BRASÍLIA

O clima no PMDB era de apreensão, ontem, com a deflagração da sétima fase da Operação Lava-Jato. Assim que a Polícia Federal começou a cumprir os mandados de prisão, parlamentares passaram a trocar mensagens de Whatsapp e telefonemas, preocupados com a extensão dos danos e a forma como o partido acabará atingido. Em São Paulo desde a noite de quinta-feira, o vice Michel Temer, que está no exercício da Presidência por conta de viagem da presidente Dilma à Austrália para reunião do G20, passou o dia em conversas, por telefone, com políticos do partido. Até o fim da tarde, Temer e Dilma não haviam conversado sobre a operação.

A avaliação geral entre os peemedebistas é que a situação deverá se agravar nos próximos dias, porque os empresários que foram presos deverão colaborar com as investigações por pressão das empreiteiras e dos familiares, não tendo mais motivos para represar informações que envolvam os políticos.

"pouco bagrinho, só tubarão"

Ninguém no PMDB esperava pela deflagração da operação, ontem. Dirigentes compararam a atuação da PF a um furacão, afirmando que as consequências são "imprevisíveis".

- Veio como um furacão, estava todo mundo tranquilo - relatou um peemedebista da cúpula. - A diferença do mensalão para a Lava-Jato é que, no mensalão, tinha muito bagrinho e pouco peixe graúdo. Agora, é o contrário. O pânico é que há pouco bagrinho e só tubarão - comparou o parlamentar.

Os caciques do PMDB adotaram o discurso de que as investigações ganharam "pernas próprias" e que, neste momento, o maior prejudicado é o PT, com a prisão de Renato Duque, indicado para uma diretoria da Petrobras pelo ex-ministro José Dirceu. No entanto, integrantes do partido disseram que a situação não é confortável para ninguém e que há medo generalizado com o que virá pela frente nas próximas semanas. Como as empreiteiras envolvidas doaram para as campanhas eleitorais, a questão, segundo integrantes da cúpula, é quem recebeu dinheiro "por fora" e, pior, quem está envolvido no recebimento de propina por participar de esquemas na Petrobras.

- A questão que todo mundo não sabe responder é onde isso vai parar. Todo mundo está preocupado e ansioso com os desdobramentos dessas novas prisões porque, além das investigações, a economia vai mal, e a presidente tem um novo mandato pela frente que nem começou ainda, e já há no horizonte dezenas de abacaxis. O clima geral é de fim do mundo - disse um peemedebista.

O escândalo também acaba afetando as eleições às presidências da Câmara e do Senado, já que o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), é candidato ao comando da Casa a contragosto do Planalto, e já avisou que sua candidatura é "irremovível". No Senado, mesmo sem se apresentar como candidato, Renan Calheiros trabalha para permanecer na presidência nos próximos dois anos. É o não candidato mais candidato ao posto, segundo seus próprios aliados. Como Fernando Soares, o Baiano, está foragido e é apontado como "operador do PMDB" na Petrobras, a cúpula do partido avalia que setores do PT usarão esse fato para atingir as candidaturas e impedir que o partido reedite, no biênio 2015-2016, o comando das duas Casas, hoje com Renan e o deputado Henrique Eduardo Alves (RN).

Além disso, o eventual envolvimento de políticos do PMDB no esquema de recebimento de propina para intermediar obras das grandes empreiteiras com a Petrobras pode atrapalhar as negociações da reforma ministerial.

- Há muita gente que ficará exposta - avaliou um dirigente do partido.

Baiano: no pMDB, ninguém sabe, ninguém viu

Questionado sobre as investigações, Cunha disse que não há preocupação com a nova fase da Operação Lava-Jato e foi enfático ao afirmar que o PMDB não tem um operador. O deputado não entrou em detalhes sobre Fernando Soares, o Baiano:

- O PMDB não tem operador. Se alguém fez qualquer coisa, o fez em caráter individual, e responderá por isso. Não existe operador do PMDB.

O discurso de todos é que o partido não tem ligações com Fernando Soares.

O escândalo acaba trazendo à tona outro problema no partido: a divisão entre as bancadas da Câmara e do Senado e o jogo de empurra-empurra de responsabilidades de quem está mais envolvido. Deputados lembram que a bancada da Câmara sempre foi mais beligerante com o governo e que, nos anos de investigações da Polícia Federal, essa ala do partido era nitidamente de oposição, e ainda resistia a se aliar ao governo Lula. Ou seja, ficava à margem de eventuais negócios obscuros. Nesse grupo, está Temer, que na época, era presidente da Câmara.

Deputados costumam dizer que a influência na Petrobras é maior por parte da cúpula do PMDB do Senado, como o presidente da Casa, Renan Calheiros (AL), e os senadores José Sarney (AP) e Edison Lobão (MA).

No Senado, os peemedebistas usam raciocínio inverso: a influência seria maior entre deputados.

No momento, os discursos de deputados e senadores unificam-se num ponto: todos são cautelosos ao falar sobre a existência de Fernando Soares, se tiveram algum mínimo contato com ele. A declaração geral é que podem ter recebido o lobista, mas que é praxe da função parlamentar participar de reuniões e audiências com desconhecidos.