Brasília

A oposição quer aproveitar os desdobramentos da sétima etapa da Operação Lava-Jato para ressuscitar a CPI Mista da Petrobras. Na semana passada, o clima na Comissão foi de um acordo para impedir a convocação do ex-diretor de Serviços da Petrobras, que foi preso ontem pela PF. O líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE), admitiu que, até agora, a CP I Mista da Petrobras vinha atuando "a reboque" das investigações da PF, do Ministério Público e da Justiça, mas disse ontem que, a partir das prisões e dos novos fatos, é hora de retomar as apurações no âmbito do Congresso. O primeiro ato da oposição será insistir na convocação de Renato Duque. Para 2015, a oposição quer uma nova CP I para apurar o eventual envolvimento de políticos no esquema.

- A gente acompanhou essa semana o bloqueio do governo, que esvaziou a CP I e manobrou para impedir a convocação dele. Agora, mais do que nunca, ele tem que comparecer e falar. Até agora, e precisamos reconhecer, quem estava no comando das investigações era a Polícia Federal, o Ministério Público e não aCP I. Na verdade, a CP I tem ido a reboque. O governo está fazendo papel de avestruz, botando a cabeça para baixo e ficando com o copo de fora - disse Mendonça Filho.

O líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), disse que o próximo alvo será os políticos apontados como participantes ou beneficiários do esquema na estatal.

- A parte criminal está sendo realizada com eficiência pelo comando da Lava-Jato. Cabe a nós, no Congresso, investigar em uma CP I os políticos e, após a conclusão das investigações, encaminhar os devidos pedidos de cassação de mandato ao Conselho de Ética. A operação da PF desmoraliza a comando da CP MI, que se negou a votar convocação de ex-diretor preso - cobrou Bueno.

O líder da Minoria no Congresso, deputado Ronaldo Caiado (GO), pediu ontem a demissão de toda a diretoria da Petrobras.

- Se Dilma quer provar que não tem envolvimento com esse escândalo da Petrobras, deveria começar demitindo toda a diretoria (da estatal) e destituindo o Conselho da empresa - disse Caiado, para quem o patrimônio da estatal está "virando pó".

Enfático, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) disse que o país vive uma crise política e que as denúncias não podem ser colocadas para "debaixo do tapete". Simon chegou a dizer que, se as eleições fossem agora, talvez a presidente Dilma Rousseff não fosse reeleita.

- Tenho a convicção de que, se pudéssemos votar novamente e se essa eleição fosse feita, em vez do dia em que ocorreu, daqui a um mês, o resultado seria diferente, porque todos esses fatos que já existiam., mas não se dava conhecimento, impediriam a vitória da senhora presidente. A presidente tem dito que pretende que seja feita a apuração de tudo na Petrobras, doa a quem doer. Se essa questão não for muito bem resolvida, vai ser difícil para a nova presidente iniciar mandato com credibilidade, com respeito, o que é necessário para um governo começar a trabalhar. - disse Simon.

O vice-líder do PSOL na Câmara, deputado Chico Alencar (RJ), quer a substituição na CP I de parlamentares que foram financiados pelas empreiteiras investigadas.

- Os partidos que têm representantes na moribunda CP I da Petrobras deviam substituir seus deputados e senadores que tenham sido financiados pelas empreiteiras sob investigação. E, para a inevitável CP I da próxima legislatura, o PSOL cobrará que não se indique ninguém que tenha sido eleito com financiamento do consórcio que "propinou" na Petrobras! - disse Alencar.

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Aécio: acusações não eram 'peça eleitoreira'

 

SÃO PAULO

Em um ato político ontem em São Paulo para agradecer a votação que teve na eleição presidencial, o senador Aécio Neves (PSDB) usou os novos fatos envolvendo a Petrobras - a prisão de mais um ex-dirigente da empresa e o adiamento da divulgação do balanço financeiro - para dizer que a oposição tinha a razão na campanha eleitoral quando alertou para os casos de corrupção na estatal. Aécio acusou o ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardoso, de cercear a ação de delegados da Polícia Federal e disse que o governo quer fazer do país "a casa da mãe Joana" ao tentar alterar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) este ano.

- Hoje, enquanto estamos aqui celebrando uma caminhada honrada, está sendo preso o mais importante diretor da Petrobras indicado pelo PT. E eles diziam que as acusações que fazíamos ou pedido de investigações que buscávamos eram peça eleitoreira - disse o tucano em discurso para lideranças do PSDB paulista, lembrando que este é o maior escândalo de corrupção da História do país.

Em entrevista, antes do pronunciamento, que contou com a presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do governador Geraldo Alckmin, Aécio criticou a decisão do ministro da Justiça de investigar delegados da PF por manifestações políticas:

- Quero manifestar minha incompreensão. Ele quer retirar de uma categoria o direito constitucional da livre manifestação. Fica a impressão de uma tentativa de cercear a ação de delegados na operação (Lava-Jato).

"caras atormentadas"

Sobre o adiamento da divulgação do balanço financeiro da Petrobras, Aécio disse que é mais uma "marca perversa". O tucano voltou a criticar a ação do governo para alterar a LDO e a meta fiscal para 2014.

- O Brasil não pode virar a casa da mãe Joana onde o governo acha que com sua maioria (no Congresso) faz o que bem quer - disse.

No ato político com o PSDB paulista, os discursos foram acompanhados pela plateia com gritos de "Fora PT" e "impeachment". Fernando Henrique fez um dos discursos mais duros, ao dizer que os vitoriosos na eleição estão com "caras atormentadas" nos últimos dias em razão das dificuldades do governo. Ele afirmou ainda que sente vergonha das denúncias na Petrobras:

- Eu tenho vergonha de dizer o que está acontecendo com a Petrobras. A empresa caiu nas garras de partidos desonestos.

Aécio disse que vai visitar outros estados já de olho nas eleições de 2018.