A Polícia Civil brasiliense identifica 27 integrantes da facção criminosa em ação na capital e no Entorno. A maioria está presa, e a intenção dos investigadores é convencer a Justiça a transferi-los para presídios de segurança máxima
A maior facção criminosa do Brasil se infiltrou em Brasília. Por meio do controle de pontos de tráfico de drogas e de grandes roubos, o Primeiro Comando da Capital (PCC) se fortaleceu em presídios do Entorno e nas cidades mais pobres do Distrito Federal. Discreto, o grupo se estruturou, criou escalas de hierarquia e conta com 27 integrantes "batizados". Da Penitenciária de Presidente Vensceslau, em São Paulo, o principal líder do bando, o Marcola, determinava o recrutamento do máximo de "soldados" para compor a célula no PCC no centro do país.
O plano da facção paulista de dominar a capital do país, porém, sofreu um revés na manhã de ontem. Numa megaoperação intitulada Tabuleiro, a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco), da Polícia Civil do DF, cumpriu 14 mandados de prisão em seis presídios, quatro no Entorno (Luziânia, Águas Lindas, Novo Gama e Valparaíso), um em São Paulo e um no Ceará. A Polícia Civil de Goiás apoiou a ação. Um homem foi preso em casa, em Valparaíso.

O principal objetivo de mirar bandidos já atrás das grades é convencer a Justiça sobre a necessidade de transferi-los para estabelecimentos federais de segurança máxima ou mantê-los em regime disciplinar diferenciado, onde o contato com a massa carcerária fica restrito. Alguns estavam próximos de serem agraciados com a progressão de regime e o consequente benefício de cumprir o restante da pena em liberdade, mas, com a Operação Tabuleiro, eles perderão tais prerrogativas.

A apuração da Deco descobriu que três suspeitos exerciam a função de chefia do PCC no DF e no Entorno. São eles: José Humberto da Silva, o Trovão; Pedro Antônio da Silva, o Jovem; e Rafael Nogueira Moraes, o Ramirez (veja O PCC no DF). O primeiro se encontra em uma cadeia de Fortaleza (CE), e os dois últimos em penitenciárias paulistas. No vocabulário da facção, o trio é chamado de "Geral do Estado". Além de seduzir jovens para entrar no mundo do crime, eles mantinham contato com líderes de outras unidades da Federação e de países como Peru, Paraguai e Bolívia.

Mensalidade

Mesmo a distância, o trio orientava os passos da célula do PCC em Brasília e nos municípios goianos situados à sua volta. Para fortalecer o tentáculo da facção em solo candango, os gerentes cobravam de todos os membros uma espécie de imposto chamado "cebola". Os soldados do PCC ainda eram obrigados a comprar rifas. Ou seja, para se manter no grupo, cada integrante fora da cadeia desembolsava cerca de R$ 700 por mês. Para arcar com a taxa, mantinham uma rotina de assaltos e furtos. O roubo de veículos era uma das principais fontes de arrecadação.

O dinheiro das mensalidades era depositado em 10 contas de laranjas, normalmente abertas em nome de parentes ou de amigos dos líderes regionais. Para o delegado adjunto da Deco, Fernando Cocito, a operação frustrou as pretensões da organização criminosa. "O PCC no DF já era uma realidade, e entendemos que deveríamos agir agora, evitando que esse câncer se espalhe pelas nossas cidades. E o nosso recado é que estaremos atentos a qualquer tentativa de reorganização deles no nosso território", afirmou Cocito.