano teve "trânsito livre" durante muito tempo nas lideranças do partido da Câmara e do Senado, mas sempre foi muito discreto, a ponto de não ser facilmente reconhecido. Ontem agentes da Polícia Federal tentaram achá-lo em casas que possui no Rio e em Trancoso, na Bahia.

- Ele é uma sombra, discretíssimo. É difícil até de achar uma foto dele - diz um deputado. Apesar do apelido de Baiano, ele estava radicado no Rio. Viajou para o exterior - alguns dizem que está na Espanha, outros, em Miami - com a recomendação de ficar um tempo fora do país e, por isso, é considerado foragido.