O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, determinou ontem que a Polícia Federal abra investigação sobre o uso de redes sociais por delegados envolvidos na Operação Lava-Jato para atacar o PT e defender o voto em Aécio Neves (PSDB) durante as eleições presidenciais. Cardozo justificou a mordaça por não ser “admissível a partidarização das investigações”. Entre os alvos da Lava-Jato, está o suposto pagamento de propina a políticos do PT por construtoras com contratos na Petrobras. A ordem do petista causou mal-estar entre os delegados da PF, que já se irritaram com o ministro em outras situações (veja quadro).

“Devemos ter uma peça para verificar a conduta que foi adotada no caso. Se a conduta legal foi respeitada, se não houve crença do delegado passada para a investigação, se a investigação não foi partidarizada, não há, obviamente, o que se falar. Caso contrário, medidas têm que ser tomadas para que a investigação tenha seu curso legal”, disse Cardozo, ao detalhar prazos para a apuração. O ministro disse que todos têm direito à liberdade de “manifestação”, mas quem “preside uma investigação deve agir com imparcialidade”.

Reportagem do jornal O Estado de S.Paulo mostrou ontem que delegados ligados à Lava-Jato demonstraram as preferências partidárias em perfis fechados — aos quais só amigos têm acesso — em uma rede social. Em uma das postagens, feitas durante a campanha presidencial deste ano, um delegado diz que Aécio “é o cara”. Outro delegado divulga reportagem em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva compara o PT a Jesus Cristo. “Alguém segura essa anta, por favor”, comentou o profissional sobre a notícia.

A Operação Lava-Jato foi uma das maiores fontes de desgaste para a presidente Dilma Rousseff durante a campanha à reeleição. No início de setembro, a revista Veja publicou reportagem com a informação de que o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa citou aliados de Dilma como integrantes do esquema de corrupção na empresa. Na lista, havia, entre outros, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Em outubro, Costa disse à Justiça Federal que políticos do PT, PMDB e PP recebiam propina de construtoras com contrato na Petrobras.

As acusações de Costa fazem parte de um acordo de delação premiada. Para garantir os benefícios previstos, como a redução de uma eventual condenação, as denúncias precisam ser confirmadas por investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. Durante a campanha eleitoral, petistas, como a própria presidente Dilma, acusaram os responsáveis pelas apurações de vazar informações de maneira seletiva e irresponsável.

Perfis violados
O presidente da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal, Marcos Leôncio Ribeiro, diz que a entidade está apurando se as mensagens partiram de perfis verdadeiros. “A princípio, parece que os delegados é que foram vítimas de uma violência. Tiveram perfis fechados violados. Eles não quebraram nenhum sigilo funcional. Só expressaram convicções pessoais. Se não há comprometimento na investigação, não há problema. Estamos apurando também a quem esse vazamento das postagens dos delegados interessa. Pode ter partido de pessoas que não querem uma apuração séria da Lava-Jato, já que é uma maneira de desqualificar esses delegados.”

Procuradores da República no Paraná, que fazem parte da força-tarefa para apurar a Lava-Jato, publicaram ontem nota de apoio aos delegados em que “reiteram a confiança e o apoio aos delegados, agentes e peritos da Polícia Federal que trabalham nessa operação”. “Em nosso país, expressar opinião privada, mesmo que em forma de gracejos, sobre assuntos políticos, é constitucionalmente permitido, em nada afetando o conteúdo e a lisura dos procedimentos processuais em andamento”, diz a nota.

Para os procuradores, “a exploração pública desses comentários carece de qualquer sentido, pois o objetivo de todos os envolvidos nessa operação é apenas o interesse público da persecução penal e o interesse em ver reparado o dano causado ao patrimônio nacional, independentemente de qualquer coloração político-partidária”.

Tropa desafinada
Confira as rusgas recentes entre integrantes da Polícia Federal e o governo

Polícia Federal abre investigação na Operação Porto Seguro e investiga a ex-secretária do gabinete da Presidência da República em São Paulo. José Eduardo Cardozo não avisa o Executivo Federal, gerando atrito com o governo e com o ex-presidente Lula.

Policiais federais fazem sucessivas greves pedindo aumento salarial.

Ministro José Eduardo Cardozo dá entrevistas dizendo que, caso agentes da PF façam greve, o Exército cuidará da segurança na Copa do Mundo.

Delações premiadas da Operação Lava-Jato, especialmente do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef, começam a vazar para a mídia, sem que o governo tenha acesso aos dados.