Governo novo, novela mais do que antiga. Há quase um ano, a presidente Dilma Rousseff impacientou aliados em uma reforma ministerial arrastada, que alçou candidatos à Esplanada com a mesma velocidade que os cogitados despencavam em queda livre nos conceitos. Doze meses depois — com uma eleição presidencial no meio e um espólio de 54 milhões de votos na algibeira — Dilma repete a cantilena e não define quem serão os ministros do segundo mandato.

A presidente deve anunciar o novo titular da Fazenda quando retornar da viagem do G20, na Austrália. A bolsa de apostas do novo ministro tem nomes de peso, mas nenhum favorito. Cotado, o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, disse a interlocutores que prefere permanecer na instituição.

As especulações em torno do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles começaram a mexer com o mercado. Na quarta-feira, as ações oscilaram com o boato de que ele teria recusado ser ministro. Meirelles conversou com jornalistas especializados negando que tenha recusado qualquer convite — simplesmente porque este não tinha sido feito. Outro nome lembrado para a vaga, o ex-secretário executivo da Fazenda Nelson Barbosa desconversou. “Não fui convidado ou sondado para nenhum cargo. Continuo na área de ensino e pesquisa da EESP-FGV e do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia). Portanto, não posso falar sobre algo que não existe”, completou.

Entre os partidos aliados, a disputa por um espaço na Esplanada também é grande. PR, Pros, PP e PSD disputam pastas pujantes, como os ministérios da Educação, Cidades, Transportes e Desenvolvimento, Indústria e Comércio. A demora na escolha, inclusive, favorece a movimentação do PMDB, que pretende presidir as duas Casas do Congresso.

O episódio das cartas de demissão dos ministros também gerou constrangimento e a explosão de uma guerra surda de vaidades no primeiro escalão do governo. “A presidente Dilma odeia duas coisas: faca no pescoço para pressioná-la a tomar uma decisão e vazamento de nomes que entram ou saem. A ideia de Mercadante (Aloizio Mercadante, Casa Civil) envolveu tudo isso”, queixou-se um aliado da presidente.

Um dos coautores da proposta, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, saiu em defesa da ideia. E nega outra reclamação que circula como rastilho de pólvora nos corredores do poder: que o movimento de Mercadante antecipou a carta de demissão de Marta Suplicy (Cultura). “(A carta da Marta) não (influenciou a antecipação da entrega dos outros ministros). Isso já vinha de algum tempo, alguns ministros, eu, o ministro (Aloizio) Mercadante, a ministra Míriam (Belchior), tínhamos conversado que seria natural, quem quisesse colocasse o cargo à disposição como um gesto de cada um de nós para mostrar que cabe a ela (presidente Dilma) escolher, da melhor forma, a futura equipe”, minimizou Cardozo. “Agora, quem quiser que faça, os cargos são providos por ela mesmo é apenas um gesto simbólico, como uma referência de que estamos dentro do projeto independentemente de estarmos no governo”, acrescentou.

O secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, por exemplo, não entregará carta nenhuma, mas já avisou que está cansado depois de 12 anos no governo e pretende deixar o primeiro escalão federal. Especula-se que ele possa ir para uma secretaria coadjuvante, mas a principal aposta é de que ele assumirá um cargo no Instituto Lula. A exemplo de Marta Suplicy, que fez duros ataques à política econômica, Carvalho afirmou que faltava diálogo ao atual governo, em entrevista à BBC Brasil.

A assessoria negou que ele tenha discutido rispidamente com a presidente antes da viagem dela à Austrália e que já tenha sido demitido. Mas reiterou que ele permanecerá até 31 de dezembro. Dentro do governo, as críticas de Marta e Gilberto são encaradas de maneira distinta. A primeira é conhecida por seus arroubos e tentativas de voo-solo no universo petista. O segundo, apenas por ser sincero demais.

“Gilberto Carvalho tem feito críticas desde as manifestações de junho de 2013. O erro dele, talvez, seja ter explicitado publicamente isso, em vez de debater internamente no governo para fazer valer sua posição”, ponderou um aliado governista. “Marta não, ela agiu de maneira calculada. E aproveitou a ideia de Mercadante, com quem jamais se deu bem”, acrescentou outro interlocutor do Planalto.

Mudança de cargo
Outro que deve continuar na Esplanada, mas que pode mudar de endereço, é o titular da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Ricardo Berzoini. A exemplo de Carvalho, ele acha desnecessário entregar uma carta de demissão, já que “o cargo naturalmente é da presidente”. Berzoini tem sido elogiado na tarefa de lidar com o Congresso, especialmente o líder do PMDB e postulante à presidência da Câmara, Eduardo Cunha (RJ). Mas pode respirar novos ares a partir de janeiro — ou após a eleição para as Mesas Diretoras do Congresso.

Fontes governistas não descartam que Berzoini assuma o Ministério das Comunicações para conduzir uma missão cara ao PT: destravar o projeto de regulação da mídia. Ontem, informações extraoficiais, não confirmadas, mas tampouco desmentidas, circularam dizendo que poderia ser transferido da Secretaria de Comunicação da Presidência para o Ministério das Comunicações o controle das verbas de publicidade do governo, aumentando o cacife da pasta.

“Não fui convidado ou sondado para nenhum cargo. Continuo na área de ensino e pesquisa da EESP-FGV e do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia). Portanto, não posso falar sobre algo que não existe” 
Nelson Barbosa, ex-secretário-executivo da Fazenda