BRASÍLIA
Apesar da preocupação reinante com os desdobramentos da operação Lava-Jato, da Polícia Federal, e do desgaste da imagem do partido, dirigentes do PT tentaram passar ontem um clima de normalidade, mesmo diante da prisão do ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, e do pedido de prisão de Marice Corrêa de Lima, cunhada do tesoureiro da legenda, João Vaccari Neto. O silêncio sobre o assunto imperou ontem no PT.
O governo também se manteve à margem da nova etapa da explosiva Operação Lava-Jato. Os ministros Aloizio Mercadante, da Casa Civil; e Ricardo Berzoini, de Relações Institucionais, que se movimentaram bastante no Congresso e no Planalto, nos últimos dias, não apareceram para comentar o assunto.
alívio com prisão após eleição
Diante do estrago, integrantes do partido afirmavam ontem que, pelo menos a prisão de Duque, indicado para a diretoria da empresa pelo PT, ocorreu após as eleições, o que já foi considerado um alívio. Os petistas estão agora em compasso de espera, na expectativa do que vem pela frente.
O discurso no partido é que não há motivo para o afastamento de Vaccari, apontado como sendo operador do PT no esquema de desvio de dinheiro de obras da Petrobras. Ele seria o responsável por recolher para o partido a propina paga à diretoria de Serviços, de 3% do valor dos negócios. Ele e o partido negam.
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) disse que é preciso ter "cautela" neste momento. O petista ressaltou que as prisões são temporárias, para a fase de instrução, e que, por isso, é preciso aguardar as investigações e se elas confirmarão ou não as suspeitas iniciais:
- Esse momento requer muita cautela para que não haja prejulgamento. Claro que quem tiver real e efetivo envolvimento terá que pagar por isso. Mas não podemos nos precipitar.
O líder do PT na Câmara, deputado Vicentinho (SP), afirmou que o partido não vai "acobertar" nenhum investigado na Operação Lava Jato. Segundo o petista, a prisão de Renato Duque e de funcionários de grandes empreiteiras mostra que a PF tem "independência":
- Mesmo que ele tenha sido indicado pelo PT para a diretoria, ele não foi indicado para cometer crime. Nós não vamos acobertar erros de ninguém.
Integrantes do PT afirmam ainda que Marice, cunhada de Vaccari, não trabalha mais para o partido. Durante o escândalo do mensalão, ela era coordenadora administrativa do PT, e foi citada pelo então tesoureiro do partido Delúbio Soares, em depoimento à Polícia Federal, como portadora de R$ 1 milhão, proveniente de caixa dois, a ser pago à Coteminas para quitar parte da dívida por camisetas feitas para a campanha de 2004.
Mesmo integrantes da Mensagem, segunda maior corrente interna do PT, que chegou a pregar a "refundação" do partido durante o mensalão, tentaram minimizar ontem a prisão de Renato Duque e o suposto envolvimento da cunhada de Vaccari.
Os petistas se preocupam com a imagem de corrupção que assola o partido, apontada por integrantes da legenda como um dos fatores que prejudicaram o desempenho eleitoral deste ano.
A presidente Dilma cobra provas das acusações feitas pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e pelo doleiro Alberto Yousseff, e afirmado que, se houver comprovação, haverá punição para todos.
Vaccari Neto, nomeado há dez anos para o Conselho de Administração de Itaipu Binacional, somente há duas semanas pediu o afastamento do cargo.
Já a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) pediu, na quinta-feira, ao ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, acesso ao teor das delações premiadas de Costa e Youssef. O doleiro teria afirmado que destinou R$ 1 milhão à campanha dela ao Senado em 2010.
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Dessa vez não sobrará só para a arraia-miúda
De surpreendente, de espantosamente surpreendente, de favoravelmente surpreendente, o país assistiu ontem à prisão de executivos de grandes empreiteiras suspeitos de terem corrompido ou se deixado corromper no escândalo do desvio de mais de R$ 50 bilhões da Petrobras.
Passe os olhos sobre a nomenclatura das empreiteiras: Galvão Engenharia, Mendes Junior, Queiroz Galvão, Iesa/Iesa Oleo e Gás, Engevix, UTC/Constran, OAS, Odebrecht e Camargo Corrêa. O número das investigadas chega a 15, segundo a Polícia Federal (PF). Mas, por ora, só há provas robustas contra nove.
O presidente da UTC/Constran foi preso. Têm prisão temporária decretada presidentes da OAS e da Camargo Corrêa. O vice da Camargo Corrêa fugiu.
Um dia desses, li no jornal "O Estado de S. Paulo" entrevista concedida por Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, indicado pelo PT. Duque jurou que a Petrobras está limpa. Foi preso hoje.
É isso, pelo menos até agora, o que tem de diferente o escândalo que ameaça afogar a Petrobras no mar de lama que corre por lá desde o início do primeiro governo Lula. Ou mesmo desde antes.
Desta vez, tudo indica que não sobrará apenas para a arraia-miúda - embora seja difícil encontrar alguém miúdo quando se fala da Petrobras.
De curioso: o ministro da Justiça ordenou, ontem, que a PF investigue quatro dos seus delegados que postaram elogios a Aécio Neves em endereço fechado no Facebook. São delegados que comandam a devassa na Petrobras.
O que uma coisa tem a ver com a outra? Nada. O ministro quis lançar suspeição sobre os delegados. Foi isso.
Menos de um dia depois, a PF prende e acontece. Registre-se: ela não retaliou o ministro. Apenas cumpriu ordens da Justiça.
De preocupante: como Dilma apressará a montagem do novo governo se, de um momento para outro, a depender da Justiça, a PF poderá fazer e acontecer?
Passa de 40 o número de políticos citados como corruptos por Paulo Roberto Costa e pelo doleiro Alberto Youssef. Dilma não conhece os nomes.
Imagine só ela convidar um político para ministro e descobrir mais adiante que ele será processado pela Justiça. Esse não deve ser o maior temor de Dilma, todavia.
Como fica Graça Foster, nomeada por ela para presidir a Petrobras, e que simplesmente ignorava o que se passava ao seu redor? E como fica a própria Dilma, tão ligada como sempre foi à Petrobras?