Em mais um capítulo que enredou a principal estatal brasileira em um imenso esquema de corrupção, a Petrobras anunciou ontem a decisão de adiar a divulgação do balanço do terceiro trimestre deste ano, previsto para ser anunciado hoje, durante reunião do Conselho de Administração da estatal. O adiamento foi motivado pela auditoria nas contas da Petrobras feita pela PriceWaterHouseCoopers (PxC). A empresa americana pediu para analisar os relatórios das três comissões internas que apuram os indícios de irregularidades na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, e nas obras do Comperj, no Rio, e da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco. Para conseguir o aval da PwC, a Petrobras já havia anunciado a licença do diretor da Transpetro, Sérgio Machado.

A estatal admitiu que as demonstrações contábeis da empresa poderão sofrer alterações decorrentes das investigações feitas pela Operação Lava-Jato, que apurou um esquema de corrupção na ordem de R$ 10 bilhões. Diz ainda que avaliará a necessidade de melhorias nos controles internos. A Companhia, em nota, afirma que “não está pronta para divulgar as demonstrações contábeis referentes ao terceiro trimestre de 2014 nesta data”. 

A nova divulgação poderá ocorrer apenas no mês que vem, segundo o comunicado oficial da Petrobras, mais precisamente em 12 de dezembro. Mesmo assim, a empresa declarou que está empenhada em divulgar os dados o mais breve possível. “Tão logo haja uma definição sobre a data da conclusão dos trabalhos a Companhia comunicará ao mercado, com antecedência mínima de 15 dias, a data para a sua divulgação”, afirmou a nota oficial da empresa.

Em outra linha de investigação, a Controladoria-Geral da União (CGU) investiga as denúncias de corrupção na Petrobras. São cerca de 20 o número de ex-diretores, funcionários e ex-funcionários da Petrobras suspeitos de terem participação no esquema de propinas pagas pela empresa SBM Offshore, fornecedora holandesa de navios. Como mostrou o Correio ontem, seis já respondem a processo administrativo punitivo na Controladoria-Geral da União (CGU) e os demais estão em processo de sindicância. O órgão afirmou que nenhum diretor atual da Petrobras responde a sindicância ou a processo administrativo.

A CGU quer que a SBM informe o nome dos destinatários da propina. A controladoria não revela os nomes, mas suspeitas foram levantadas contra os ex-diretores de Internacional Jorge Zelada e de Serviços Renato Duque. Os dois teriam sido convidados por Faerman, suposto intermediário das comissões, para uma excursão na Argentina. Senhas de Zelada ainda teriam sido vinculadas a documentos sigilosos da Petrobras encontrados com executivos da SBM. Ambos negam as acusações.

A controladoria tentou conseguir mais informações no Ministério Público holandês, mas não teve sucesso — o órgão não é judicial. Por sua vez, a Procuradoria da República no Rio de Janeiro já solicitou a documentação. O Ministério Público abriu investigação criminal para apurar os pagamentos de propina, admitidos pela SBM em acordo com a Procuradoria na Holanda. Pelo acerto, os holandeses pagarão US$ 240 milhões em multas, divididos em três parcelas.

No Rio, os procuradores avaliam a possível ocorrência de irregularidades como desvio de dinheiro, concussão, gestão fraudulenta ou temerária, improbidade administrativa, enriquecimento ilícito, dano ao erário e ilícitos contra acionistas. Segundo a denúncia confirmada pelas autoridades da Holanda, o representante da SBM no Brasil, Júlio Faerman, recebeu US$ 139 milhões em comissões usadas para pagar subornos na Petrobras. Procurada desde anteontem, a empresa não prestou nenhum esclarecimento ao Correio, que também não localizou Faerman.