BRASÍLIA

Em 15 de novembro de 2013, feriado da Proclamação da República, o então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, expedia os 12 primeiros mandados de prisão dos condenados no mensalão. Entre eles, figuras importantes como José Dirceu, que chefiou a Casa Civil entre 2003 e 2005, quando foi o mais poderoso dos ministros do governo Lula. Passado um ano, sete dos 24 condenados já estão em prisão domiciliar e passam o feriado em casa, embora tenham que seguir algumas obrigações, como não sair de casa à noite.

Além de Dirceu, apontado como mentor do esquema, já cumprem pena em casa o ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, os ex-deputados Valdemar Costa Neto (PR-SP), Pedro Henry (PP-MT) e Bispo Rodrigues (PL-RJ), e o ex-tesoureiro do PL (atual PR) Jacinto Lamas.

Dirceu está cheio de planos: quer se casar, procura uma casa e vai escrever um livro. E quer voltar às suas assessorias. Quase um ano depois, está parada na seção de São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil a petição que pede a suspensão de sua inscrição na Ordem, por ter sido condenado e preso. Valdemar continua articulando no seu partido, o PR. Deputados da legenda providenciam um almoço para estar com ele.

Dos 12 condenados ao semiaberto, o delator do mensalão, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), é o único a não ter pedido a progressão para o regime aberto. Outros quatro já solicitaram o benefício, o que poderá significar a prisão domiciliar, já que não há vagas suficientes no regime aberto. São eles o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), os ex-deputados Pedro Corrêa (PP-PE) e Romeu Queiroz (PTB-MG), e o advogado Rogério Tolentino. João Paulo tem um obstáculo pela frente: o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, fez parecer opinando que a progressão só pode ocorrer se ele devolver os R$ 536 mil desviados da Câmara, corrigidos, aos cofres públicos. Já o advogado de Corrêa, Marcelo Leal, reclama da demora da Justiça em conceder o benefício. Na prisão, Corrêa fez cursos e trabalhou para reduzir a pena.

- Apesar de respeitar a decisão do STF, continua se entendendo inocente. Do ponto de vista pessoal, é um cara muito forte, que está enfrentando de cabeça erguida - disse Leal.

Pizzolato livre na Itália

O ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, que já foi filiado ao PT, partido pelo qual chegou a concorrer ao governo do Paraná em 1990, foi condenado ao regime fechado. Mas fugiu para Itália, usando um passaporte falso, e está solto. Na Europa, a distância o afastou de amigos, como Alexandre Teixeira, que foi funcionário do Banco do Brasil e dirigente sindical. Teixeira mantém um blog em que, entre outras coisas, tenta mostrar a versão de Pizzolato para o mensalão:

- Não tenho mais contato nenhum. Deixei contato depois que ele foi para a Itália. Continuo sendo amigo dele. Isso daí não resta nenhuma sombra de dúvida.

Quem levou a pior no julgamento do mensalão foram os chamados núcleos operacional e financeiro. Dos oito em regime fechado, sete têm alguma relação com o Banco Rural ou com as empresas de Marcos Valério, a começar pelo próprio. Ele, seus ex-sócios Ramon Hollerbach e Cristiano Paz, sua ex-funcionária Simone Vasconcelos, mais os ex-executivos do Banco Rural Kátia Rabello, José Roberto Salgado e Vinicius Samarane, pegaram pena superior a oito anos. Todos são de Minas e preferiram cumprir pena no estado, exceto dois: Ramon Hollerbach e Cristiano Paz, que preferiram continuar na Papuda, em Brasília. A família de Cristiano continua em Minas, mas o advogado diz que os parentes se revezam para as visitas.

- A Papuda tem boas instalações. Não sabemos ao certo se em Minas as condições oferecidas seriam humanas - explicou Castellar Guimarães Neto.

- Os mandantes já estão soltos, e os publicitários, ainda presos. Vai levar anos para pedir progressão de regime para o meu cliente - disse Hermes Guerrero, advogado de Hollerbach.

Um grupo menor, de quatro condenados, não precisou ficar atrás das grades. O ex-deputado José Borba (PMDB-PR), o ex-tesoureiro informal do PTB Emerson Palmieri e os doleiros Enivaldo Quadrado e Breno Fischberg foram condenados a penas pequenas, inferiores a quatro anos. Por isso, tiveram punição convertida para penas alternativas, como pagamento de multa.