A 15 dias da entrega do relatório final, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) ouviu na quarta-feira em depoimento o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, 83 anos. Ele falou em sua residência em São Paulo. O relato só foi divulgado no fimda tarde de ontem. Durante o regime militar (1964-1985), ele viveu exilado por quatro anos, depois de sua prisão ter sido decretada pela Justiça Militar, em 1964. O ex-presidente também lembrou de quando foi levado ao Doi-Codi para prestar depoimento. Disse que chegou a ser encapuzado. 

Ao retornar ao Brasil em 1968, Fernando Henrique foi aprovado no concurso para a cátedra de sociologia da Universidade de São Paulo (USP) e viu as liberdades individuais e a oposição ao regime mais ameaçadas ainda pelo Ato Institucional número 5. Dias depois, estava dirigindo quando ouviu no rádio que ele e muitos outros professores, como Florestan Fernandes, haviam sido cassados e estavam compulsoriamente aposentados. Quando foi buscar seu contracheque, a funcionária da USP se surpreendeu e perguntou: “Como se faz pra se aposentar tão jovem?”. FHC respondeu com bom humor: “Não é tão fácil assim”.

O ex-presidente tratou ainda de sua atuação no Centro Brasileiro de Análise de Planejamento (Cebrap), que se tornou reduto de intelectuais contrários ao regime. A respeito do tempo que passou fora do Brasil, FHC disse: “O exílio é estranho. Estão ali te servindo caviar, mas é um caviar amargo. Isso é o exílio. Você vive o tempo todo na expectativa da volta.”