"Marco Maia retira seu nome, e partido busca apoio de outras siglas. O governo Dilma não descarta apoiar alguém de outro partido, se ele tiver mais condições de derrotar o candidato do PMDB"

O GLOBO - ISABEL BRAGA e  FERNANDA KRAKOVICS

BRASÍLIA - Sem um nome de consenso e ciente das dificuldades de enfrentar a disputa com o líder do PMDB, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na disputa pela presidência da Câmara, o PT adiou o anúncio do deputado que indicará para a eleição, em fevereiro de 2015. Deputados do PT dizem que, antes, é preciso unificar a bancada em torno de um nome.

O líder da bancada do PT, Vicentinho (SP), disse que é cedo para decidir e afirmou que o partido vai conversar com as outras siglas da Casa para construir uma candidatura.

— Não vamos colocar o carro na frente dos bois. Respeitamos a candidatura do Eduardo Cunha, mas somos a maior bancada e vamos indicar, no momento oportuno, um candidato — afirmou Vicentinho.

O líder não quis fixar uma data para o anúncio do candidato, mas os petistas acreditam que isso acontecerá em duas semanas. O PT deverá oferecer um nome aos deputados da base aliada.

O governo Dilma não descarta apoiar um nome de fora do partido, caso ele reúna mais apoios para derrotar Cunha. A hipótese também foi levantada por deputados petistas na reunião de ontem da bancada, da qual participaram os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Relações Institucionais).

O principal objetivo do PT é evitar a eleição de Cunha. Para o PT, apesar de ele ser o líder do principal partido aliado, Cunha liderou rebeliões contra votações de interesse do governo e não é confiável.

— Não precisamos ter um presidente que concorde com o governo, mas não podemos ter um presidente que, a priori, sempre se posicione contra o governo e seja movido a paixões — disse a deputada Maria do Rosário (PT-RS).

— Neste momento, temos que buscar temas que nos unifiquem, como a votação da mudança da LDO. Para que vamos nos adequar à agenda dele (Cunha)? Não vamos antecipar um debate que só será decidido em 1º de fevereiro — afirmou Odair Cunha (PT-MG).

Quatro nomes foram citados pelos petistas como possíveis candidatos. O mais forte é o do ex-presidente da Casa Arlindo Chinaglia (PT-SP). Também foram lembrados José Guimarães (CE) e o ex-ministro e prefeito de Belo Horizonte Patrus Ananias (MG). De manhã, Marco Maia (RS), ex-presidente da Casa, mandou uma carta em que retira seu nome da disputa, mas companheiros dizem que ele abre brecha para concorrer, se for nome de consenso na bancada.

— O PT vai construir uma candidatura junto a outras bancadas, jamais vai sair brandindo um nome — disse Chinaglia.

O presidente do PT, Rui Falcão, minimizou a disputa com Cunha:

— É um processo natural, em outros momentos houve disputa pela presidência da Câmara. Não é nervosa, não é tensão. É um processo natural na disputa de espaço.

Na reunião de ontem, Berzoini enfatizou que não poderá haver disputa na bancada, sob o risco de nova derrota, como ocorreu quando Luiz Eduardo Greenhalgh e Virgílio Guimarães lançaram-se candidatos à presidência da Câmara, em 2005, e perderam para Severino Cavalcanti (PP-PE).

A candidatura de Cunha é forte por se tratar de um deputado da base, mas também identificado como alguém capaz de garantir a independência do Legislativo diante do governo Dilma.

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Presidente do PT diz não acreditar que Marta Suplicy deixe o partido
 

BRASÍLIA - O presidente do PT, Rui Falcão, afirmou, nesta quinta-feira, não acreditar que a senadora Marta Suplicy (PT-SP) deixe o partido para disputar a prefeitura de São Paulo. O ex-presidente Lula e a cúpula petista defendem que o natural é o atual prefeito, Fernando Haddad (PT), disputar a reeleição.

— Eu não acredito. A (Luiza) Erundina foi para o PSB, com o apoio do PMDB e o (Michel) Temer de vice, com um bom tempo de TV, e teve 3%. Ela dizia: ´mudei de casa, mas não mudei de rua´. As pessoas respondiam: ´mas mudou de família´”, afirmou o presidente do PT, referindo-se à disputa pela prefeitura de São Paulo em 2004.

Sem condições políticas de permanecer no governo depois de ter apoiado o “volta Lula” e isolada no PT, Marta resolveu se antecipar e formalizou, na última terça-feira, seu pedido de demissão do Ministério da Cultura, no momento em que a presidente Dilma está em viagem no exterior. Em carta entregue na Casa Civil, a petista fez críticas veladas à política econômica, desejou o “resgate da confiança e da credibilidade” do governo e reclamou do orçamento de sua pasta.

No Palácio do Planalto, a data escolhida, a forma e, principalmente, o teor da carta causaram “perplexidade”. Auxiliares da presidente lembraram que Dilma estava em Brasília até o meio da tarde do dia anterior, então a praxe seria a ministra ter antecipado seu pedido de demissão ou esperado a presidente voltar. O gesto de Marta foi interpretado como um passo para sair do PT. Ela já estaria conversando com o PMDB.

Lideranças petistas acreditam que Marta pode deflagrar desde já o processo de disputa interna pela candidatura para a prefeitura de São Paulo, com o objetivo de gerar uma crise que justifique legalmente sua saída do PT. Assim, ela poderia preservar seu mandato, já que, pela regra da fidelidade partidária estabelecida pelo Tribunal Superior Eleitoral, o mandato pertence ao partido, a menos que haja justa causa, como “grave discriminação pessoal”.