Uma auditoria interna da Petrobras defende punições a uma lista de pessoas envolvidas com a compra da refinaria de Pasadena (EUA), na qual os prejuízos somaram ao menos US$ 530 milhões (R$ 1,3 bilhão). A informação foi prestada ontem pelo conselheiro da estatal Sérgio Quintella. A apuração analisou irregularidades na compra da refinaria, negócio que custou mais de US$ 1 bilhão e causou prejuízos, admitidos pela própria empresa.

Representante do governo no conselho, Quintella não informou a quantidade de suspeitos de envolvimento no mau negócio, nomes e ilícitos cometidos. “É uma lista”, afirmou ao deixar evento da Fundação Getulio Vargas, no Rio de Janeiro. “Se é grande ou não, não vou dizer.” Quintella confirmou que o relatório foi apresentado ao conselho e aprovado. Entretanto, a assessoria de Petrobras afirmou que a documentação ainda não chegou às mãos dos conselheiros.

Quintella não explicou se a auditoria pede punições apenas a ex-funcionários ou a atuais colaboradores da Petrobras. A compra da refinaria de Pasadena aconteceu em 2006 e foi concluída em 2012, após uma divergência entre a estatal e a antiga sócia, a petroleira belga Astra Oil.

O conselheiro afirmou que até o dia 12 serão apresentadas ao conselho auditorias sobre os problemas nas obras da Refinaria de Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, onde o Tribunal de Contas da União (TCU) enxerga superfaturamento, e no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em que US$ 7,6 bilhões foram contratados sem licitação. As duas obras são alvo do cartel de empreiteiras que, segundo delatores da Operação Lava-Jato, adicionava 3% no custo dos projetos para bancar propinas para políticos e os partidos PT, PMDB e PP. “Além da Rnest e do Comperj, outros relatórios serão apresentados. Entretanto, esses são os que mais chamam a atenção”, completou Quintella.

Depoimento
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa prestará depoimento hoje ao Ministério Público do Rio de Janeiro. A promotora Gláucia Santana vai ouvi-lo em casa, no Leblon, para que ele esclareça as relações com o presidente licenciado da Transpetro, o ex-senador Sérgio Machado (PMDB-CE) e a suspeita de irregularidades em uma obra. O Ministério Público apura se Machado teve evolução patrimonial incompatível com a renda e se houve superfaturamento em uma obra tocada pela Andrade Gutierrez.

Em depoimento à 13ª Vara Federal de Curitiba, Paulo Roberto disse que foi ao apartamento de Machado no Rio, em 2009 ou 2010. Lá, recebeu dele cerca de R$ 500 mil em propina por ter ajudado a fechar a contratação de “alguns navios”. Machado nega. O Ministério Público fluminense avalia a evolução patrimonial do ex-senador ligado ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). À Receita Federal, o presidente licenciado da Transpetro informou que o patrimônio caiu entre 2000 e 2001, de R$ 1,3 milhão para R$ 1 milhão (ou R$ 2,5 milhões em valores atualizados).

Na segunda investigação, o objetivo é saber se a Andrade Gutierrez participou de superfaturamento no Centro de Pesquisas da petroleira (Cenpes), no Rio. O projeto teve os custos elevados de R$ 1 bilhão para R$ 2,5 bilhões. Os contratos tocados pela Andrade Gutierrez chegam a R$ 154 milhões. A empreiteira nega irregularidades.


Dinheiro bloqueado
O juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, informou ontem aos bancos que os bloqueios judiciais determinados por ele se limitam aos valores das contas-correntes, poupança e investimentos. De acordo com ele, a ordem não deve afetar os planos de previdência ou investimentos de outra natureza dos suspeitos. Moro também autorizou a defesa de Shinko Nakandakari — que, segundo a Galvão Engenharia, recebeu R$ 8,8 milhões em propina em nome do ex-diretor de Serviços Renato Duque — a obter cópias da investigação.

 

Sanko pagava Youssef "dentro da lei"

 

Em um depoimento repleto de imprecisões à CPI mista da Petrobras, o sócio da importadora Sanko-Sider Márcio Bonilho admitiu ontem que manteve negócios com Alberto Youssef mesmo sabendo das atividades dele como doleiro. O executivo negou, contudo, que tenha pago propina a agentes públicos, conforme denunciou a Operação Lava-Jato da Polícia Federal. Bonilho afirmou que pagava comissões a Youssef para intermediar negócios com construtoras que mantinham contratos com a estatal. Ao longo do relato, entretanto, o depoente apresentou diferentes valores de pagamentos feitos ao doleiro. No início, o executivo afirmou ter dado R$ 33 milhões a Youssef. Depois, elevou a quantia para R$ 37 milhões.

Bonilho contou ter sido apresentado a Youssef, que seria um empresário do ramo de turismo com “bom tráfego com as construtoras”. “O senhor contratou um doleiro famoso no Brasil para ser seu vendedor. Como nunca soube o que ele fazia?”, questionou deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS). “Leio revista de negócios, não leio jornais policiais. Não entrei no Google para checar nome. Passados alguns meses, um amigo me perguntou se eu sabia quem era Youssef”, justificou. Ao se consultar com advogados, o executivo foi orientado a fazer os pagamentos legalmente, registrando em notas fiscais. Com isso, não correria riscos de estar envolvido em irregularidades.

A Sanko foi contratada para fornecer tubos e dutos de grande porte a empreiteiras que formaram um cartel para atuar em licitações da Petrobras, segundo investigações da PF. Bonilho contou ter firmado, aproximadamente, 12 negócios com Youssef. A cada contrato fechado, segundo o empresário, a Sanko pagava uma comissão ao doleiro. Bonilho admitiu que depositou os valores em contas das empresas de fachada do doleiro, como MO e GFD. “Eu autorizei que ele (Youssef) cedesse os créditos dele para outras empresas e eu efetuava o pagamento diretamente a outras empresas”, explicou.

A Sanko Sider e a Sanko Serviços são algumas das empresas acusadas pelo Ministério Público Federal de lavar dinheiro que seria utilizado para o pagamento de propinas em contratos da Petrobras por meio das empresas do doleiro Alberto Youssef, personagem-chave da Lava-Jato. As duas empresas do grupo receberam ao menos R$ 150 milhões do Consórcio Nacional Camargo Corrêa na construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Bonilho é réu no processo e já foi ouvido tanto pela Justiça quanto pela PF.