Ainda abatido com a morte de Eduardo Campos em um desastre aéreo em agosto e com o desembarque de Marina Silva e filiados da Rede da legenda que os abrigou durante a campanha presidencial, o PSB reúne-se hoje para juntar os cacos, definir pela independência e decidir para onde vai a legenda que sonhava ser grande e que terá de recomeçar a sua caminhada. A Executiva socialista, que vai se reunir hoje em Brasília, tentará resolver todos esses dilemas.

“Seremos oposição, mas não a oposição por oposição. Nos assuntos programáticos — alguns detestam essa expressão, por remeter a Marina Silva — defendidos pelo PSB, caso o governo caminhe nessa direção, votaremos a favor”, garantiu o deputado Júlio Delgado (PSB-MG). Entre essas questões programáticas, por exemplo, estão a Educação Integral, os 10% do PIB para a Saúde e a reforma política com o fim da reeleição e mandato de cinco anos”, enumerou ele. 

Os socialistas terão, no entanto, de equilibrar as pressões internas. O ex-presidente Roberto Amaral pulou do barco para apoiar Dilma Rousseff. Há uma semana, o governador reeleito da Paraíba, Ricardo Coutinho, visitou Dilma no Palácio do Planalto. O senador eleito de Pernambuco, Fernando Bezerra Coelho, é presença constante em Brasília e tentar distensionar as relações com o governo federal. Além disso, o governador eleito de Pernambuco, Paulo Câmara, tem demonstrado receio pela perda de seu mentor e padrinho político, Eduardo Campos. 

O governo eleito do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, acha que a legenda terá de ter sabedoria e demonstrar muita unidade nesse momento que se avizinha. “Não temos mais o nosso grande líder que unificava a legenda. Mas temos um grupo de políticos que tem história no partido e que serão capazes de conduzir esse processo”, apostou Rollemberg. “Vamos ter que fazer uma grande reflexão para os próximos anos”, completou ele. 

A tarefa não será fácil. O PSB cresceu como partido ao longo dos últimos anos, mas a tarefa era conduzida por Eduardo Campos. O histórico de alianças sempre empurrou os socialistas, pelo menos no plano federal, para o lado do PT. De 1989, na primeira disputa presidencial após a redemocratização, até este ano, apenas em três momentos eles não tiveram oficialmente juntos. 

Separações
Em 2002, o PSB lançou Anthony Garotinho para o Planalto, mas, menos de uma semana após o início do segundo turno, declararam apoio a Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2006, por conta da cláusula de barreira, que obrigava a repetição nos estados da mesma coligação formada no plano federal, os pessebistas optaram por uma aliança branca.

Em 2014, veio o rompimento, com o lançamento da candidatura de Eduardo Campos. Mesmo assim, o desembarque do governo federal deu-se em setembro de 2013, praticamente um ano antes da disputa presidencial. “O PSB nunca foi oposição raivosa. Sempre nos apresentamos como uma alternativa ao que está aí”, completou Rollemberg. “Não há como negar que foi uma campanha doída para nós. Perdemos Eduardo, não tivemos êxito com Marina Silva. No segundo turno, fizemos uma opção por Aécio e não tivemos êxito. Agora, precisamos redefinir nossos rumos, mas sem cargos no governo federal”, definiu.

O atual presidente do PSB, Carlos Siqueira — que teve uma briga acirrada com Marina Silva dias após a morte de Eduardo Campos — tentou equilibrar todas as tendências do PSB em busca da necessária unidade. Antes do encontro de hoje da Executiva, ele se reuniu com as bancadas atuais e eleitas da Câmara e do Senado, com os governadores do partido que venceram os pleitos e com os presidentes dos diretórios estaduais. Tudo para buscar um consenso na decisão. Siqueira lembra que, sem o pernambucano, a liderança partidária será pulverizada em diversos nomes. “Temos um grupo de socialistas, com idades entre 40 e 54 anos, em condições de comandar esse processo a médio prazo.” 

Os socialistas acham injusto afirmar que o processo de crescimento do partido que elegeu seis governadores em 2010 e 443 prefeitos em 2012, dos quais cinco para comandar capitais brasileiras, venha a sofrer um revés daqui para frente. “Elegemos o governador do Distrito Federal e o vice-governador de São Paulo (Márcio França), seis senadores e 35 deputados. Fomos bem”, disse Júlio Delgado.